sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Uma Semana de Vida

"Somente o homem possui a capacidade de elaborar imagens de coisas ausentes, utilizando essas imagens nas mais variadas situações também imaginárias. Um objeto observado pelo olho pode remeter a outras imagens formadas a partir do olhar, o qual não é limitação da percepção do objeto em suas características físicas imediatas; o olhar é ir além, é captar estruturas, é interpretar o que foi observado."
Zamboni, inventor
Vista do Parque Tanguá.
Cheguei à rodoviária de Curitiba umas sete da manhã, ou um pouco depois disso. Um ano antes, desembarcava no aeroporto de São José dos Pinhais. Agora, ia de ônibus, por R$90,00 saindo de Caxias do Sul, em oito horas de viagem, o que foi bom porque deu pra ir dormindo. No ano passado, fui de avião por não procurar informação mesmo, por burrice. Apenas pensei: “Curitiba está a dois estados pra cima, é melhor ir de avião”. Ponto. Estipulei o que era melhor sem procurar saber de outros meios. Só agora percebi a burrada que fiz no ano passado. Paguei mais de R$100,00 na passagem de avião, mas saindo de Porto Alegre, praticamente de madrugada. Resultado: Ainda tive de pagar mais R$30,00 do ônibus de Caxias a Porto, saindo no dia anterior ao voo, dormir no aeroporto, devido à incompatibilidade de horários de ônibus de uma cidade a outra, pegar o voo cedíssimo e desembarcar em São José. Ou seja, a viagem de avião ficou mais cara, mais cansativa e mais longa do que se eu tivesse pegado um ônibus.
Reservatório do Alto São Francisco (em primeiro plano).

A razão que me levava pela segunda vez a Curitiba não era o turismo, nem neste ano, nem no ano passado, mas a oportunidade de me aperfeiçoar na minha profissão. Em 2011, fiz uma audição no Balé Teatro Guaíra e fui eliminado logo de cara. Agora, fiz uma audição para trabalhar na equipe de dança de salão da Cia Theo & Mônica a bordo de um navio do Grupo Costa Cruzeiros, e fui aprovado. Por acaso, descobri um curso de capacitação para professores de dança de salão ministrado na unidade curitibana Oito Tempos Escola de Dança que seria nos cinco dias seguintes ao dia da seleção.
Lago do Parque Barigui. Ao fundo, entre as árvores, a Torre Panorâmica.

A audição era no domingo de tarde, então ainda dava pra ser turista por algumas horinhas, na parte da manhã. Comecei pelo estádio do Atlético Paranaense, mas dei com a cara na porta, porque o estavam reformando para a Copa do Mundo. Então peguei um ônibus (falei na outra publicação sobre Curitiba e repito: é muito fácil andar de ônibus lá, ainda mais que, aos domingos, a tarifa é R$1,00) e fui para o Parque Barigui, buscando preencher a lacuna de pontos turísticos que não consegui conhecer na vez anterior. Esse parque é um lugar perfeito para caminhadas e pedaladas, na pista que circula um imenso lago e que passa ao lado de um centro de exposições. Por R$20,00, vi réplicas de gesso de esculturas de Michelângelo.
Museu do Automóvel.

Depois, tomei um caldo de cana e paguei R$5,00 para uma visita ao Museu do Automóvel, que fica na frente, e que dá pra ver em 15 minutos se o seu interesse por carros for tão pouco quanto o meu. Fui mais porque estava num momento turista e não queria ir embora com a sensação de ter visitado pouca coisa na cidade. Eu sempre faço isso. Às vezes visito lugares pelos quais nem tenho tanto interesse, mas é porque não suporto a sensação de ter deixado alguma coisa “pendente” pra trás. Melhor me arrepender de ter ido do que de não ter ido. É como se eu tivesse a obrigação de ter de ir ali, já que sou turista.
Mirante do Belvedere e ruínas do que seria a Igreja de São Francisco, obra inacabada.

Penso que ainda preciso voltar, porque há ainda muito o que se conhecer em Curitiba. Minha meta da terceira visita é fazer o tão elogiado – e caro – passeio de trem à cidade de Morretes. Não ir a determinado lugar, para mim, é como deixar de fazer o dever de casa. Deve ser um tipo de TOC de peregrino.
Com Gisele e Nalu jantando no Café Mafalda, perto do Teatro Guaíra.

Passado o domingo, aí, sim, comecei a me sentir mais pertencente ao lugar. De segunda a sexta foi meu curso na Oito Tempos. Que bom que o membro do Couchsurfing John me hospedou. Conversar com ele foi uma aula de Inglês e Geografia. Essas amizades que faço com pessoas a princípio desconhecidas são a melhor parte da filosofia Couchsurfing, que vários amigos meus pouco compreendem e que minha mãe, então, acha absurda. Lá pela quarta-feira, depois de três dias tendo a mesma rotina – acordando cedo, saindo da mesma casa, indo pra mesma escola, indo almoçar no mesmo bairro, pegando os mesmos ônibus – a sensação de ser turista desaparecia um pouco e a familiaridade já me dava a impressão de estar morando ali. Mas aí eu via uma lojinha vendendo ímãs de geladeira ou chaveiros com imagens  da Ópera de Arame ou dos ônibus biarticulados grandões e o comportamento de “turista japonês” vinha à tona. Aí eu saía à noite para alguma casa de forró como a Sociedade Treze de Maio e os curitibanos se misturavam com os forasteiros e eu não sabia de mais nada.
Flagra: Duas tartarugas namoram no zoológico do Passeio Público.

Meu amigo Ian cooorre dos pontos turísticos. Eu não corro, mas confesso que há um tipo de turismo bem mais interessante, quando não existem planos rigorosos sobre o que se vai visitar ou conhecer, quando o nosso olhar está bem mais atento às sutilezas do lugar e à vida cotidiana daqueles que ali habitam em vez de mirarem uma estátua grande de não sei quem no meio de uma praça.
Flagra 2: Crianças pensando em como recuperar a bola que caiu no lago do Parque São Lourenço.
É bom voltar pra casa com mais sensações, divagações, experiências e amizades, e com menos fotos na câmera digital. Quer dizer que agi mais como um nativo do que como estrangeiro.