quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Império


“A União é meu desejo e o objetivo que almejo, para o benefício dos povos dos Emirados”
Zayed Bin Sultan Al Nahyan

Eu na frente da Grande Mesquita Sheikh Zayed...

...olhando os grupos de turistas tirando foto na frente dela.
Uma vez conheci um turco que acha a Grande Mesquita de Abu Dhabi uma das coisas mais sem graça que ele já viu. Talvez por ele ser de Istambul e já estar acostumado a ver mesquita toda hora. Mas, pra mim, achei uma construção muito interessante e imponente. Ao contrário da maioria das igrejas católicas barrocas, que também acho imponentes, a Sheikh Zayed Grand Mosque tem um visual mais limpo e neutro, sem aquelas tantas esculturas e pinturas dos templos católicos. Mesmo assim, achei que tinha muitos detalhes pra se observar, como as flores de mármore nas paredes, os quatro minaretes de mais de 100m de altura, os detalhes das 82 cúpulas, um lustre de 12 toneladas sobre um tapete de tamanho correspondente a nem me lembro mais quantos campos de futebol e que pesa mais de 30 toneladas e que levou não sei quantos anos pra ser feito. Disseram que esse tapete era de peça única, mas, pra mim, não tinha muita lógica ele ser assim, fiquei meio desconfiado. Todo esse exagero Toda essa grandiosidade, segundo alguns, é porque a arte islâmica é capaz de transformar o Deus invisível em algo visível. Julgando pelo visual dos templos católicos e até de alguns templos evangélicos, talvez seja esse também o pensamento das outras religiões.

Pátio da mesquita.
Lustre de uma das salas de oração.

O mais engraçado, pra mim, foi que isso tudo me deu a impressão de estar entrando num patrimônio milenar da humanidade, mas na verdade a mesquita é super nova. Levou 11 anos pra ser construída e ficou pronta em 2007. As visitas guiadas pelo local saem a cada hora, duram quase uma hora e vale a pena esperar. Quando você viaja pra um lugar que tem uma cultura muito diferente da sua, é bom se atentar às regras antes. Pros homens: não usem regatas, mas também não precisa ser camisa de manga comprida. Se sua bermuda cobrir seu joelho, tudo bem você ir com ela. É por isso que, quando viajo, sempre levo minha calça que vira bermuda – por causa das mudanças de temperatura e por regras de vestimentas de alguns espaços. Já pras mulheres, se eles acharem que sua roupa é um pouquiiiinho indecente, já vão te cobrir com uma túnica e você deverá ter os cabelos cobertos durante a visita toda. Vi uma senhora que tirou uma foto com a cabeça descoberta dentro da mesquita. A funcionária pediu pra ela apagar a foto. Atenção: antes disso tudo que eu falei, quando o taxista te deixar lá na frente, não vá direto para o prédio da mesquita em si. Na frente dele, tem uma casa de formato oval, que é o centro de visitantes. Você precisa entrar lá, pra fazer seu registro, imprimir seu bilhete de entrada, e pegar emprestado um traje “decente”, se for o caso. O banheiro é algo bem curioso. Não existe vaso, mas um buraco no chão, como muitos banheiros nos Emirados. E existe um lavatório central, pra você se sentar e lavar seus pés, algo comum também de se fazer antes das orações.

Salão principal e seu lustre e tapete incríveis.
Área do banheiro reservada pra lava pés.


Horizonte de Abu Dhabi no verão.
Tanto em Abu Dhabi quanto em Dubai, olhar o horizonte é uma coisa tão estranha, porque parece ter sempre uma névoa pesada, que não te deixa ver claro o que há ao longe. É como se sua vista estivesse sempre embaçada. O calçadão, à beira da praia, lá eles chamam de Corniche. Nem pense em andar sem camisa – é indecente.

Abu Dhabi e Dubai são separadas por uma hora e meia de viagem de ônibus. Na rodoviária das duas cidades, não consegui comprar a passagem com cartão de crédito, o que me surpreendeu muito, porque, com toda aquela arrumação, tecnologia e bando de pessoas ricas andando pra lá e pra cá, não imaginei que eu tivesse de ir a um caixa automático pra sacar dinheiro pra conseguir comprar a passagem. Os taxistas lá me pareceram honestos. Na rodoviária, perguntei: “Moço, quanto aproximadamente dá uma corrida até o Palácio Presidencial?”. Ele disse: “Uns 26 ou 27 dirhams”. Deu AED28,00 e não parecia que estavam dando voltas comigo. Eles só viajaram na maionese ao dizerem que não paga pra entrar no Palácio. Na verdade, se você quiser ir somente à biblioteca é que você não paga. Mas, pro Palácio Presidencial, Em Abu Dhabi, se paga AED60,00, incluso o show de som e luzes, projetados no Palácio, mais ou menos às 21h.

Entrada da biblioteca do Palácio.
Dentro da biblioteca. Entrada gratuita.

Esse Palácio, chamadoo Qasr Al Watan, ou Presidential Palace, é bem impressionante, e tem um esquema bem rigoroso pra se entrar. Não pode entrar com comida na bolsa, mesmo que você jure não comer lá dentro. Até meu guarda chuva ficou pra trás e minha garrafa d’água. Mas é lógico que não mandei na-da pro lixo. Consumi tu-do ali na porta, mesmo sem vontade. Se tivesse tecla SAP pros olhares dos árabes que me viam comendo aquele tanto de coisa sem nexo na porta de um palácio, eu traduziria como: “Que coisa de pobre!”.

Interior do Palácio Presidencial.
Pátio do palácio.






Os turistas ainda mal conhecem esse Palácio. Foi aberto a visitação há um ano apenas, e você pode conhecer a biblioteca, o grande salão e a grande variedade de mosaicos, e outras salas de exposições que contam sobre a história dos donos da porra toda sheikhs. A estrela de oito pontas que aparece bastante nos mosaicos é um desenho muito frequente nas artes árabes em geral. O bom dessas exposições é que elas eram pequenas e bem objetivas, então, a gente ainda consegue sair com a sensação de que viu “tudo”. Não podia faltar um lustre de 12 toneladas também, pra provar a fixação que essa gente tem por essas grandes luminárias. Pena que, neste dia que eu peguei o ônibus de Dubai pra Abu Dhabi, cheguei a Abu Dhabi às 16h e saí do Palácio às 19h45. Então tive pouco tempo pra revisitar o Emirates Palace, outra obra arquitetônica megalomaníaca de quem tem complexo de pau pequeno grandiosa e maravilhosa que só eles sabem construir. Ah, calma. Vou te contar do primeira vez que eu fui ao Emirates Palace.

Dentre as coisas que se vende na loja do
Palácio Presidencial...
... estão os chocolates feitos com leite de camelo.























Docinho de R$60,00 na "lanchonete"
do Emirates Palace.
Bem, visitei o Emirates Palace, um hotel que você pode entrar sem ter feito reserva e onde você pode tomar um café com folhas de ouro em cima do creme (não lembro o preço), ou escolher que tipo de luz você quer quando entrar no banheiro (pelo menos mijar eles te deixam ir de graça). Se quiser reservar um quartinho, a diária do mais barato é AED6.000,00 (não errei na digitação. É seis mil mermo). No saguão, em frente à cafeteria, havia arpistas que tocaram durante MUITO tempo. Acabei passando a tarde toda ali. Estava me sentindo tão rico... Talvez, pode acontecer com você de o segurança não te deixar entrar de bermuda e chinelo, mas eu vi pessoas lá dentro vestidas assim (talvez fossem hóspedes, então estavam pagando, então podiam... Não sei). Ainda bem que, na dúvida, sempre visto minha calça que vira bermuda (sim! Ela de novo. Tô até pensando em fazer um texto só pra ela), então foi só emendar as partes que cobrem a canela com um zíper e estar vestido apropriadamente pra entrar.








O banheiro de árabe é bem diferente do da sua
casa, que mais parece banheiro de indigente
Ao tirar suas fotos nesses países, é sempre bom tomar cuidado para que as pessoas não pensem que você está tirando foto delas e se sintam desrespeitadas. Se tirar foto de alguém, faça-o MUITO discretamente. Comigo mesmo aconteceu, ao chegar a Dubai, de estar acontecendo uma chuva artificial, que eu nem sabia que existia. O segurança do shopping me disse que eu não poderia filmar a chuva. Eu realmente tive sorte de ver uma chuva esse dia, porque, não sei se você tinha se dado conta, mas Abu Dhabi é um de-ser-to. A gente olha todos aqueles arranha céus e carros luxuosos e lojas de grife e esquece que esse império todo foi construído em cima da areia. Ah! Mas tem sempre uma coisa pra te lembrar: quando você pisar pra fora do hotel, o calor de 48 graus (em julho) vai te fazer pensar que foi o satanás que abriu a porta pra você. Não pense que à noite fica mais fresquinho, porque a sensação de estar perto do capeta é quase a mesma, até de madrugada. Claro que no inverno não é tão assim, a média é de 30ºC. Tem dia que faz até uns 20 grauzinhos.


Claro que não. Nos Emirados eles cagam chique, meu amor. 
Se você chegar de navio de cruzeiros, fique atento ao serviço gratuito de ônibus que, do porto, te deixa no Abu Dhabi Mall. Em Dubai, a mesma coisa. Aí é melhor se, do shopping, você pegar táxi pros locais onde quer visitar. Os preços abaixo são de julho de 2019:

Quanto tirei do bolso? (hoje 1AED = R$1,60)
Táxi de Abu Dhabi Mall até a Grand Mosque – 17km – AED44,00
Salada num restaurante da Marina Mall – AED24,00
Táxi da Marina Mall até o Palace of the Emirates – 2,5km – AED 15,00 (também achei esquisito; depois é que eu percebi que esse motorista deu volta)
Táxi do Palace of the Emirates até o terminal de cruzeiros – 11km – AED26,00
Ônibus Dubai – Abu Dhabi AED29,00 – Pergunte sobre descontos para idosos, se for seu caso.
Táxi da rodoviária de Abu Dhabi até Palace of the Emirates – 8km – AED28,5. O caminho reverso custou AED26,00. O taxista tentou nos convencer a pagar AED250,00 pra nos levar até Dubai, mas, mesmo que a passagem de ônibus da volta já não estivesse comprada, não valeria a pena. A gente não tinha essa pressa toda.



Os táxis têm tarifas fixas. Você as encontra fácil em qualquer veículo.