quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Sangue e Areia


“A Unidade é o caminho para a força, honra e poder. Já a divisão nos torna frágeis.”
Zayed Bin Sultan Al Nahyan, príncipe de Abu Dhabi desde 2004


Primeira surpresa num supermercado em Dubai.

Maçã verde, morango, limão, mojito, maçã e morango de novo, e romã, podem ser sabores de bala ou chiclete – Isso pra nós, mas, pra quem mora em Dubai, também é opção de sabor de cerveja. Eu já tinha visto essa exoticidade alimentar também na Europa, e é isso que mais me fascina quando viajo – experimentar sabores novos, e ver o diferente nas coisas cotidianas.

Outra mudança de perspectiva:
chamar pessoas com deficiência de
"pessoas com determinação".
Pra se conhecer bem a história de uma cidade, acho que ir a um museu é tão importante quanto conversar com quem mora lá. O Dubai Museum, entrada R$3,00, conta mais das histórias da época em que a cidade era só uma vila de pescadores e ainda não estava sob a gestão de Sheikh Zayed, a quem a população de Dubai agradece por tudo o que a cidade se tornou e representa hoje. Concluí isso pelo pouco que conversei também com moradores locais, espacialmente taxistas. Pelo que eu entendi, foi esse milksheike que estabeleceu uma convivência mais pacífica e tolerante entre os moradores dos Emirados, ao receber sem distinção diferentes culturas, raças, religiões e costumes, ao mesmo tempo, sem abandonar a identidade cultural dos nativos. Talvez por isso Dubai seja uma cidade tão bagunçada cosmopolita. Eu adorava ver árabes, judeus, mulheres cobertas até os olhos e mulheres de shorts, tudo no mesmo ambiente e convivendo em paz. Eles entendem tanto essa importância de as pessoas conviverem bem com as diferenças, que lá existe até um cargo político chamado de Ministro da Tolerância. Sinceramente, espero que esse comportamento se espalhe por todo mundo. Imagine você morar numa cidade onde haja 200 nacionalidades, e todos estejam em harmonia. Um taxista me disse que assalto em Dubai é uma coisa raríssima.




Logicamente há várias controvérsias ao segundo parágrafo deste texto. Assista no youtube ao documentário “O lado obscuro de Dubai” (já coloquei o vídeo aqui pra adiantar seu serviço) e veja situações de pessoas que foram desumanamente exploradas para que aquela cidade se tornasse tudo o que é hoje. Já vi também relatos de habitantes de Dubai dizendo que as coisas não são tão bonitas assim como a imagem que fica pra quem é turista. Então pode saber que houve (talvez ainda haja) muito sofrimento oculto debaixo de todas aquelas maravilhas que fizeram em cima da areia.


Vendedor tentado me convencer
a comprar um traje árabe
Conseguiu!
























Vitrine de uma loja no Mercado de Ouro
Sair às compras em Dubai é quase que passear na 25 de Março (São Paulo), só que, lá, você pagará os IOF’s de 6,38% do total da compra, se usar cartão de crédito. Os vendedores Dubaienses têm faro pra identificar turista, então já pulam em você oferecendo relógios, bolsas, trajes muçulmanos e, mesmo que você relute muito, eles acabarão te mostrando algo que te agrade. Sempre sendo chatos insistentes, eles tentam puxar conversa perguntando nossa nacionalidade. Ao ouvir “Brazil”, logo dizem: “Neymaar! Ronaldo!”. Eu mesmo resolvi vestir uma daquelas roupas de homem bomba homem árabe, “só pra tirar foto”, eu disse ao vendedor. Só que achei aquele batina branca de um tecido tão gostoso, que resolvi comprar. Sério, eu não conseguia parar de alisar aquele pano. Havia uma família de alemães na loja que estavam comprando também e achei que ficaríamos bonitinhos juntos na mesma foto. Gastei o equivalente a R$80,00 no traje completo. Até hoje estou esperando uma festa a fantasia pra inaugurar minha roupa nova. No mercado, aproveite para comprar tâmaras e pistaches, que são bem mais baratos do que no Brasil. E tudo dá pra pechinchar. Essa área de que falo é na cidade antiga, onde estão o mercado velho, o mercado de ouro, o mercado das especiarias, dos colchões, dos utensílios e tantos outros. É como dois grandes grupos de mercado separados por um rio. De um lado, o mercado novo; do outro, o mercado velho. Tem vários barquinhos (chamados de “abra”) que fazem essa travessia, e saem no máximo a cada 15 minutos. Procure por aqueles que custam apenas um dirham, ou seja, um real - pra mim, que fui em julho de 2019. Hoje um dirham vale R$1,60, então todos preços que vir aqui são de quase um ano atrás.

Achei melhor colocar a etiqueta,
pra ninguém achar que estou inventando.
O outro mercado, ou “souk” (se pronuncia súk), é um pouco mais fake planejado e arrumadinho, com ar condicionado e tudo, que combina grandes grifes mundiais com coisas típicas do Oriente Médio e fica ao lado do Burj Al Arab, aquele prédio em formato de barco a vela que qualquer pessoa vê em qualquer revista e já percebe que é Dubai. Dentro do souk é aquele ar condicionado fresquinho, batendo no seu pezinho calçado com as Havaianas que você comprou ali por mais de R$150,00. Mas deixa esse conforto de lado só um pouquinho e saia pro inferno calorzinho do pátio pra tirar uma boa foto de instagramer, depois de desembaçar os óculos e a tela do telefone de tanta humidade que tem no ambiente externo. Dubai é assim mesmo: saiu de qualquer lugar pra rua, seus óculos já viram uma tampa de marmita. Até acho que vale a pena continuar ali no forno externo pra conhecer o restante do mercado. O lado de fora é ainda mais lindo que dentro. Depois você volta pro ar condicionado pra continuar suas comprinhas, mas, se estiver na hora da reza, não incomode o vendedor. Os muçulmanos fazem muitas orações por dia, acho que cinco. Em vários momentos por dia você escuta anúncios em alto falante em QUALQUER lugar, lembrando a todos que está na hora do terço (não sei se é bem terço que eles ficam rezando, mas entendeu, né?). Então não tem jeito: mesmo se você quiser comprar esse tapete aí, que custava R$80.000,00, vai ter de esperar o carinha tirar o joelho do chão. 






Espere o vendedor acabar a reza...
...pra você comprar este tapete de R$80.000.

No trem, melhor andar na linha.
Esse mercado de que falei até agora se chama Souk Madinath Jumeirah e não fica tão próximo da estação de metrô, então é melhor pegar o ônibus. No metrô, não coma, não beba, nem masque chiclete nem dentro nem fora do trem, nem dentro de qualquer estação, porque tem multa de mais de R$100,00 se você fizer isso. Eu vi uma fiscal autuando um cara por estar mascando chiclete. Ela pediu pra ele sair do vagão e acompanhá-la. Imagino que estivessem indo conversar com alguma autoridade. Ele não brigou, apenas saiu acompanhando-a. Entre outras multas que você corre o risco de receber estão a de atravessar a rua em local proibido (R$1.000,00).







Se quiser ainda programas baratos ou grátis em Dubai, existe um tal de Gents’ night e Ladies’ night (Noite dos Cavalheiros e Noite das Damas). Alguns bares oferecem, em certos dias da semana, um certo horário de consumação de bebida alcoólica grátis seja pra homem ou pra mulher. Eu não cheguei a ir a nenhuma dessas festas, então não sei dar opinião. Mas dê um Google quando for sair à noite lá.



Burj Khalifa...
... durante o show das luzes...       
... e ao anoitecer.















Atualmente o prédio mais alto do mundo está em Dubai. Sinceramente, eu acredito que, futuramente, o prédio mais alto será em... Dubai também, porque a síndrome megalomaníaca lá é tão grande, que eu já vi no shopping a maquete de um projeto de construção de um prédio, que será ainda maior que o Burj Khalifa, que já é o maior do mundo, nem cabia na minha foto. Eu não entrei nele, mas o visitei por fora. É melhor ir à noite, que é quando acontecem os shows de luz, som e água a cada meia hora, das 18h às 23h, na Dubai Fountain.  Cada show dura quase dez minutos e é diferente um do outro em tudo: nas projeções do prédio, na trilha sonora e no movimento das águas da fonte. Depois de um tempo tentando fazê-lo caber na tela do meu celular é que Alá me iluminou e eu tive a brilhante ideia de tirar uma panorâmica, de baixo pra cima. Juro: eu nunca tinha pensado nisso. Dá pra ficar ali um bom pedaço da noite e, nos intervalos, passear no Dubai Mall, shopping ao lado, que você encontrará de tudo, até com o brinquedo dos seus sonhos, com quem você poderá dormir abraçadinho:


Banheiro masculino do Dubai Mall.
Não! Não precisa pagar.
Mesmo com tantas variedades de tudo pra se comprar, você verá que as mulheres de lá não variam tanto o guarda roupa quando saem pra rua. Ou o “pretinho básico” tava realmente MUITO na moda quando eu fui lá. Era muito engraçado vêr as muçulmanas cobertas dos pés à cabeça, entrando em grupo nas lojas de grifes mais caras para olhar os sapatos e vestidos. Ouvi dizer que elas compram, mas só usam em casa, para os maridos. E não é qualquer coisa. Eu perguntei o preço de algumas peças e tinha vestidos de R$15.000.  Nesse shopping, até mijar pode ser um momento que merece um registro. Espero que te dê vontade de ir ao banheiro lá, porque até isso é in.crí.vel.





O lugar que mais me deixava curioso em Dubai é o Palm Jumeirah, aquela ilha pertinho da praia que é um aterro em formato de palmeira quando se olha de cima. Infelizmente o acesso até lá é difícil. Fui de táxi e só desci pra tirar foto mesmo, em frente ao hotel Atlantis On The Palm. Isso tudo que conto aqui fiz em quatro dias. Mas, e se você estiver em Dubai apenas em conexão e não puder sair do aeroporto? Se for pelo menos quatro horas de intervalo, eu arriscaria sair mesmo assim, porque tem uma parada de metrô DENTRO do aeroporto e os mercados que eu mencionei estão apenas a seis estações de lá. Mas se você estiver com medo de perder alguma conexão, dá pra fazer assim: procure no aeroporto pelos selfie spots. São adesivos no chão que têm uma tecnologia 3D que te permite tirar uma foto como se estivesse mesmo no local. Caso você não resista à vontade de querer causar uma invejazinha nos amigos, tem essa opção.

Burj Al Araba visto do
Souk (mercado) Madinath Jumeirah...
Mesmo souk, do lado externo.
Gostei tanto que voltei.


O que tirei do bolso? (1AED = R$1,60 hoje)
Café no Dubai Mall – AED15,00;
Duas saladas e uma cerveja no restaurante do Souk Madinath Jumeirah AED80,00;
Táxi da Dubai Marina para Palm Jumeirah e de lá para Souk Madinath Jumeirah, passando pelo Burj Al Arab – AED62,00;
Uber do shopping Mall of the Emirates até o terminal de cruzeiros – 24km – AED65,00. Foi aí que percebi que Uber não fica mais barato que táxi lá;
Táxi do Dubai Mall até o terminal de cruzeiros – 12km – AED37,00;
Ah, pra entrar no Burj Al Arab, só com reserva no restaurante.

DICA DE TRANSPORTE PÚBLICO. Pra mim, ter o passe de metrô acabou compensando mais do que os táxis. Eu experimentei tudo: primeiro eu paguei por cada viagem, ou seja, single ticket. Ao fim do dia, percebi que teria compensado mais se eu pegasse o passe diário e foi isso que fiz no dia seguinte. Cuidado! O passe diário não vale por 24 horas, mas só por aquele dia mesmo, ou seja, à meia noite seus créditos expiram, mesmo que você tenha comprado o bilhete no fim da tarde. Depois de uma tentativa frustrada de pegar um ônibus e acabar tendo de gastar de novo com táxi, percebi que o melhor era ter o passe livre, que serve pra metrô e ônibus.

Em Dubai, até eu fico com cara de rico.