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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Amor à Vida

"Messi nasceu em Rosário, Argentina"

Curiosidade quase inútil que descobri quando cheguei lá e que resolvi te contar. 


Praia de rio e não de mar.

Como já fui a Argentina um bom número de vezes, da última resolvi que não ficaria só em Buenos Aires. Amo a Argentina - a língua, a comida, as pessoas. A ideia foi boa, mas errei ao ficar apenas um dia em Rosário. Ela merece ao menos dois e o principal motivo é o Parque de las colectividades, mas depois eu falo dele.

La Florida é a “praia” deles. Muita gente veleja, nada e se bronzeia no Rio Paraná. Fui até lá de ônibus, desci, mas foi desnecessário, já que eu não pretendia nadar nem caminhar por ali. Achei que o cartão de transporte SUBE que eu tinha usado em BUA também servisse nos ônibus de Rosário, mas não serve e eles não aceitam dinheiro. Daí o motorista fez uma sugestão: que eu deveria pedir à próxima pessoa que entrasse no ônibus para pagar a minha passagem com seu cartão e eu daria o valor em dinheiro à pessoa. Funcionou.

Edifício histórico no Calçadão Córdoba.


Na volta, o ônibus segue quase todo o tempo pela orla do rio, e eu desci em frente ao Monumento à Bandeira, onde um fogo queima sem cessar, em homenagem à nação argentina. Atravessei uma faixa de pedestre pintada nas cores da bandeira, e passei por praças (claro que uma delas se chamava Plaza de Mayo), entrei em igrejas, parei pra comer, observei artistas de rua na Peatonal Córdoba, uma caminhada bem descompromissada num lugar onde eu só passaria um dia e uma noite.

Monumento à bandeira.

Chama eterna.


À noite, me sugeriram caminhar na região de Pichincha, mas eu seria mais específico e diria que a única avenida que achei legal nesse bairro foi a Oroño, larga, movimentada e bonita. Percebi que a pessoa tinha errado mesmo na recomendação depois que eu cheguei ao Parque e vi as mais diversas tribos ali reunidas – grupos de amigos bebendo e ouvindo música; casais fazendo piquenique; famílias brincando com as crianças; e até uma milonga (baile de tango) a céu aberto. E isso tudo depois da meia noite. A milonga se chama “Ocupa” porque a ideia justamente se ocupar os espaços públicos preenchendo-o com tango. O Parque é o de las Colectividades, que se liga também ao Parque España e Paseo de la diversidade.

No Parque de las colectividades, o ambiente é familiar
mesmo tarde da noite.


E adultos também se divertem.

 











Faixa de pedestres patriota.

Gastos de janeiro de 2020, época em que um real valia entre 17 e 18 pesos:

Guarda volumes da rodoviária: ARS$190,00 por 24 horas ou ARS$40,00 por hora.

Café da manhã no Havana: ARS$430,00 por um alfajor, um suco de frutas e um sanduíche de frango com guacamole.

Ônibus da empresa Urquiza de Córdoba a Rosário: ARS$1.300,00, 6 horas de viagem.

Ônibus da empresa Urquiza de Rosário a BUA: ARS$990,00, 4 horas de viagem.

 

sábado, 17 de julho de 2021

Viver a Vida

"Vendemos cervejas mais frias do que o coração do seu ex."

Frase que vi num bar de Córdoba, Argentina.

  

 

Já fui logo deixando as malas no guarda volume da rodoviária. Eram 7h da manhã, minha hospedagem ainda não estava liberada, e eu tinha só três dias pra conhecer a cidade argentina de Córdoba. Saindo da rodoviária e passando debaixo do viaduto em frente, vi o Parque Sarmiento, um local grande que poderia ser melhor, se não fosse a falta de manutenção em alguns pontos. A piscina pública (natatório) eu achei muito bonita, mas não entrei porque ainda não estava aberto e precisaria ainda passar por uma avaliação médica. Como meu prazo era meio corrido pela cidade, não achei que valeria a pena. Tomei café no restaurante do parque, descansei, e ocupei o apartamento onde ficaria – fiquei hospedado bem ali na frente da rodoviária e do Parque Sarmiento.

Restaurante do Parque Sarmiento


Ir pra Córdoba (ou "Córdova", acredito que há as duas escritas por causa da similaridade entre os sons de V e B no espanhol) foi uma decisão em cima da hora. Estava em Buenos Aires devido a dois festivais de tango e, lá mesmo, foram compradas as passagens pra ir até Mendoza, Córdova e Rosário. Caminhando pela avenida ao lado do Parque Sarmiento, passei por um belo centro de cultura que estava fechado em férias, mas vi o Palácio Ferreyra aberto, um belo prédio histórico de entrada gratuita, com lindas exposições tanto em seu interior quanto no seu jardim.
 

Ao anoitecer, algo que é depois das 20h durante o verão argentino, sugiro ir ao Paseo Bom Pastor, pois há um show de som, luz e água, numa fonte. Em janeiro de 2020 era às 20h, confira se ainda é nesse horário. Ao lado está uma belíssima igreja, a Igreja dos Capuchinhos, onde vi, pela primeira vez na vida, uma imagem de uma santa grávida. Achei tão bonita essa igreja que nas duas noites eu jantei na pizzaria ao lado, só pra poder ficar olhando pra ela.


Catedral de la Ciudad de Córdoba


Traços da catedral desenhados no chão à sua frente.


A Plaza San Martin marca a fundação da cidade. Em uma das esquinas da praça está a a Catedral de la Ciudad de Córdoba, em estilo jesuíta, coisa que o guia turístico do Free Walking Tour Córdoba Antiga me ajudou a identificar: a ideia jesuíta é a de ter aparência humilde, mas o interior rico. Então essa lógica também está presente na construção de seus templos. A catedral levou 200 anos para ser construída e, no chão à sua frente, vê-se algo recorrente ao redor dos edifícios importantes de Córdoba: linhas brancas que reproduzem os traços mais marcantes do prédio, como as linhas das portas e janelas, para que as pessoas que passarem por ali tenham curiosidade de admirar sua beleza arquitetônica. Como muita gente olha apenas pra frente ou pra baixo, o aviso no chão tenta garantir que as belezas das edificações de Córdoba não passem despercebidas a ninguém.


Edifício mais estreito "do mundo".

Aí a parte do passeio em que o guia nos leva às compras, pois possivelmente tem um acordo com o dono da loja e recebe alguma comissão por isso. Não estou reclamando, só estou te lembrando que isso é algo recorrente nos passeios guiados e que precisamos ver com normalidade, pois é a maneira dele de ganhar a vida. Fomos a um local de empanadas e a uma loja de alfajores da marca La Quinta. Ninguém era obrigado a comprar nada, mas como o alfajor era bom, então comprei. Numa outra loja, fomos apresentados a um licor de ervas, amargo, de origem italiana, chamado Fernet. O costume em Córdoba é misturar dois terços de Coca Cola com um terço de fernet e tomar gelado. Não provei ainda, mas está na minha lista de coisas a fazer.

O passeio continuou até o edifício mais estreito (talvez no mundo!). Sua largura varia de 3m a 80cm. É residencial, então só podemos vê-lo por fora, mas o guia falou que o espaço interno é muito bem aproveitado e ele tem até elevador. Adentramos os calçadões do centro histórico até a Manzana (mansão) Jesuítica, local que voltei à noite, pra conhecer melhor e, vez ou outra, me deparava com algum músico de rua tocando em troca de gorjetas. Terminamos diante do shopping Patio Olmos, cujo prédio já foi uma escola de artes, um lugar muito bonito por fora e por dentro, uma parada bem estratégica pra fazer um lanche e se aliviar do grande calor argentino das tardes de janeiro. Em sua lateral há a entrada de um teatro e à sua frente está uma praça e um grande cruzamento de avenidas, local onde, em grandes eventos, como finais de campeonato, toda a cidade se aglomera(va) para festejar. No entanto, naquele dia especificamente, o tumulto não era por festa, mas  um protesto relacionado a alguma taxação que o governo pretendia criar, relacionada a turismo.


Manzana de las luces.

 

Na Argentina, nunca faltam protestos.

 

Perto do Patio Olmos estão Las Cañadas (os canais), que são duas ruas cortadas por um canal. Disseram que era legal de se ir à noite, mas eu não vi nada demais. Ao redor do Paseo de las Artes (Flea Market) é mais interessante, com uma grande variedade de bares e lojas abertas. O que achei mais legais eram os bares que estavam em áreas grandes, lugares que mais pareciam uma rua pequena sem saída – vários bares reunidos e todos os clientes meio que misturados. Recomendo entrar em todos os bares possíveis pra se reparar na decoração porque são muito interessantes. Num deles, a decoração era justamente uma piada ou deboche sobre a maneira de se decorar bares. Não me lembro do seu nome, mas fica na rua Achaval.

Prefeitura: "Cuidemos do Patrimônio".
Pixadores: "Podexá!".

Free Walking Tour Córdoba e suas Rebeliões começou na Praça Colon. Eu fiquei com pena de ver o local tão decadente e habitado por pessoas sem teto.  Uma praça grande, arborizada e com monumentos bonitos, mas todos precisando muito de uma restauração urgente. Nesse passeio, o assunto foi mais político, como a falta de pessoas negras/pretas na população argentina. Terminamos dentro da sede do Atlético Clube Belgrano, falando sobre a paixão argentina pelo futebol, talvez pra que terminássemos num clima um pouco mais animadinho, já que os assuntos desse tour não são muito felizes.

Praça Colón.

Há ainda coisas a se fazer nas redondezas de Córdoba, como visitar alguma vinícola, grutas ou o famoso passeio nos salares, mas tudo me pareceu meio longe. Pra três dias ali, achei melhor focar na cidade mesmo


Gastos de janeiro de 2020, época em que um real valia entre 17 e 18 pesos:

Guarda volume da rodoviária: ARS$140,00, não importa o tamanho do armário.

Tarifa adulta da piscina pública: ARS$60,00.

Zoológico do Parque Sarmiento: ARS$350,00.

Sanduíche no restaurante do Parque Sarmiento: ARS$330,00.

Visita guiada no interior da Igreja dos Capuchinhos: ARS$350,00 (tarifa pra estrangeiro). Eu não fiz.

Salada: ARS$320,00; Bruschetta: ARS290,00; Pizza: ARS$520,00 na Pizzaria ao lado da Igreja Capuchinhos.

Ônibus da empresa Urquiza de Mendoza a Córdoba: ARS$3.000,00, 9 horas de viagem.

Ônibus da empresa Urquiza de Córdoba a Rosário: ARS$1.300,00, 6 horas de viagem.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Tempo de Viver

"A gente conhece mais um vinho retirando a rolha do que lendo o rótulo."

Frase que vi numa vinícola em Mendoza, Argentina

Ruínas da antiga catedral de Mendoza.

Cinco dias e quatro noites em Mendoza é um tempo suficiente para conhecê-la. É uma cidade fácil de se andar, tranquila, bonita, de arredores belíssimos, e de fazer qualquer um tremer nas bases. Em Mendoza, os abalos sísmicos (eufemismo pra terremoto, pra não assustar os turistas em potencial) são tão frequentes, que nos prédios é comum achar avisos sobre procedimentos de emergência no caso de tremores. Conheci uma mendocina que me disse que ela e seus conhecidos costumam deixar uma mochila preparada com água, alimento não perecível, agasalho, pras ocasiões em que for necessário sair de casa às pressas.

História de terremoto contada no Museu da Origem da Cidade.

No Museu da Origem da Cidade (entrada gratuita) dá pra conhecer mais essas histórias. Eles fazem com você até tour gratuito pelas ruínas da antiga catedral, falando sobre o terremoto de 1861, o de maiores proporções, que deixou muitos mortos e a cidade antiga embaixo de escombros. Por esse motivo, você reparará que a Mendoza de hoje tem calçadas e ruas muitas largas e muitas praças, pois, em caso de precisar correr pra um lugar aberto, sempre haverá um por perto. Nos tempos atuais, esses abalos, quando ocorrem, são leves. Minha amiga mendocina até disse que alguns deles somente os turistas sentem. Os nativos já estão tão acostumados que tem tremores que passam despercebidos. Museu Área Fundacional é o nome que deram a essa parte histórica de museu, praça e ruínas. Logo depois da grande tragédia do século XIX, a cidade foi reconstruída ao redor da nova praça central, chamada Independencia, que está rodeada por outras quatro praças: a Chile, a España, a Italia e a San Martin (quase tudo na Argentina se chama San Martin) e por onde eu te sugiro caminhar, pra esquecer desse e de outros problemas.

Plaza Chile

 

Plaza España.

Depois dessa introdução encorajadora, te conto das excursões que fiz. Foram duas, escolhidas depois de pesquisar bastante por várias agências, todas fáceis de se encontrar pelo centro da cidade. Deve existir algum acordo entre elas, pois várias me apresentaram tarifas idênticas. Alta Montaña foi a excursão mais bonita. No trajeto todo, só se vê pedra praticamente, mas as cores das montanhas e paredões vão variando entre diversos tons de vermelho, amarelo, verde, dourado. Quem é geólogo sabe que é por causa da composição química dos minerais. Mas, pra mim, só interessava contemplar mesmo. Ao chegar a Puente de los Incas o arco-íris de pedra se intensifica. A ponte parece construída pela mão do homem, mas conta-se que ela se formou naturalmente. Durante a excursão, há algumas paradas para fotos, numa delas dá pra avistar o Pico Aconcágua, mas a uns mil quilômetros de distância; outras vezes dá pra se ver uma ferrovia desativada; ou o Rio Mendoza. Também paradas técnicas, como dizem, para lanche e banheiro. Terminamos num mirante na divisa entre Chile e Argentina, em território de uma cidade chamada Cristo Redentor. Só que essa subida pelas estradas “serpenteantes”, como dizem por lá, só é feito no verão. São muitas horas dentro da van, então é um passeio mais contemplativo.

Puente de los Incas.

 

Monumento da divisa entre Chile e Argentina.

Dependendo do tipo de viagem que você estiver fazendo, uma sugestão que deixo aqui seria alugar um carro e partir de Mendoza até Cristo Redentor, pela Rota 7, como eu fiz, mas depois continuar a viagem a Santiago, capital do Chile, já que da fronteira até lá, são 367 quilômetros. Entre no site da RENTCARS e já faz um orçamento.

 

Excursão Alta Montaña.


Quando você for comprar vinho, aqui no Brasil mesmo, repare que há muitas opções de vinhos argentinos na prateleira do supermercado. Desses, muitos vêm de Mendoza, e claro que eu estava bem curioso pra conhecer suas vinícolas (lá chamadas de bodegas), então fiz essa excursão temática. Visitei só quatro das mais de 400, então está aí mais um motivo pra voltar um dia. Baundron foi a primeira e vimos o depósito, algumas adegas, o maquinário com quase todas as etapas de preparação do vinho. A Pasrai (união das palavras "passas" e "raisins"), outra das bodegas, era também azeiteira e acho que foi a primeira vez na vida que vi um pé de azeitona. A degustação de azeites ao final foi a melhor parte, claro. Até comprei um com leve sabor de laranja.


Parreiral
Oliveira

 

Encerramos na Boda Domiciano com uma excelente guia, que nos levou a comer uva direto do parreiral e elas estavam incrivelmente doces. Uma informação que, a princípio, assusta: a grande maioria das vinícolas não lavam as uvas antes de começar o processo de produção de vinho, por vários motivos: ele será muito bem filtrado posteriormente; porque a lavagem faz com que a fruta perca um pouco da sua levedura e do líquido; e porque há milhares de anos os egípcios não lavavam e ninguém morreu por causa disso.

A quarta bodega eu conheci por conta própria. Peguei o trem até Maipu, pequena cidade ali perto. A 300 metros da última estação, está a Lopez. Os passeios seguiam uma espécie de padrão – volta pela fábrica, degustação, loja – mas eu não tinha a sensação de estar sendo repetitivo. Cada lugar tinha seus atrativos. Conheci quatro vinícolas e até conheceria outras mais. Por mais moderna que uma bodega queira ser e talvez até necessite ser, as modernas máquinas de aço inox não têm o mesmo charme dos gigantescos toneis de madeira. Entendo que a produtividade e o caixa da empresa aumentam com os grandes toneis aço inoxidável. Mas, aos olhos do turista, a atmosfera histórica se perde.

 


Prefere qual: toneis de inox ou de madeira?

 

Avenida San Martin

Alguns vinhos argentinos são bem caros, especialmente se tiverem sido premiados. Mas li uma matéria muito interessante numa revista especializada em vinho. O jornalista criticava a lógica capitalista de  o produto dobrar ou triplicar o preço depois de receber um prêmio, mas não repassar o lucro a todos responsáveis pela sua produção, ainda mais que o custo de produção na Argentina é barato.

Mendoza também tem Free Walking Tour e de uma maneira que eu achei bem interessante. São organizados pela prefeitura, duram 2h e saem todos os dias às 19h do Centro de Informações, mas cada noite é um tema. Então, se você ficar lá uma semana, sempre terá um passeio diferente pra fazer a noite e GRÁTIS!

Repare nas amplas avenidas com milhares de árvores dos dois lados das ruas, que vão desenhando túneis por toda a cidade, importantíssimo pra fazer sombra naquele calor de deserto. À beira dos dois lados de todas as ruas também há canais que trazem a água de bem longe, das montanhas, pra aguar todas essas árvores. Cuidado pra não cair em um deles.




Atravessando os grandes portões do Parque San Martin...

 

... para chegar ao Cerro de la Glória.

Vista da cidade e cordilheiras

Cerro de la Gloria é um lugar pra onde todos os turistas vão, e não recomendo ir a pé, mas com aqueles ônibus turísticos de dois andares. Saímos da Peatonal Sarmiento, atravessamos os grandiosos portões do Parque General San Martin, avistando seus lagos, fontes, bosques e o Museu de Ciências Naturais. Por causa do calor intenso, da falta de sombra no Cerro de la Gloria, e pelo fato de o ônibus ser bem aberto e permitir com que víssemos tudo muito bem, não desci quando cheguei ao alto, mas acho que seria ótimo ter uma taça de um espumante mendocino e ficar uma hora olhando as montanhas. Na descida, avistamos o teatro grego, onde acontece anualmente a grande Festa Nacional da Vindima.

Nas horas livres, quando eu não estava metido em alguma excursão, caminhava pela Peatonal (calçadão) Sarmiento. Só tome cuidado ao se sentar nos cafés, pra não se apoiar ou sentar em cima de algum cocô de pombo. Observei alguns protestos e pichações contra um tal de FRAC. Entendi que era alguma empresa de extração de água que usa um método considerado invasivo. Mendoza é praticamente um deserto, e falta água com frequência, mas, mesmo assim, a aparente “solução” que essa empresa apresentava para a falta de água estava revoltando algumas pessoas.

Um guia me disse que chove muito pouco na cidade, e aí eu me considerei sortudo, pois das quatro noites que dormi lá, duas choveram. E não senti nenhum terremoto.

 

Gastos de janeiro de 2020, época em que um real valia entre 17 e 18 pesos:

Voo de BUA a Mendoza pela Norwegian: não lembro.

Táxi do aeroporto até o centro – 11km: ARS$320,00.

Excursões Caminhos do Vinho e Alta Montanha: ARS$2.300,00 por pessoa, pela Varietal Turismo.

Pacote de 100g de uvas passas recheadas com chocolate Pasrai: ARS$120,00.

Frasco pequeno de azeite com laranja Parai: ARS$270,00.

Empanada na Bodega Baudron: ARS$40,00.

Café da manhã numa lancheria em Uspallata: ARS$350,00 por duas medialunas (pão de massa folhada), um café e duas torradas com queijo.

Almoço em Cristo Redentor: ARS$480,00.

O comércio tem um horário de funcionamento diferente: fecham às 13h, para la siesta. Reabrem às 17h e fecham novamente às 21h ou às 22h.

Passeio no ônibus turístico de dois andares pela cidade: ARS$600,00.

O cartão SUBE, de BUA, não funciona em Mendoza. O sistema lá é cartão RED, fácil de se conseguir em quase qualquer kioko (mercado).

À noite, vá fazer uma aulinha grátis de tango num coreto a céu aberto. O Balcón de Tango é um projeto antigo da prefeitura e acontece todo domingo à noite: aula + milonga todos os domingos das 21h às 23h.

Ônibus da empresa Urquiza de Mendoza a Córdoba: ARS$3000,00, 9 horas de viagem.

   

terça-feira, 20 de abril de 2021

Ontem, Hoje e Sempre

 “Qual é o brinquedo preferido dos argentininhos? R: O yo-yo”.

mais uma piada que diz que argentino é arrogante; na prática, não é assim.

Foto 2013 que tirei do Estádio La Boca.



Foto de 2018 no mesmo lugar.
Brasileiros e argentinos têm uma rivalidade cujo motivo é difícil de se explicar. Pode ter haver com momentos históricos, como a Guerra Cisplatina ou a construção da usina hidrelétrica de Itaipu ou simplesmente as várias partidas de futebol de diversos torneios. Realmente é uma relação difícil de se entender, já que no Mercosul eles são amigos, mas nos gramados a briga é feia. Brasileiros adoram contar “piadas de argentinos” que sempre dão a entender que estes seriam muito arrogantes. 

Bem, o que eu, como brasileiro, posso falar sobre a minha experiência das várias vezes que fui a Buenos Aires (se somados os dias, totalizariam quase três meses passados nessa cidade), é que fui muito bem recebido por todos, em hoteis, restaurantes e outros serviços que oferecem. Só aconselho desconfiar mesmo dos taxistas. Famosos por espalharem notas falsas pela cidade, em 2012 eu fui preparado e conferia cada nota que recebia de troco deles. Mesmo assim, numa ocasião, quando fui trocar os pesos argentinos por pesos uruguaios em Montevidéu, o atendente me devolveu a nota de ARS$10,00 (dez pesos) porque era falsa. Lembrei que só podia tê-la recebido na última viagem de táxi que fiz, pois ao descer, apressado, não conferi o troco. O prejuízo não foi grande. Algo como quase dois reais. Mas a cotação do peso argentino variou MUITO nos últimos anos. Na última vez que fui, ARS$10,00 valiam R$0,50. Então, confira no Google para saber a cotação da sua moeda.


La Boca.

Outro lugar super normal de turista pagar mico é no ônibus, pois o sistema é um pouco diferente do brasileiro. Entre com muita certeza de onde você descerá porque o preço da tarifa que será descontado no seu cartão SUBE é colocado pelo motorista logo na entrada, dependendo da informação que você der a ele. Não há mais aquele sistema das moedas, que eram depositadas numa máquina atrás do motorista. Agora você pre-ci-sa ter o cartão SUBE, uma “tarjeta” que você compra em quase qualquer “kiosko” (lojas que vendem diversos tipos de produtos) e recarrega em dinheiro, para usar nos ônibus, metrôs e trens da cidade. Pelo menos, melhorou. Na primeira vez que fui, a gente depositava o dinheiro numa máquina que SÓ aceitava moeda.

Casa Museu Sarmiento.

E sobre andar de trem, como será? Quando fiz um passeio de trem até a cidade de Tigre, as tarifas eram $20,00 (vinte pesos argentinos), mas, com o cartão SUBE, o preço saiu pela metade ou até menos. São mais de 30 km desde a estação Retiro até o Tigre, quase sempre às margens do Rio de La Plata, e dá pra descer em alguma estação e depois pegar o próximo trem. Ao longo das mais de dez paradas, podemos descer em qualquer uma sem precisar comprar outro bilhete ao reembarcar. Depois de descer, a gente sabe que o próximo trem virá em trinta minutos e, assim, podemos continuar o passeio (lembre-se que, por conta da pandemia, talvez esse intervalo esteja maior). Esse tempo é o suficiente para conhecer um pouco de cada estação, cada uma com algo diferente a mostrar. Mas só duas me pareceram interessantes: na Anchorena vê-se bem o Rio La Plata, que talvez você não ache bonito, já que a água tem uma cor marrom; na estação San Isidro, há galerias, uma igreja e praças bonitas.

Visitei a cidade do Tigre duas vezes. Na primeira, apenas conheci o Museu Naval e caminhei pelas margens do rio tomando um sorvete de doce de leite. Na segunda, fiz o passeio de barco de uma hora por ARS$120,00, mas havia também a opção de passeio de duas horas. Há saídas de diferentes empresas o dia todo (o preço era o mesmo). Uma gravação em áudio explica o que se vê, mas achei difícil de entender. Mesmo assim, adorei. Foi interessante navegar pelos canais como se estivesse andando de ônibus ou de carro, porque os canais têm nomes, como as ruas, e são cheios de casas, há até igreja e escola. Passamos pela Casa Museo Sarmiento, onde viveu o ex-presidente Sarmiento, que está coberta por um vidro para protegê-la melhor das ações do tempo. O Puerto de Frutos é um bom lugar de se ir depois desse passeio, para almoçar e olhar os artesanatos. Na volta, quem sabe se você desce na estação de trem Belgrano e conhece o Barrio Chino (a Chinatown de lá), mas, pra quem já conhece o bairro Liberdade, de São Paulo, é bem sem graça.

Museu do Humor constrastando com os arranha céus de Porto Madero.

O Rio de La Plata também pode ser visto a partir da Reserva Ecológica Costanera Sur, no lado leste de Puerto Madero, tendo-se a opção de três trilhas para caminhar. Não são trilhas estreitas, são como estradas de terra por onde passam ciclistas, corredores, ou pessoas a passeio. Em um determinado trecho, vê-se o rio. A reserva tem entrada gratuita e não abre às segundas-feiras. Quando eu visitei, não achei bonita. Mas me parece que houve reformas, então talvez esteja melhor. De qualquer forma, ela fica bem perto de Puerto Madero. Então, se não gostar de lá, o passeio por Puerto Madero e seus arredores vale a pena.

Antiga estação ferroviária transformada em outlets em Palermo.

Palermo é um bairro por onde gosto muito de caminhar porque o acho muito bonito e sinto que é um lugar onde a criatividade argentina bastante se expressa. A arquitetura, os grafites, as vitrines das lojas... Tudo parece querer passar uma mensagem, não apenas ser bonito. Por isso, o bom desse bairro é andar por ele. O Distrito Arco Premium Outlets é uma antiga estação ferroviária reformada e transformada numa espécie de shopping center a céu aberto. Mesmo sem comprar nada, vale a pena o passeio. Meu único gasto foi com um prato de molejas (pronuncia-se “mojerras”), uma glândula do boi, uma novidade deliciosa pra mim.


Mariano, o melhor guia de turismo que já conheci.

Não gostou da opção de almoço? Então pegue um ônibus ou qualquer outra coisa e desça várias quadras da Avenida Corrientes (você já estará nela), até a Pizzaria Guerrín, na Avenida Corrientes, 1368. Recomendo o sabor queijo com cebola. Falando assim, pode soar como algo sem graça, mas você precisa mesmo ir a essa pizzaria, nem que seja de passagem rápida durante o dia e pegar apenas uma fatia de pizza ($40,00 em média) ou uma fogazza. A massa é deliciosa e o recheio é muito generoso. É a pizza mais gostosa que comi na vida.

Palácio das Águas Correntes.

A um quilômetro dali, uma das maiores surpresas que a Argentina já me deu: o Palácio das Águas Correntes é um museu que te conta a história do... tratamento da água e esgoto! Nunca vi isso em lugar algum do mundo. É uma pena que poucas pessoas saibam da existência dele, eu mesmo só o conheci na última vez que estive em BUA (já fui mais de dez no total). É impossível não passar despercebido diante daquele monumento de três andares em cerâmica vitrificada, já que o tamanho, a beleza e o fato de estar numa avenida conhecida (Córdoba) ajudam. Mas poucos turistas desbravam seu interior e aprendem sobre a evolução do saneamento básico da capital, desde o tempo em que a falta de asseio da captura da água do Rio de la Plata e as doenças resultantes disso obrigaram a construção do prédio, pra que todo o processo da captura e distribuição de água e esgoto da cidade fosse feita com cuidado e asseio. No início, causa estranhamento saber que peças foram trazidas da Europa pra embelezar o quê?... Um tanque de água! No entanto, quando li que essa foi uma maneira de se dar valor à higiene pública, fiquei ainda mais deslumbrado. Com o crescimento de BUA, a estação de tratamento passou a outro lugar e o Palácio virou um museu, um dos mais surpreendentes que já visitei, ainda mais com essa mensagem de se engrandecer um prédio responsável pelo saneamento básico, que, infelizmente, não é algo tão básico para muitos.

 

De todas as formas de se locomover pela cidade, faltou só falar do metrô, um meio de transporte que é também um atrativo turístico, por ser o mais antigo da América Latina. Na linha mais antiga, a linha A, cada estação tem uma cor e mosaicos nas paredes, devido ao grande número de analfabetos da época de sua inauguração (1913), então as pessoas se guiavam pelas cores da estação. Viu como indo a qualquer lugar, em qualquer época e por qualquer transporte, BUA é cheia de novidades?


Vista de quem chega a BUA pelo Aeroparque.

Mais informações:

Para dançar tango, Villa Malcom ($130,00 pra entrar) ou Salón Canning ($150,00), mas La Viruta é pra onde todo mundo vai. Mas antes da meia noite, só dá turista. Depois é que os argentinos chegam.

Aos domingos os metrôs circulam com maior tempo de parada entre as estações e com menor velocidade.

https://museoroca.cultura.gob.ar/

https://www.buenosairesturismo.com.br/passeios/tigre-delta.php