terça-feira, 25 de setembro de 2012

Água na Boca

"... Assim também vós estais sem entender? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e é lançado fora? Assim declarou puros todos os alimentos."
Jesus Cristo, Marcos, 7:18-19.
Eu, Carmen, Pedro e Carolina no Restaurante Sbornea's.

Moro na Serra Gaúcha há dois anos e mesmo assim estou sempre redescobrindo esse lugar. O meu estômago é quem costuma chefiar essas expedições de redescobertas. O que eu mais aprendi nesse lugar é saborear uma comida bem feita, a ter uma alimentação de qualidade, a valorizar cada grão de arroz que me é posto à mesa, e a reconhecer um povo pelo que ele come. Aqui não faltam opções de restaurantes italianos e churrascarias, principalmente, com buffet livre ou a quilo, sem contar os restaurantes de comida chinesa, japonesa e vegetariana. Quase todo final de semana, pra mim, é uma oportunidade de o meu paladar re-conhecer essa terra saborosa. Na região colonial de Bento Gonçalves, um rodízio incrível de comida típica é possível de se encontrar no Restaurante Sbornea’s, no Vale dos Vinhedos. Sopa de agnoline, grôstoli e polenta frita são minhas coisas favoritas. Todo tipo de massa aqui no sul é deliciosa. Eu nunca tinha ouvido falar de agnoline (o mesmo que capeletti), tortéi e outros tantos tipos de massa, porque várias delas só existem em terras gaúchas mesmo. Uma vez eu ouvi alguém esquecer do nome tortéi  e descrevê-lo como “pastelzinho de jerimum”, porque essa massa tem um formato quadrado e recheada com abóbora. Uma das minhas favoritas. Todas são minhas favoritas.
Entrada da vinícola Luiz Argenta.
Um brinde na Vinícola Salvador.

Nem só de comida eu vivo aqui, de bebida também. Em Flores da Cunha, maior produtora de vinhos do país, conheci duas vinícolas fantásticas, impossível dizer qual é a melhor, pois cada uma tem seu diferencial. A Luiz Argenta impressiona com tanta tecnologia, com seu terreno enorme com os parrerais dispostos de forma alinhadíssima e com um prédio de desenho futurista ao lado do antigo prédio da vinícola, belíssima vista. A Vinícola Salvador é menor, mas mais aconchegante, e você é recepcionado pelo proprietário e sua esposa. Nesse caso, as palavras do guia têm outro valor, pois tudo ali tem grande valor sentimental para ele. Mas nas duas você conhece todas as etapas da produção dos vinhos. O vídeo abaixo mostra apenas uma delas, a de como as uvas são separadas dos cabos, filmado na vinícola Salvador.

Pra cair na esbórnia de verdade, o melhor é vir em época de alguma festa típica. Na publicação do mês passado, falei da Festiqueijo, em Carlos Barbosa, que é sempre em julho. No mesmo mês, em Caxias do Sul, acontece a Festa do Vinho Novo, mas só de dois em dois anos, igual a Festa da Uva, que é em fevereiro. A Uva e o Vinho são tão mais cultuados pelo povo daqui que o Carnaval é praticamente inexistente, tanto que vários estabelecimentos ignoram esse feriado. Tem comércio que abre as portas na terça-feira de Carnaval. Festa de verdade, pra eles, é a Festa da Uva, com desfiles de carros alegóricos, concurso de princesa e rainha da uva, parques de exposições com tudo quanto é tipo de uva exposta, e até pastel de uva para experimentar. A fonte da principal praça de Caxias recebe um corante roxo, pra dar a aparência de que jorra suco de uva, e o principal jornal da cidade, é impresso com aroma de uva durante dias. Surreal. Em Caxias e em São Francisco de Paula, também há a Festa do Pinhão, sempre em junho. Tive a honra de participar do desfile cênico-musical da Festuva deste ano, com a Cia Municipal de Dança de Caxias do Sul:
Foto de Juan Barbosa.

A Fenakiwi em todo mês de maio, em Farroupilha; a Festa do Figo é em fevereiro, em Nova Petrópolis; a Femaçã é em abril, em Veranópolis; e a Fenavinho é na mesma época, mas em Bento Gonçalves. Essas duas últimas festas são a cada dois anos. O formato é parecido com a Festa da Uva – concurso de princesa e rainha, exposição das frutas e parque de exposições com diversas receitas tendo essas frutas como ingrediente principal, mas nenhuma festa ganha da Festuva em fama e projeção. O preço de entrada para essas festas têm a mesma média, variando de R$5,00 a R$10,00. Em Veranópolis, terra do ator José Lewgoy, há uma torre de aproximadamente 80 metros de altura de onde você consegue avistar Caxias do Sul e Bento Gonçalves, pagando R$5,00. No alto desse mirante há também um restaurante giratório, que leva duas horas para completar um giro de 360 graus. Visite também o Museu da Cidade (Sociedade Alfredo Chaves).
Torre  Mirante da Serra, em Veranópolis.

Quando visitei a Fenavinho, no ano passado, aconteceu uma história curiosa. Passei a tarde na festa e me programei para voltar para Caxias no último ônibus do dia, que saía às 21h30 de Bento. Ao chegar à rodoviária, fui informado de que o último horário, na verdade, era às 21h. Só que não era isso que o quadro de horários que estava ali na rodoviária, na minha frente, estava dizendo. Bem, procurei um hotel barato, paguei R$42,00 por um quarto individual, sem banheiro ou TV, mas com café da manhã, e, no dia seguinte, fui atrás do responsável pelo erro de informação, que seria a empresa de ônibus. Contei ao responsável o meu caso, pedi reembolso do que gastei com a diária do hotel, eles admitiram o erro e me pagaram os R$42,00. Simples assim.
Fenakiwi: pena que esses são de mentira.
Outra curiosidade: algumas frutas são pronunciadas de maneira diferente no Rio Grande do Sul. Caqui e Kiwi aqui são paroxítonas e o w dessa última tem som de v. Assim, não estranhe se ouvir cáqui e quívi.