quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Celebridade

"Numa sociedade onde qualquer babaca quer virar celebridade, a figura do 'ninguém' sempre me pareceu o melhor modelo de vida."
Heidevolk, banda neerlandesa de folk metal.
Túnel verde, onde acontece o desfile da cultura germânica de Santa Cruz do Sul
Em outubro de 2010, fiz uma viagem às pressas a Santa Cruz do Sul, para a Oktoberfest da cidade, que, na ocasião, acabava de entrar no Livro dos Recordes por realizar a maior polonaise (dança típica da Polônia) do mundo, que, infelizmente, eu perdi, tinha sido um dia antes de eu chegar. Cheguei bem na hora em que faziam o desfile, com várias alas e carros que representavam diferentes aspectos da imigração e cultura europeia, germânica principalmente. Uma das alas representava os escoteiros. Os integrantes distribuíam cucas (típico bolo alemão) aos que assistiam ao desfile. Como eu queria conhecer mais a fundo a culinária típica, acompanhei essa ala do ponto onde eu estava até o fim do desfile, sempre me servindo das cucas, de framboesa e de coco. Lá pelas tantas, um dos piás (menino, pra quem já se esqueceu de que é assim que se fala no Rio Grande do Sul), o mesmo da foto, me olhou, percebeu a situação e sorriu com cumplicidade, como se entendesse minha forma de elogiar a comida e de economizar o dinheiro do almoço.
Cucas grátis a quem assistia ao desfile

Em Santa Cruz não consegui hospedagem com ninguém pelo couchsurfing.com. A vaga mais barata e disponível em hotel que encontrei custava 90 pilas (reais). Mas existem hoteis com diária de R$40,00. Caso você vá à cidade durante a Oktoberfest, faça reservas porque a festa de Santa Cruz é a maior do Rio Grande do Sul. Senão terá de pagar caro ou fazer como eu, que voltei para a rodoviária e dormi na sala de espera dos ônibus, que não é tão desconfortável. Deu pra deitar no banco e usar Soraya como travesseiro. No dia seguinte, a pauta era: acordar cedo, conhecer os principais pontos turísticos da cidade pela manhã; à tarde, voltar à festa; à noite, pegar o último ônibus de volta pra Caxias, porque seria muita cara de pau dormir na rodoviária por duas noites seguidas. Foi um passeio meio de improviso porque acho que estamos tão acostumados a associar Oktoberfest com Blumenau, que eu nem sequer atinei pra festa. Vi uma reportagem num jornal três dias antes e resolvi ir, o que foi ótimo, pois vi que não é uma festa apenas pra cerveja (bebida que eu não gosto), mas há muitas outras coisas que se fazer – jogar eisstocksport (esporte do toco no gelo, em tradução livre) e ver muitas exposições: da força expedicionária; de carros antigos; de pecuária.
Parque da gruta

E havia também a balada noturna com DJs e com presença de uma celebridade global. Eu estava bem no fundo do galpão da festa, mas, no momento em que elas apareceram no palco, saí furando o bando de pessoas que se aglomerava para ver a minha ídola, na esperança de tirar uma foto com ela e registrar aquele momento para sempre. Tive apenas uma tentativa para cumprir meu objetivo, e, como esse era também o objetivo de todos ali presentes, e eu não tinha espaço para esticar totalmente meu braço e conseguir um auto-retrato melhor, saí com a cara bem chapada, mas o que importa é que ela ficou linda, como sempre. Ela, uma dançarina de 29 anos, natural de São Paulo capital, eleita Garota Fitness 2008, capa da revista Playboy de maio de 2010, vencedora da quarta prova do líder, da oitava prova do anjo, pertencente à tribo dos “sarados” e eliminada em seu quinto paredão, com 51% dos votos contra Fernanda. Falo de Eliane Kheireddine, a Lia do Big Brother Brasil 10. 

Se você não gosta de televisão deve estar pensando: “nunca vi essa mulher. Não assistia ao Big Brother porque é só um bando de gente boba brigando por dinheiro”. Você está enganado. Essa não é a definição de participante de BBB, mas a de parente dividindo herança. Participante do Big Brother é sinônimo de heroísmo, como diz Pedro Biau. Ser participante de reality show significa ser inteligente e saber vencer o seu principal oponente: você mesmo. Sou muito feliz por viver em uma época onde o que importa é ter dinheiro e fama. Por isso, me tornei blogueiro. Como o máximo que consegui até hoje foi uma figuração num clipe da cantora mineira Lu Alone, escrever um blog pode me ajudar a ser uma webcelebridade, pelo menos. Nessa mesma balada a penúltima música a tocar na festa foi o hino do Rio Grande do Sul, e todos cantavam com a mesma empolgação de um show de Charlie Brown Jr., sem esquecer a letra. Para mostrar a mim mesmo que eu tinha o mesmo espírito “patriótico”, tentei cantar mentalmente o hino de Minas, mas teria sido melhor confiar essa missão a Vanusa.
Parque da Cruz
Em novembro de 2010, conheci duas pessoas que são um exemplo de vida, de superação. Souberam reverter um momento crítico de suas vidas e, em vez de se deixarem levar pelo pessimismo e pela crítica dos outros, souberam reverter isso a seu favor, assim como fez Geisy Arruda. A primeira delas é a bailarina Silvia Wolff, que já foi do Ballet da Cidade de São Paulo. Assim que foi aprovada no doutorado, ela sofreu um derrame que a deixou com o lado esquerdo paralisado. Ela se recuperou (ainda manca um pouco e tem o braço esquerdo paralisado), mudou o foco de sua pesquisa acadêmica, e começou a dar aula de dança em um hospital suíço para pacientes de AVC. Ela deu um curso de assessoria pedagógica e concepção coreográfica para nossa companhia. É a ruiva de óculos abraçando o cabeludo:
Concepção Coreográfica e Assessoria Pedagógica com Silvia Wolff
A segunda pessoa é o senhor Ariolli, ex-pracinha na segunda guerra que viveu mais de um ano de conflitos na Itália. Voltou ao Brasil, e, com outros ex-combatentes, construiu o Museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em Caxias do Sul. Muitos dos objetos expostos são pessoais, usados por esses caxienses na luta na Itália. Até hoje Ariolli dá palestras sobre o tema para as escolas da região. A segunda guerra é um assunto por si só interessante, mas torna-se mais ainda quando acompanhado de histórias pessoais – as cartas trocadas com os familiares que ficavam no Brasil e que eram revisadas e rasuradas, pois notícias tristes podiam desanimar os soldados; os sobreviventes que carregaram traumas de guerra por muitos anos e que cometeram suicídio anos depois, já no Brasil; e outras.
Ariolli dando autógrafos a adolescentes que assistiram à sua palestra
Eu sei que nenhum dos dois chega a ser tão importante para a cultura nacional quanto Marcelo Dourado, mas até que são pessoas bacaninhas. Quanto ao trabalho da Companhia Municipal de Dança, na nossa estreia de dezembro passado levamos o nome do nosso espetáculo final tão a sério (sobreVIVENTES), que sete dos onze bailarinos (inclusive eu) tiveram de lutar contra a febre um dia antes da apresentação, isso sem contar uma bailarina que ainda estava com o olho inchado por causa de uma joelhada na cara dois dias antes. O ensaio geral com luz no teatro parecia uma enfermaria e não rendeu nada. Saí do teatro direto para um posto de saúde, esperei duas horas pra ser atendido porque os médicos estavam há mais de dois meses em greve, tomei uma benzetacil (que rima com puta que pariu) e soro na veia. Amanheci melhor no dia seguinte, mas não foi nada gostoso fazer os rolamentos de chão da coreografia sobre o ponto da injeção. Adaptamos a dança porque dois bailarinos ainda estavam à beira da morte e a apresentação correu bem. Como o clima de Caxias é mais louco que o de Ouro Preto e estava há muito tempo sem ser ver meus familiares e amigos, não sei ainda se essa febre foi causada por um raio da saudade, ou um meteoro da paixão, ou uma explosão de sentimentos que eu não pude acreditar. Mas sobrevivemos e ainda estamos com esse trabalho em cartaz, já tendo apresentado-o também em Bento Gonçalves e Porto Alegre.
"sobreVIVENTES", espetáculo da Cia Municipal de Dança de Caxias do Sul
Recuperei minhas energias e continuei minha caça a ex-bbb’s. Numa balada noturna na boate Pepsi Club encontrei Natália Casassola e Fani Pacheco (da oitava e décima edição, respectivamente). Ainda bem que minha amiga Fernanda Legnaghi me emprestou sua câmera digital. Desde então eu ando sempre com a minha, pois a gente nunca sabe quando uma celebridade instantânea pode cruzar nosso caminho. Agora só falta eu encontrar 169 ex-bbb’s pra completar a minha coleção de momentos com “nossos herooois” (se o Buba não tivesse morrido seriam 168).
Coelhinhas
Em 2011, seguindo a mesmo jeito improvisado de viajar, fui a Oktoberfest de Igrejinha-RS, e também encontrei todos os hoteis cheios, só que, dessa vez, eu não posso contar onde eu dormi. A cidade está a 85 km de Porto Alegre, tem 35 mil habitantes, e vive das indústrias de calçados. A programação de lá foi bem parecida com a de Santa Cruz: desfile tradicional de rua, festas noturnas e muita oferta de comida. Dessa vez, eu só fiquei na comida, aproveitando uma tarde de domingo apenas no Parque da Oktoberfest, onde fica o Museu do Imigrante (tipo de museu muito em comum em várias cidades gaúchas).
Museu do Imigrante - Igrejinha