“Qual é o brinquedo preferido dos argentininhos? R: O yo-yo”.
mais uma piada que diz que argentino é arrogante; na prática, não é assim.
Foto 2013 que tirei do Estádio La Boca. |
Foto de 2018 no mesmo lugar. |
Bem, o que eu, como brasileiro,
posso falar sobre a minha experiência das várias vezes que fui a Buenos Aires (se
somados os dias, totalizariam quase três meses passados nessa cidade), é que
fui muito bem recebido por todos, em hoteis, restaurantes e outros serviços que
oferecem. Só aconselho desconfiar mesmo dos taxistas. Famosos por espalharem
notas falsas pela cidade, em 2012 eu fui preparado e conferia cada nota que recebia de
troco deles. Mesmo assim, numa ocasião, quando fui trocar os pesos argentinos
por pesos uruguaios em Montevidéu, o atendente me devolveu a nota de ARS$10,00
(dez pesos) porque era falsa. Lembrei que só podia tê-la recebido na última
viagem de táxi que fiz, pois ao descer, apressado, não conferi o troco. O
prejuízo não foi grande. Algo como quase dois reais. Mas a cotação do peso
argentino variou MUITO nos últimos anos. Na última vez que fui, ARS$10,00
valiam R$0,50. Então, confira no Google para saber a cotação da sua moeda.
La Boca. |
Outro lugar super normal de turista pagar mico é no ônibus, pois o sistema é um pouco diferente do brasileiro. Entre com muita certeza de onde você descerá porque o preço da tarifa que será descontado no seu cartão SUBE é colocado pelo motorista logo na entrada, dependendo da informação que você der a ele. Não há mais aquele sistema das moedas, que eram depositadas numa máquina atrás do motorista. Agora você pre-ci-sa ter o cartão SUBE, uma “tarjeta” que você compra em quase qualquer “kiosko” (lojas que vendem diversos tipos de produtos) e recarrega em dinheiro, para usar nos ônibus, metrôs e trens da cidade. Pelo menos, melhorou. Na primeira vez que fui, a gente depositava o dinheiro numa máquina que SÓ aceitava moeda.
Casa Museu Sarmiento. |
E sobre andar de trem, como será?
Quando fiz um passeio de trem até a cidade de Tigre, as tarifas eram $20,00
(vinte pesos argentinos), mas, com o cartão SUBE, o preço saiu pela metade ou
até menos. São mais de 30 km desde a estação Retiro até o Tigre, quase sempre às
margens do Rio de La Plata, e dá pra descer em alguma estação e depois pegar o
próximo trem. Ao longo das mais de dez paradas, podemos descer em qualquer uma
sem precisar comprar outro bilhete ao reembarcar. Depois de descer, a gente
sabe que o próximo trem virá em trinta minutos e, assim, podemos continuar o
passeio (lembre-se que, por conta da pandemia, talvez esse intervalo esteja maior).
Esse tempo é o suficiente para conhecer um pouco de cada estação, cada uma com
algo diferente a mostrar. Mas só duas me pareceram interessantes: na Anchorena
vê-se bem o Rio La Plata, que talvez você não ache bonito, já que a água tem
uma cor marrom; na estação San Isidro, há galerias, uma igreja e praças
bonitas.
Visitei a cidade do Tigre duas
vezes. Na primeira, apenas conheci o Museu Naval e caminhei pelas margens do
rio tomando um sorvete de doce de leite. Na segunda, fiz o passeio de barco de uma
hora por ARS$120,00, mas havia também a opção de passeio de duas horas. Há saídas
de diferentes empresas o dia todo (o preço era o mesmo). Uma gravação em áudio explica
o que se vê, mas achei difícil de entender. Mesmo assim, adorei. Foi
interessante navegar pelos canais como se estivesse andando de ônibus ou de
carro, porque os canais têm nomes, como as ruas, e são cheios de casas, há até
igreja e escola. Passamos pela Casa Museo Sarmiento, onde viveu o ex-presidente
Sarmiento, que está coberta por um vidro para protegê-la melhor das ações do
tempo. O Puerto de Frutos é um bom lugar de se ir depois desse passeio, para
almoçar e olhar os artesanatos. Na volta, quem sabe se você desce na estação de
trem Belgrano e conhece o Barrio Chino (a Chinatown de lá), mas, pra quem já
conhece o bairro Liberdade, de São Paulo, é bem sem graça.
Museu do Humor constrastando com os arranha céus de Porto Madero. |
O Rio de La Plata também pode ser
visto a partir da Reserva Ecológica Costanera Sur, no lado leste de Puerto
Madero, tendo-se a opção de três trilhas para caminhar. Não são trilhas
estreitas, são como estradas de terra por onde passam ciclistas, corredores, ou
pessoas a passeio. Em um determinado trecho, vê-se o rio. A reserva tem entrada
gratuita e não abre às segundas-feiras. Quando eu visitei, não achei bonita.
Mas me parece que houve reformas, então talvez esteja melhor. De qualquer
forma, ela fica bem perto de Puerto Madero. Então, se não gostar de lá, o
passeio por Puerto Madero e seus arredores vale a pena.
Antiga estação ferroviária transformada em outlets em Palermo. |
Palermo é um bairro por onde gosto muito de caminhar porque o acho muito bonito e sinto que é um lugar onde a criatividade argentina bastante se expressa. A arquitetura, os grafites, as vitrines das lojas... Tudo parece querer passar uma mensagem, não apenas ser bonito. Por isso, o bom desse bairro é andar por ele. O Distrito Arco Premium Outlets é uma antiga estação ferroviária reformada e transformada numa espécie de shopping center a céu aberto. Mesmo sem comprar nada, vale a pena o passeio. Meu único gasto foi com um prato de molejas (pronuncia-se “mojerras”), uma glândula do boi, uma novidade deliciosa pra mim.
Mariano, o melhor guia de turismo que já conheci. |
Não gostou da opção de almoço?
Então pegue um ônibus ou qualquer outra coisa e desça várias quadras da Avenida
Corrientes (você já estará nela), até a Pizzaria Guerrín, na Avenida
Corrientes, 1368. Recomendo o sabor queijo com cebola. Falando assim, pode soar
como algo sem graça, mas você precisa mesmo ir a essa pizzaria, nem que seja de
passagem rápida durante o dia e pegar apenas uma fatia de pizza ($40,00 em
média) ou uma fogazza. A massa é deliciosa e o recheio é muito generoso. É a
pizza mais gostosa que comi na vida.
Palácio das Águas Correntes. |
A um quilômetro dali, uma das
maiores surpresas que a Argentina já me deu: o Palácio das Águas Correntes é um
museu que te conta a história do... tratamento da água e esgoto! Nunca vi isso
em lugar algum do mundo. É uma pena que poucas pessoas saibam da existência
dele, eu mesmo só o conheci na última vez que estive em BUA (já fui mais de dez
no total). É impossível não passar despercebido diante daquele monumento de
três andares em cerâmica vitrificada, já que o tamanho, a beleza e o fato de
estar numa avenida conhecida (Córdoba) ajudam. Mas poucos turistas desbravam
seu interior e aprendem sobre a evolução do saneamento básico da capital, desde
o tempo em que a falta de asseio da captura da água do Rio de la Plata e as
doenças resultantes disso obrigaram a construção do prédio, pra que todo o
processo da captura e distribuição de água e esgoto da cidade fosse feita com
cuidado e asseio. No início, causa estranhamento saber que peças foram trazidas
da Europa pra embelezar o quê?... Um tanque de água! No entanto, quando li que
essa foi uma maneira de se dar valor à higiene pública, fiquei ainda mais
deslumbrado. Com o crescimento de BUA, a estação de tratamento passou a outro
lugar e o Palácio virou um museu, um dos mais surpreendentes que já visitei,
ainda mais com essa mensagem de se engrandecer um prédio responsável pelo
saneamento básico, que, infelizmente, não é algo tão básico para muitos.
De todas as formas de se locomover pela cidade, faltou só falar do metrô, um meio
de transporte que é também um atrativo turístico, por ser o mais antigo da
América Latina. Na linha mais antiga, a linha A, cada estação tem uma cor e
mosaicos nas paredes, devido ao grande número de analfabetos da época de sua
inauguração (1913), então as pessoas se guiavam pelas cores da estação. Viu
como indo a qualquer lugar, em qualquer época e por qualquer transporte, BUA é cheia de
novidades?
Vista de quem chega a BUA pelo Aeroparque. |
Mais informações:
Para dançar tango, Villa Malcom ($130,00 pra entrar) ou Salón Canning ($150,00), mas La Viruta é pra onde todo mundo vai. Mas antes da meia noite, só dá turista. Depois é que os argentinos chegam.
Aos domingos os metrôs circulam com maior tempo de parada entre as estações e com menor velocidade.
https://museoroca.cultura.gob.ar/
https://www.buenosairesturismo.com.br/passeios/tigre-delta.php
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