“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na
intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas
inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
Fernando Sabino, escritor.
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Uma de nossas zoadas em Punta del Este. |
André, Letícia, Viviane, Marcelo,
Tiago, Fabiane, Paulo, Fabrício, Karen, Rosângela, Patrícia, Ton, Rafael,
Juliana, Caroline e eu éramos jovens (alguns nem tanto) que sonhavam em
trabalhar num navio. Em 2013, alguns de nós podemos realizar esse sonho;
outros, já o tinham realizado antes e estavam repetindo a experiência.
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Brincando num playground em Porto Belo - SC. |
Fomos a trabalho, só que não. É
que nem parecia muito que estávamos trabalhando. A maioria de nós trabalha com
dança; outros, se não trabalham, a têm como uma das coisas mais prazerosas da
vida. Nossa função era dar uma hora de aula de dança de salão pela manhã (nem
sempre); outra pela tarde (sempre); e animar as festas do navio das 21h30 às
2h, fosse dançando com os hóspedes ou fazendo passinhos à frente da banda para
que eles nos copiassem (mais do que sempre). Embora às vezes levantássemos
mortos de sono para a aula da manhã; ou que o sol durante a aula da tarde
torrasse nosso lombo; ou que o pé, ombro ou costas já estivesse em carne viva
pra aturar a maratona de quatro horas de dança com hóspedes na maioria das
vezes descoordenados para fazer dois pra lá dois pra cá, havia uma imensidade
de coisa que compensava tudo o que estávamos vivendo, a começar pela companhia
que fazíamos uns aos outros e das simples, mas muito divertidas histórias que
vivemos.
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Nos alongando um pouquinho antes do trabalho. |
Um dia, em Portobelo-SC, alguns
de nós que estávamos na equipe de personal do Cruzeiro Tango & Milonga
pagamos R$10,00 cada um por um passeio de barco que levava do porto até a ilha
de Porto Belo. O guia parou o barco para que pudéssemos nadar até a parte de
trás da ilha e voltássemos. Quase chegando, Marcelo começou a se afogar e
começou a gritar desesperado por falta de resistência. Henrique tentou ajudar,
mas não aguentou e começou a pedir por socorro também. Eu e não me lembro mais
quem os puxamos até uma pedra na ponta da ilha enquanto outros voltaram até o
barco e buscaram coletes para puxá-los de volta. Um bando de fiasquentos.
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Henrique e Marcelo morreram na praia. |
Numa outra ocasião, numa agência
bancária no Rio de Janeiro, Fabiane sacou um dinheiro, mas, não sei como, uma
nota de dez reais caiu em um buraco que havia no caixa automático. Espiando
pelo buraco, conseguíamos ver a nota no chão, mas não era grande o suficiente
para enfiarmos algum objeto e arrastá-la. Então, uma pessoa teve de enfiar um
objeto fino numa fresta entre o chão e a máquina, enquanto outra espiava pelo
buraco e dava as instruções a respeito de qual direção seguir para resgatar o
dinheiro. No fim, conseguimos.
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O resgate da arara. |
Nós embarcávamos em condição de
hóspede, mas estávamos ali para prestar um serviço à Costa Cruzeiros por
intermédio da Cia Theo & Mônica. Recebíamos um cachê por esse trabalho, mas
ficávamos em cabine de hóspede. Para o navio, não éramos funcionários. Só
tínhamos acesso às áreas de hóspedes, e tínhamos quase todas as regalias que um
hóspede tinha. Como acabava fazendo amizade com todos do navio, como alguns
funcionários, então, alguns amigos e eu conseguimos assistir ao cinema 4D e a
brincar no simulador de fórmula 1 de graça. Às vezes também conseguíamos alguma
bebidinha grátis com algum garçom ou um pratinho de docinhos de algum coquetel,
no fim da noite.
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Intimidade é uma bosta. |
No início, a gente se diverte com
as coisas mais simples. Só de andar pelo navio e tirar algumas fotos, quer
dizer, tirar muuuitas fotos, fotos de tudo quanto há, já era divertidíssimo.
Depois de dois meses e meio a bordo, acumulei 8 cd’s de fotos, mais de três mil
arquivos (imagens e vídeos), que, depois de ver e rever, acabei reduzindo a
menos da metade. Acho melhor ter menos fotos pra ver, mas fotos realmente
bonitas e interessantes, do que um monte de fotos repetitivas. Não é meu estilo
captar fotos da minha cara arreganhada ao lado de pontos turísticos famosos.
Prefiro tentar capturar detalhes das coisas e das pessoas, principalmente se
forem espontâneas.
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Como esta. |
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Espontâneas e sensuais. |
Embora eu tenha mencionado muitos nomes no início, não estávamos todos embarcados ao mesmo tempo. Nossa equipe era de apenas sete pessoas, que se revezavam por determinado período. Não foi por muito tempo convivendo com cada um, mas foi um tempo suficiente pra me lembrar deles pra sempre.
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Um dos melhores verões da minha vida. |
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