quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

As Asas São Para Voar

"Voar não é perigoso. Perigoso é cair."
Frase de parachoque de avião.
Saindo de Guarulhos-SP, o primeiro aeroporto da minha vida.

Sou apaixonado por aeroportos, mesmo quando enfrento atrasos de seis horas, relato que está mais detalhado no texto “Sol de Verão”, de junho de 2011. O aeroporto de Porto Alegre já é sinônimo de hotel pra mim. Depois que dormi nele pela sexta vez, parei de contar. Entre 23h e 5h não há ônibus que vá de Caxias do Sul para Porto Alegre e vice-versa, e a maioria dos voos que tomo estão próximos desse horário. Assim, N vezes cheguei  lá e já não podia ir pra Caxias, e N vezes saí bem antes, porque meu voo saía de POA cedo na matina. Ao menos lá tem uma livraria 24 horas, um saguão de exposições e um terceiro piso com uma sala de TV e um cantinho silencioso e escuro, onde dá pra tirar um cochilo, depois de muito custo achar uma posição (des)confortável naquelas poltronas. Desculpe, leitor, deu pra entender o que é POA? Se não, é porque você não tem tanto costume de voar. POA é o código do aeroporto de Porto Alegre. Enquanto lê esse texto, mostrarei a você alguns dos códigos de três letras que os aeroportos têm.
Obra que o artista Hugo França fez com uma árvore morta - POA

Não sei o porquê de gostar tanto de terminais de voo, onde o normal são pessoas (inclusive eu) ficarem exaustas de tanto esperar – um lugar tão relacionado a despedidas e ao medo que tanta gente (até Justin Bieber) tem de voar. Esse problema eu nunca tive, nem no meu primeiro voo, que foi de Guarulhos (GRU) a Nova York, em 2008. E adoro turbulências e todo o resto. O chacoalhar do avião; o solavanco que a gente leva ao aterrissar; a pressão do corpo contra o encosto do assento ao decolar; os biscoitinhos, que, ultimamente, têm deixado de ser “grátis” para serem cobrados por preços tão absurdos quanto aos de qualquer comida vendida em qualquer aeroporto; as demonstrações de segurança realizadas pelos comissários, e seu inglês à la Joel Santana; a leitura das revistas de bordo bilíngues, tudo isso me fascina. Meu único incômodo é a pressão nos ouvidos. Com tudo isso, qual é a graça de se andar de ônibus? Meu amigo Ian Guest diz que quem gosta de viajar de avião é porque não tem tesão de viajar. Desculpa, Ian, mas eu não troco isso tudo por aquela imundície tão típica de qualquer rodoviária. Se bem que é legal observar as cidades e as paisagens por onde o ônibus passa. Mas de avião dá pra ver isso tudo de cima, de uma perspectiva que me faz sentir mais voyeur, praticamente um Big Brother, porque parece que todas aquelas pessoas e carros que se movem lá em baixo ignoram totalmente a minha ausência (e ignoram mesmo!).
Vista aérea de Buenos Aires - Argentina
Quase pousando em Assunción - Paraguai
O aeroporto de Montevidéu não te lembra Oscar Niemeyer?

Vista de Ushuaia (USH) - Argentina

Nem mesmo as viagens longuíssimas que já fiz deixaram de ser divertidas. Em janeiro desse ano, um voo POA-EZE, que, se fosse direto, deveria durar uma hora, durou seis, porque o avião saiu de POA, parou no aeroporto de Curitiba (CWB), que na verdade fica em São José dos Pinhais, depois foi pra Assunción (ASU) e só depois para Buenos Aires – EZE é o código do aeroporto de Ezeiza. Bem, fazer o quê, se é pra pagar mais barato, né? Situação semelhante eu e a Companhia Municipal de Dança de Caxias do Sul passamos para ir de Caxias (CXS) a Uberlândia (UDI) em novembro. Saímos de Caxias às 15h30, descemos em Curitiba, tomamos outro voo para Belo Horizonte (CNF), que tem um aeroporto na Pampulha (PLU), mas o principal fica na cidade vizinha de Confins, e só depois descemos em Uberlândia, quase às 2h. Pra voltar, um pouco menos de trabalho: de Uberlândia a Congonhas (CNG)-SP, e de lá a Caxias, tudo isso em três horinhas, apenas.
Uberlândia - MG, toda quadradinha.

Com a Cia de Dança em Congonhas - SP

Alguns voos mudaram minha vida. Os dois primeiros, quando fui aos EUA e voltei, nem preciso dizer o quanto essa mudança me transformou. Os outros dois são o meu quinto voo, quando fui de mudança para Caxias do Sul, e o último, será amanhã, quando deixarei de morar aqui e enfrentarei quase um dia de viagem. Sairei daqui a algumas horas, às 2h45 e acho que chegarei a Mariana-MG umas 18h, tempo esse dividido entre dois voos e três ônibus. Saí de Minas há dois anos deixando tanta gente querida pra trás e uma terra maravilhosa para encontrar a mesma coisa (gente maravilhosa e uma terra querida) no Rio Grande do Sul, de que já me despedi e onde quero pousar novamente um dia, se o sol não derreter as minhas asas.
Aeroporto Internacional John Fitzgerald Kennedy (JFK) - Nova York