terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Manancial

"(...) Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus."  trecho de Cidadezinha qualquer, de Carlos Drummond de Andrade.
No Sul de Minas, a natureza nos chamou em todos os sentidos
Ballet Jovem do Palácio das Artes de férias, Dener, Luciana e eu resolvemos que faríamos uma viagem juntos. Vale do Jequitinhonha ou Sul de Minas? Quem tirou a dúvida foi minha amiga de república e cambuquirense Gisele, que nos ofereceu a casa dela no Sul de Minas. “Cambu... o quê?” Cambuquirense, gente, é quem é nascido em Cambuquira, a 300 km ao sul de Belo Horizonte e com 13.000 habitantes. Embora não seja a cidade mais famosa do Circuito das Águas da Estrada Real, sua água é considerada uma das melhores do mundo. No Parque das Águas, no Centro, há fontes naturais de diferentes tipos de água gasosa. Cidade bem pacata, um carro ou outro circulando pela rua, mesmo na rua mais movimentada da cidade, onde ficam as agências bancárias. Foi nessa viagem que percebi a importância de se ter conta em mais de um banco, pois lá não havia Bradesco. Hoje já tem, além de Banco do Brasil também. Ainda bem que minha conta do Itaú tinha dinheiro. Bem, esse marasmo das cidadezinhas mineiras não era novidade pra mim, pois cresci na cidade de Mariana e seus distritos, diferente dos meus dois amigos belorizontinos. O Parque das Águas, principal atração turística (dá pra conhecê-lo todo em menos de duas horas, mesmo se você for um turista com o ritmo pacato de lá), com entrada a R$3,00, possui seis fontes de águas, todas com propriedades terapêuticas e sabores, sim, sabores, diferentes. Uma dica: já chegue à fonte bebendo a água direto. Se você cheirá-la primeiro, a sulfurosa, por exemplo, vai desanimar, pois terá certeza de que beberá água do Tietê. Algumas têm o gosto ruim, assim como o cheiro. Outras têm só o gosto ruim, o cheiro é de nada, mas todas têm propriedades de cura de alguma ziquizira. Quanto ao sabor, é só uma questão de educar o paladar. Eu já tinha experimentado a água gasosa e não tinha gostado. Quando cheguei à casa dos pais de Gisel e nossos anfitriões, o vereador Paulo (que não é o Paulo do Picolé) e sua esposa Anésia, pedi um copo de água e já fui de cara dizendo: “Mas me dê do filtro mesmo, pois dessa água mineral daqui eu não gosto”. Anésia respondeu: “Mas aqui a gente só tem essa”. Tive de tampar o nariz e beber aquilo o mais rápido possível. Dener e Luciana também sofreram nos primeiros dias, mas, no nosso quarto e último dia, bebíamos aquilo com a boca boa. So fim do primeiro dia lá, estávamos achando tudo normal, bem parado, até que o comportamento dos cambuquirenses no fim da tarde nos chamou a atenção. Os moradores da cidade formam uma fila na porta lateral do parque. Um vigia libera a entrada gratuita de pouco em pouco para que eles entrem e encham seus garrafões e todo tipo de recipiente com água do parque. Ou seja, a maioria dos moradores da cidade não bebe a água do filtro de barro que veio da torneira, mas a mais pura água mineral.
Cascata do Congonhal - Cambuquira
Dentro da cidade o que tem pra fazer é isso, talvez sentar em uma praça, visitar uma igreja, tomar um açaí, mas não precisa gastar mais de um dia inteiro em Cambuquira, mesmo se você quiser conhecer a Cascata do Congonhal, a 8 km do Centro, e estiver de carro. Se depender de ônibus, como nós, é bom ter mais de um dia, sim. Conhecemos também uma outra cascatinha, igualmente distante do Centro, mas na direção oposta. Os moradores te explicam a localização, e não é difícil conseguir carona lá. No acesso a seguir, veja o mapa de atrações de Cambuquira, bem como de outras cidades das quais falarei a seguir:
http://www.idasbrasil.com.br/idasbrasil/cidades/cambuquira/port/mapa.asp.
Folia de Santos Reis - Cambuquira
Uma de nossas noites na cidade só foi agitada porque era Dia de Santos Reis. À noite, as pessoas acompanham um cortejo de pessoas fantasiadas. Todos que quiserem podem se fantasiar. O cortejo para em um grande salão, onde há música ao vivo e janta de graça. Mas não pense que você economizará o dinheiro de uma refeição apenas. Nas noites anteriores a 6 de janeiro, há cortejos menores que param em algumas casas. Após os cânticos/orações, o dono da casa serve algo de comer a todos que estão ali acompanhando o trajeto, como um cachorro quente com refrigerante.
Parque das Águas - Caxambu
Estamos falando do Sul de Minas, então, mesmo sendo verão é bom você levar uma manguinha comprida, caso esfrie uma noite ou outra. Tendo Cambuquira como ponto de partida, nós visitamos as seguintes cidades, uma por dia: Lambari, a 30 km; Caxambu, a 50; e São Lourenço, a 80. Em Caxambu, começamos com uma volta de charrete por R$5,00 cada e conhecendo o centro da cidade. Era a primeira vez que Luciana andava de charrete. Demos uma olhada nos artesanatos, mas nada nos interessou. Entramos no parque e, também primeira vez, só que de todos nós, andamos no teleférico, R$10,00 por pessoa. Do alto do morro, aos pés do Cristo, uma vista de 360 graus da cidade.
O teleférico te leva...

... até o alto deste monte.
Essa é uma boa viagem pra se economizar com bebida, já que o parque tem uma dúzia de fontes de água mineral. Então não precisa comprar. Pode até levar um pacotinho de suco e colocar na garrafinha pra não precisar pagar refrigerante na hora do almoço. Mas se você está numa fase meio Carolina Ferraz “Eu sou riiicaaaa”, tome um banhozinho também no Balneário de Hidroterapia do interior do parque. Tem até sauna Finlandesa (sei lá como é isso, mas o nome é bem chique). Ligue (35) 3341-3266 para saber dos preços. Para um banho quente de graça, tem o seguinte: três vezes por dia, sem hora marcada, um gêiser no parque jorra uma água levemente aquecida. Os vovôs e as vovós é que gostam disso. Eu tomei um banho cercado por toda a geriatria turística que estava no parque. Pra tomar esse banho não precisa ficar acampado do lado do gêiser esperando um dos três momentos diários em que ele jorra, pois há um reservatório. Durante as erupções, parte da água fica armazenada, e essa água é liberada por um funcionário do parque quando há um número significativo de turistas querendo banhar-se.
Parque das Águas - São Lourenço
O Parque de São Lourenço tem sete fontes de águas minerais, mas é o que ocupa mais tempo de passeio dos três, um dia inteiro. Ele é dividido em Parque I e Parque II, que são ligados por um túnel subterrâneo. Assim como os parques de Caxambu e Cambuquira, ele também tem lago com pedalinho e barco, só que um lago muito maior, com a Ilha dos Amores no meio, onde se pode ter contato com várias aves da fauna brasileira. Dá também pra brincar no playground; rezar numa capela; pescar; tomar uma ducha e se estirar no sol; alugar uma bicicleta e rodar o parque todo. Tem também uns banhos mais cheios de frufru, no balneário de hidroterapia, e mais caros um tiquinho. Veja o poder das águas medicinais das cidades do Sul de Minas na matéria do Globo Repórter: http://www.saolourenco.org/.
Cachoeira do Roncador - Lambari
Em Lambari, não fomos ao parque, pois já tínhamos enjoado de fontes, e lagos e tudo o mais. Estávamos a fim de nos banhar, mas com mais contato com a natureza. Alugamos uma charrete, ao custo de R$15,00 pra cada um, que nos levou à Cachoeira do Roncador, a 9 km da cidade, sendo 6 km em estrada de terra. Valeu a pena porque o passeio foi longo e no meio do mato. Duro foi voltar quase todo o trajeto a pé. Em frente à cachoeira do Roncador está a Cachoeira João Gonçalves, dentro de uma propriedade particular. Havia uma placa anunciado uma taxa de R$5,00, mas a gente pulou a cerca, e deu uma entrada bem rapidinha, só pra tirar foto mesmo, nem precisava pagar (não na nossa opinião).

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Escalada

Vá à praça e peça um conselho, vá pra casa e faça como você quer.” provérbio italiano.
Vale do Quilombo visto do Mirante Laje de Pedra - Canela - RS
Vivi quase um ano sem televisão. Foram dez meses morando em uma pensão até começar a dividir um apartamento com dois amigos. Antes, meu principal passatempo era a literatura, desde Na cama com Bruna Surfistinha até Gabriela Cravo e Canela, e o turismo, desde o friozinho gaúcho ao calor nordestino – ecletismo em tudo que faço. A sete quilômetros de Gramado, cidade da qual falei na postagem de maio, está Canela, onde foram gravados os primeiros capítulos de Duas Caras. O principal ponto turístico é a Cascata do Caracol, localizada em parque de mesmo nome, cujo valor da entrada é R$10,00. O Parque tem várias trilhas, quase todas calçadas, com vários mirantes para diferentes cascatas. De alguns deles se tem uma boa vista para a Cascata do Caracol, mas as melhores vistas são: a que se tem do Parque do Teleférico, de onde se tem uma noção mais ampla do todo; e a vista da base da escadaria de 730 degraus, bem pertinho da cascata, onde se pode até sentir um pouco da água. 730 é o número de degraus correspondente às escadas de um prédio de 44 andares. Mas vale a pena.





Eu estava certo. Realmente, tinha valido muito a pena:
 Quer dizer, nem tanto:
Alguém aí avise aos peregrinos de Aparecida do Norte-SP que eles estão pagando promessa no lugar errado.
Parque do Teleférico - Canela-RS
A meio quilômetro do Parque do Caracol está o Parque do Teleférico, mas é um parque sem trilhas. Os únicos atrativos são a tirolesa (R$15,00) e o teleférico (R$20,00), então você não vai gastar mais do que uma hora ali. A visão que se tem da cascata quando se está no teleférico, repito, é ótima, e abaixo dos seus pés haverá um jardim de hortênsias. Mas eu ainda acho que o teleférico de Nova Friburgo (in memoriam) era mais emocionante, não pela vista, mas pela altura. Se você não gosta de viver perigosamente, fique só com a escadaria da perna bamba (é assim mesmo que eles chamam a escada de 730 degraus). Ela é mais segura do que andar no teleférico – dois dias antes de eu estar lá, a corda se soltou da roldana e um casal se feriu, e não foi a primeira vez que um acidente desses aconteceu.
Minha avó queria que eu me chamasse Átila Brás porque eu nasci no dia desse cara aí.
 
Rio Caí fazendo a Curva da Ferradura
A 6km do Teleférico, está um parque igualmente belo, o do Vale da Ferradura. Tem poucas trilhas e poucos mirantes, mas a peculiaridade do local compensa. O transporte público de Canela só vai até o Parque do Caracol, por R$2,00, e só há duas saídas por dia: uma às 8h30, que volta às 12h, e outra às 12h, que volta às 17h ou 18h. Então você precisa caminhar até lá, mas o caminho já é um atrativo turístico, pra quem gosta de turismo religioso. Há dezenas de imagens de santos católicos à beira do caminho, que se chama Caminho das graças, mas, pra quem não é católico, talvez não tenha graça nenhuma. Se não quiser andar por ali, peça carona e tenha a mesma sorte que eu, de o administrador do Parque da Ferradura te levar até lá, e depois, na volta, passar de novo e te levar à cidade. O Vale tem esse nome por causa do formato da curva que o Rio Caí faz ali. Desça 30 minutos de trilha e você já pode cair no rio Caí (eu sou mesmo muito bom com trocadilhos) e na cachoeira Arroio do Caçador. Eu fui em março e as águas do rio ainda estavam bem refrescantes.
Cachoeira Arroio do Caçador
Quando subi a trilha de volta, alguns moradores do parque vieram se despedir de mim. São quatis bem simpáticos, e se aproximarão de você em busca de alguns petiscos. Veja alguns deles no vídeo que coloquei no youtube. Um deles queria comer meus biscoitos e brigou com outro quati que se aproximou.
Parque dos Paredões
Também perto desse parque está o Parque dos Paredões (R$5,00), mas tem uma aparência mal cuidada, e com apenas dois mirantes, que não têm muita graça depois de já ter visitado os outros lugares. Gostei não. Sugiro que vá a este parque antes dos outros, pra não se decepcionar, ou nem vá. O Parque do Palácio, no Centro, também é o ó. Gostei não. Mas vá assim mesmo, pra você ver com seus próprios olhos o quanto é péssimo. Bem, pelo menos eu sou do tipo de pessoa que, quando me dizem que alguma coisa é ruim, eu gosto de ver ou experimentar para que eu também chegue à conclusão de que é ruim, e não ficar apenas repetindo o que os outros me disseram. Então, leitor, eu te peço que tudo que eu disser nesse blog pra você não fazer, faça mesmo assim.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Celebridade

"Numa sociedade onde qualquer babaca quer virar celebridade, a figura do 'ninguém' sempre me pareceu o melhor modelo de vida."
Heidevolk, banda neerlandesa de folk metal.
Túnel verde, onde acontece o desfile da cultura germânica de Santa Cruz do Sul
Em outubro de 2010, fiz uma viagem às pressas a Santa Cruz do Sul, para a Oktoberfest da cidade, que, na ocasião, acabava de entrar no Livro dos Recordes por realizar a maior polonaise (dança típica da Polônia) do mundo, que, infelizmente, eu perdi, tinha sido um dia antes de eu chegar. Cheguei bem na hora em que faziam o desfile, com várias alas e carros que representavam diferentes aspectos da imigração e cultura europeia, germânica principalmente. Uma das alas representava os escoteiros. Os integrantes distribuíam cucas (típico bolo alemão) aos que assistiam ao desfile. Como eu queria conhecer mais a fundo a culinária típica, acompanhei essa ala do ponto onde eu estava até o fim do desfile, sempre me servindo das cucas, de framboesa e de coco. Lá pelas tantas, um dos piás (menino, pra quem já se esqueceu de que é assim que se fala no Rio Grande do Sul), o mesmo da foto, me olhou, percebeu a situação e sorriu com cumplicidade, como se entendesse minha forma de elogiar a comida e de economizar o dinheiro do almoço.
Cucas grátis a quem assistia ao desfile

Em Santa Cruz não consegui hospedagem com ninguém pelo couchsurfing.com. A vaga mais barata e disponível em hotel que encontrei custava 90 pilas (reais). Mas existem hoteis com diária de R$40,00. Caso você vá à cidade durante a Oktoberfest, faça reservas porque a festa de Santa Cruz é a maior do Rio Grande do Sul. Senão terá de pagar caro ou fazer como eu, que voltei para a rodoviária e dormi na sala de espera dos ônibus, que não é tão desconfortável. Deu pra deitar no banco e usar Soraya como travesseiro. No dia seguinte, a pauta era: acordar cedo, conhecer os principais pontos turísticos da cidade pela manhã; à tarde, voltar à festa; à noite, pegar o último ônibus de volta pra Caxias, porque seria muita cara de pau dormir na rodoviária por duas noites seguidas. Foi um passeio meio de improviso porque acho que estamos tão acostumados a associar Oktoberfest com Blumenau, que eu nem sequer atinei pra festa. Vi uma reportagem num jornal três dias antes e resolvi ir, o que foi ótimo, pois vi que não é uma festa apenas pra cerveja (bebida que eu não gosto), mas há muitas outras coisas que se fazer – jogar eisstocksport (esporte do toco no gelo, em tradução livre) e ver muitas exposições: da força expedicionária; de carros antigos; de pecuária.
Parque da gruta

E havia também a balada noturna com DJs e com presença de uma celebridade global. Eu estava bem no fundo do galpão da festa, mas, no momento em que elas apareceram no palco, saí furando o bando de pessoas que se aglomerava para ver a minha ídola, na esperança de tirar uma foto com ela e registrar aquele momento para sempre. Tive apenas uma tentativa para cumprir meu objetivo, e, como esse era também o objetivo de todos ali presentes, e eu não tinha espaço para esticar totalmente meu braço e conseguir um auto-retrato melhor, saí com a cara bem chapada, mas o que importa é que ela ficou linda, como sempre. Ela, uma dançarina de 29 anos, natural de São Paulo capital, eleita Garota Fitness 2008, capa da revista Playboy de maio de 2010, vencedora da quarta prova do líder, da oitava prova do anjo, pertencente à tribo dos “sarados” e eliminada em seu quinto paredão, com 51% dos votos contra Fernanda. Falo de Eliane Kheireddine, a Lia do Big Brother Brasil 10. 

Se você não gosta de televisão deve estar pensando: “nunca vi essa mulher. Não assistia ao Big Brother porque é só um bando de gente boba brigando por dinheiro”. Você está enganado. Essa não é a definição de participante de BBB, mas a de parente dividindo herança. Participante do Big Brother é sinônimo de heroísmo, como diz Pedro Biau. Ser participante de reality show significa ser inteligente e saber vencer o seu principal oponente: você mesmo. Sou muito feliz por viver em uma época onde o que importa é ter dinheiro e fama. Por isso, me tornei blogueiro. Como o máximo que consegui até hoje foi uma figuração num clipe da cantora mineira Lu Alone, escrever um blog pode me ajudar a ser uma webcelebridade, pelo menos. Nessa mesma balada a penúltima música a tocar na festa foi o hino do Rio Grande do Sul, e todos cantavam com a mesma empolgação de um show de Charlie Brown Jr., sem esquecer a letra. Para mostrar a mim mesmo que eu tinha o mesmo espírito “patriótico”, tentei cantar mentalmente o hino de Minas, mas teria sido melhor confiar essa missão a Vanusa.
Parque da Cruz
Em novembro de 2010, conheci duas pessoas que são um exemplo de vida, de superação. Souberam reverter um momento crítico de suas vidas e, em vez de se deixarem levar pelo pessimismo e pela crítica dos outros, souberam reverter isso a seu favor, assim como fez Geisy Arruda. A primeira delas é a bailarina Silvia Wolff, que já foi do Ballet da Cidade de São Paulo. Assim que foi aprovada no doutorado, ela sofreu um derrame que a deixou com o lado esquerdo paralisado. Ela se recuperou (ainda manca um pouco e tem o braço esquerdo paralisado), mudou o foco de sua pesquisa acadêmica, e começou a dar aula de dança em um hospital suíço para pacientes de AVC. Ela deu um curso de assessoria pedagógica e concepção coreográfica para nossa companhia. É a ruiva de óculos abraçando o cabeludo:
Concepção Coreográfica e Assessoria Pedagógica com Silvia Wolff
A segunda pessoa é o senhor Ariolli, ex-pracinha na segunda guerra que viveu mais de um ano de conflitos na Itália. Voltou ao Brasil, e, com outros ex-combatentes, construiu o Museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em Caxias do Sul. Muitos dos objetos expostos são pessoais, usados por esses caxienses na luta na Itália. Até hoje Ariolli dá palestras sobre o tema para as escolas da região. A segunda guerra é um assunto por si só interessante, mas torna-se mais ainda quando acompanhado de histórias pessoais – as cartas trocadas com os familiares que ficavam no Brasil e que eram revisadas e rasuradas, pois notícias tristes podiam desanimar os soldados; os sobreviventes que carregaram traumas de guerra por muitos anos e que cometeram suicídio anos depois, já no Brasil; e outras.
Ariolli dando autógrafos a adolescentes que assistiram à sua palestra
Eu sei que nenhum dos dois chega a ser tão importante para a cultura nacional quanto Marcelo Dourado, mas até que são pessoas bacaninhas. Quanto ao trabalho da Companhia Municipal de Dança, na nossa estreia de dezembro passado levamos o nome do nosso espetáculo final tão a sério (sobreVIVENTES), que sete dos onze bailarinos (inclusive eu) tiveram de lutar contra a febre um dia antes da apresentação, isso sem contar uma bailarina que ainda estava com o olho inchado por causa de uma joelhada na cara dois dias antes. O ensaio geral com luz no teatro parecia uma enfermaria e não rendeu nada. Saí do teatro direto para um posto de saúde, esperei duas horas pra ser atendido porque os médicos estavam há mais de dois meses em greve, tomei uma benzetacil (que rima com puta que pariu) e soro na veia. Amanheci melhor no dia seguinte, mas não foi nada gostoso fazer os rolamentos de chão da coreografia sobre o ponto da injeção. Adaptamos a dança porque dois bailarinos ainda estavam à beira da morte e a apresentação correu bem. Como o clima de Caxias é mais louco que o de Ouro Preto e estava há muito tempo sem ser ver meus familiares e amigos, não sei ainda se essa febre foi causada por um raio da saudade, ou um meteoro da paixão, ou uma explosão de sentimentos que eu não pude acreditar. Mas sobrevivemos e ainda estamos com esse trabalho em cartaz, já tendo apresentado-o também em Bento Gonçalves e Porto Alegre.
"sobreVIVENTES", espetáculo da Cia Municipal de Dança de Caxias do Sul
Recuperei minhas energias e continuei minha caça a ex-bbb’s. Numa balada noturna na boate Pepsi Club encontrei Natália Casassola e Fani Pacheco (da oitava e décima edição, respectivamente). Ainda bem que minha amiga Fernanda Legnaghi me emprestou sua câmera digital. Desde então eu ando sempre com a minha, pois a gente nunca sabe quando uma celebridade instantânea pode cruzar nosso caminho. Agora só falta eu encontrar 169 ex-bbb’s pra completar a minha coleção de momentos com “nossos herooois” (se o Buba não tivesse morrido seriam 168).
Coelhinhas
Em 2011, seguindo a mesmo jeito improvisado de viajar, fui a Oktoberfest de Igrejinha-RS, e também encontrei todos os hoteis cheios, só que, dessa vez, eu não posso contar onde eu dormi. A cidade está a 85 km de Porto Alegre, tem 35 mil habitantes, e vive das indústrias de calçados. A programação de lá foi bem parecida com a de Santa Cruz: desfile tradicional de rua, festas noturnas e muita oferta de comida. Dessa vez, eu só fiquei na comida, aproveitando uma tarde de domingo apenas no Parque da Oktoberfest, onde fica o Museu do Imigrante (tipo de museu muito em comum em várias cidades gaúchas).
Museu do Imigrante - Igrejinha

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Bicho do Mato

"Eu nunca nem acessei um blog. Sou um homem trabalhador e não consigo entender essas pessoas que chegam em casa e ainda escrevem num blog." Murilo Benício, ator.
Ora, Murilo, pra subir na vida. Levei isso ao pé-da-letra em Cambará do Sul.
Calmaria: assim é Cambará do Sul
Para esta viagem não planejei nada. Depois da viagem ao nordeste, em que meus amigos e eu não planejávamos muita coisa, fiquei acostumado a só fazer o roteiro de passeios quando chego às cidades, pois uma conversa com moradores e os mapas turísticos encontrados no local ajudam demais na escolha do que fazer. Só o que faço antes é olhar o site da prefeitura dessas cidades. Dessa forma eu já tenho ideia do que encontrar e evito surpresas desagradáveis. Por exemplo: em Cambará os únicos bancos são Sicred e Banrisul. Não há caixa 24 horas e praticamente nenhum estabelecimento aceita cartão. Há serviço do Bradesco, mas só pelos Correios, logo, só de segunda a sexta. Ainda bem que eu fui sabendo disso – era sábado – caso contrário não poderia ter dormido lá. A cidade é bem pequena, com menos de uma hora já deu pra percorrer todas as ruas a pé, tanto que olhei o preço de sete pousadas antes de me decidir e optei pela mais barata, a Pousada Santos, com diária de R$35,00 em baixa temporada, com café da manhã e quarto com banheiro e TV. Fica bem perto da Casa de informações turísticas. E pode reparar uma coisa: toda opção de hospedagem mostrada por sites de prefeituras é cara. Então eu prefiro procurar pouso depois que chego. Os principais atrativos de Cambará são os cânions e as cachoeiras. No meu primeiro dia, decidi ir logo ao mais longe, o cânion Fortaleza, cujas paredes têm até 900m de altura, entrada gratuita, a 22 km da cidade, em estrada de terra. Se você não estiver de carro, pode contratar o serviço de uma agência para te levar até lá e te trazer de volta por R$120,00. Se você quiser que um guia vá junto, desembolse R$180,00. “É porque a estrada é muuuito ruim”, eles justificam. Mas se você quiser economizar, faça como eu e levante o polegar na estrada. Quando estava na Casa do Turista, fui atendido por uma funcionária que é casada com um cara de uma dessas agências. Ela dizia que eu não tinha outra opção para chegar aos cânions e que seria difícil conseguir carona naquele dia porque o movimento estava fraco. Ainda bem que, ouvindo essa história, estava uma turista de Porto Alegre, Daiana, que tinha ido a outro cânion de carona no dia anterior. Juntei-me a ela e fomos para o Fortaleza a pé, pedindo carona a todos os veículos que passavam por nós. Primeiro foi um caminhão que nos levou por cinco quilômetros. Andamos mais seis quilômetros por aquela estrada pedregosa, sob um sol quente, amaldiçoando os carros que passavam por nós e nos ignoravam. “Quanto egoísmo”, dissemos quando um casal num carro preto passou por nós lentamente e com os vidros fechados. Como queríamos um ar condicionado naquela hora... Conseguimos outra carona, que nos deixou a nove quilômetros do cânion. Mal descemos do carro e já fomos resgatados por Eduardo e Elaine, um casal bem divertido que nos levou até lá, e, como eles eram veteranos por ali, nos guiaram por vários locais e ainda nos levaram de volta à cidade ao fim do passeio. Em dias abertos, é possível enxergar dele a praia de Torres (ver postagem de agosto). Visitá-lo no inverno é uma ótima opção, porque os ventos levam toda viração embora, só que aí você precisa encarar 8 graus negativos. Se achar melhor ir durante outra estação, vá pela manhã, porque, depois do meio-dia, o tempo começa a fechar e, aí, olha o que você vai ver lá de cima:
Ponto mais alto do cânion Fortaleza
Nem adianta olhar a previsão do tempo pra visitar um lugar desses porque o tempo é totalmente imprevisível. Pode fechar e abrir com a mesma rapidez com que Silvio Santos muda a programação do SBT de horário. Você dependerá de sorte também. E foi pensando nela que fomos pra outro ponto do cânion tentar ver alguma coisa e conseguimos. Pena que nas fotos não se reproduz a surpresa que tive na hora. Ao chegarmos a este local o tempo estava aberto. Daí, foi fechando. Eduardo me chamou para dizer que ele e a mulher iriam nadar, eu me virei para dizer que tudo bem, que depois nos encontrávamos e, quando me virei para a paisagem de novo, já era possível ver tudo claro. Foi uma mudança MUITO rápida. As três fotos abaixo foram tiradas em um intervalo de tempo de, no máximo, cinco minutos:
 
Esse lugar bonito e misterioso serviu de cenários para várias produções da Rede Globo. A casa das sete mulheres, Chocolate com pimenta, Esplendor e O Profeta tiveram o cânion Fortaleza como parte de suas locações. Dizem que o mirante do cânion Fortaleza é o ponto mais alto do Rio Grande do Sul, mas é mentira. O Pico do Monte Negro, em São José dos Ausentes, é o mais alto.
Eduardo, Elaine, Daina e eu
Para a noite, o programa mais badalado de Cambará é um jantar em algum restaurante. A cidade não tem agito, o que também é uma maravilha. Dormi cedo e, no domingo, antes das 8h, já estava mergulhando nas águas da Cachoeira do Tio França (entrada R$5,00), a 3 km da cidade. As águas são escuras e refrescantes; o poço tem 8m de profundidade, porém é um lugar tranqüilo. Mesmo assim eu não recomendo ninguém entrar em cachoeira se estiver sozinho. Sempre se ouve histórias de acidentes fatais ocorridos nelas. Eu fui porque sou doido. Como é um lugar perto da cidade, vá a pé para se distrair com as paisagens e os bichos que encontrará pelo caminho:
 

Depois do mergulho, dedão na estrada de novo, para conhecer o cânion Itaimbezinho, a 18 km da cidade, também em estrada de terra. Consegui uma carona de uns seis ou sete quilômetros, andei um pouquinho e um casal num carro preto parou, me levou até lá, e, enquanto conversávamos pelas trilhas do cânion, cujas paredes têm 720m de profundidade, descobri que eles eram o mesmo casal que, no dia anterior, tinha ignorado Daiana e eu na estrada. Mudei de opinião com relação a eles, Gustavo e Marina, e decidi que não eram mais egoístas. Até me levaram de volta à cidade também. O Itaimbezinho é um parque mais estruturado turisticamente. Há bebedouro, banheiro, e as trilhas por onde é proibido caminhar estão sinalizadas. No Fortaleza não vá esperando encontrar nada disso.  Justamente por ter essa estrutura deve-se pagar R$6,00 de entrada + estacionamento.
Meus motoristas Gustavo e Marina no Itaimbezinho
Hospitalidade do Ibama no cânion Itaimbezinho. Não ultrapasse as cercas das trilhas.
 
Cambará do Sul fica a não tem nem 7 mil habitantes, que vivem principalmente do turismo e da fabricação de celulose. Fica a 193km de Porto Alegre. A cidade mais próxima está a 70km (70 km... mais próxima...!), e é São Francisco de Paula, onde eu passei meu domingo de Carnaval neste ano.
Cascata da Mão Apelada, Parque das Cachoeiras,

Depois da minha tradicional ida à praça e à igreja matriz, coisa que faço em todas as cidades, fui ao Parque das Cachoeiras, conhecer adivinha o quê? A entrada custa R$8,00 e as trilhas são para todos os níveis de dificuldade, para desde os mais aventureiros até o pessoal da terceira idade. De cara, fui logo para a trilha mais difícil e mais longa, em direção à Cachoeira das Gêmeas Gigantes, mas depois de duas horas de caminhada sobe-desce, tendo de passar por dentro de rio, desisti quando cheguei à Cachoeira da Mão Apelada. Eu sempre prefiro fazer o mais difícil primeiro, porque depois, quando já se está cansado, as outras não parecem tão difícil assim. Não bastasse minhas pernas estarem bambas por causa da caminhada, bambearam mais ainda depois de uma cobra cruzar o meu caminho. Dei um grito de susto meio Tarzan meio Janet Leigh no chuveiro de Psicose e ela saiu ligeira mata adentro. Dois marmotas, um com medo do outro. Só que, no susto, eu nem percebi para onde a cobra foi, e fiquei plantado no mesmo lugar vários minutos pensando em que caminho seguir para sair dali. Corri alguns metros e fiz alguns trechos de trilha cantando alto para assustar quaisquer bichos que pudessem aparecer por ali. Na volta, passei por mais três cachoeiras, cujas fotos eu também não consegui colocar na posição correta.
Cascata O Quatrilho

Cascata dos Pilões

Cascata da Ravina
Um dia inteiro e eu só conheci metade do parque. É um lugar que é preciso dois dias, se quiser conhecer tudo. Há outros parques na cidade também, mas esse é o mais próximo do centro, a 4 km, então dá pra ir a pé. E como a lanchonete é só na portaria, é sempre importante ter consigo uma bolsa com comida, água, protetor solar. Para não pesar a mochila, eu gosto de levar comigo pedaços daquelas barras de chocolate de 1 kg, porque dão bastante energia e não ocupam espaço. E se você está de regime, esta é uma boa maneira de comer chocolate sem se sentir culpado depois.