sábado, 7 de maio de 2022

Kananga do Japão

"Pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota."

Provérbio japonês


Não sei o nome desta flor, mas, com certeza, não é cananga.

Japão foi o destino final do cruzeiro de 28 dias com o MSC Splendida, onde viajei em abril de 2019.  Foi um dia em Kagoshima e dois em Yokohama, sendo que eu desembarcava no segundo dia. No Japão, em geral, quase tudo que visitei tinha a ver com religião ou com o militarismo. Então, vou começar te ensinando o que fazer quando visitar um templo. Logo na entrada, você verá uma grande bacia de água, parecendo um poço, com um recipiente com um cabo grande. Ele será usado pra lavar suas mãos e sua boca. Pelo amor de Deus (quer seja o amor do seu deus ou do deus do templo que você estiver visitando), não enfie a mão diretamente na água. Você deve derramar a água dessa vasilha sobre sua mão esquerda primeiro, sem deixar a água suja cair dentro da água limpa. Depois, lave a direita. Pra limpar a boca, com a mão direita segurando a vasilha, você enche a palma da sua mão esquerda de água, suga o líquido e bocheche algumas vezes. Coloque a vasilha no lugar. Sabedoria oriental antes mesmo de época de koronaváyrus.

Atenção às regras de etiqueta nos templos.

Tem um outro procedimento também, mas eu não fiz. Depois do ritual da lavagem de mãos e água, reverencie o templo, inclinando o tronco à frente duas vezes. Bata palmas discretamente duas vezes e reverencie mais uma vez – só com uma inclinação. Há uma caixinha onde você pode depositar algum dinheiro, mas essa parte eu pulei.

O primeiro porto japonês que o MSC Splendida parou foi Kagoshima, e tivemos um procedimento que, hoje, depois de ter vivido o koronaváyrus, eu acharia super normal, mas que, no ano passado, eu estranhei: passar por uma imigração que incluía controle de temperatura corporal. Estranhei, mas compreendi, já que outros surtos de epidemia recentes que tivemos também partiram da Ásia, então, o comportamento deles é bem influenciado por essas últimas experiências que tiveram na área da saúde.

Casa Sengan-en.

Em Kagoshima, o que há pra se visitar é a casa onde viveu a família Shimadzu e o príncipe Shimadzu Tadayoshi, um nome que, pra mim e, talvez, pra você também, não represente nada, mas que deve ter sido alguém muito importante pros japoneses, porque até o balde onde ele fazia as necessidades fisiológicas está lá exposto. Os médicos olhavam o vaso sanitário dele todo dia, pra ver se ele estava bem de saúde. Vale a visita porque o local é lindo e dá de frente pro Monte Fuji. Sengan-en é o nome da casa, construída em 1658, combinando elementos japoneses e chineses, e é patrimônio cultural da humanidade. É um complexo grande, mas nem tanto. Dá pra passar metade do dia. É interessante entrar na casa do príncipe para observar como são as janelas e portas das casas japonesas, o banheiro de antigamente, a iluminação, jardim interno... Além da casa, o que se vê por ali são lojas com artesanatos muito simpáticos; jardins e santuários com vários deuses; salas onde se explicam um pouco do militarismo japonês.

Só pra ter certeza de que vocês acreditariam na parte que eu disse
que os médicos estudavam o cocô do príncipe diariamente.

Muitas crianças já começam aos seis anos a ter treinamento samurai. Nas aulas de práticas samurais (não sei se todas), é recomendado que cada golpe seja dado como se fosse partir a Terra em duas e o grito é com o propósito de intimidar o oponente. Isso me provocou uma curiosidade grande e senti vontade de morar lá um tempo, a fim de tentar entender um pouco mais a história e o pensamento dessa gente. Mas essa é uma vontade que me bate em quase todos os lugares que visito. Não conheço a história do Japão, mas, por ver as artes marciais tão presentes, só consigo pensar que aquela gente tenha passado por muitas guerras e que isso tenha ficado na memória do sangue da nação. Pena que não deu pra ir a Hiroshima nem a Nagasaki, e ver como essas duas cidades praticamente ressuscitaram depois da segunda guerra. 

Jardim Sengan-en.

Em Segan-en, fiquei sabendo de uma história de quando o exército japonês foi pra Coreia e levou sete gatos, a fim de saber as horas. O "relógio" deles eram os olhos dos gatos. Se a regra ainda valer, funciona assim: às 6h e às 18h os olhos dos gatos ficam redondos; às 8h e 16h, se parecem com um ovo; às 10h e às 14h, com semente de caqui; e ao meio dia como uma agulha. Eu não tenho gato pra conferir, mas depois você comenta aí se os olhos do seu gato ficam assim também.

Olho dos gatos de acordo com a hora do dia
Como saber que horas são olhando no olho do seu gato.

Yokohama, cidade que tem o mais antigo e importante porto do país, foi onde desembarquei do Splendida após um mês a bordo. Não conheci a cidade direito porque num dia optei por visitar Kamakura e, no outro dia, por conta das malas, era mais prático ir direto pra Tóquio, onde fiquei por dez dias. No entanto, vi no mapa turístico umas coisas a se fazer em Yokohama e três me pareceram interessantes: Shin Yokohama Ramen Museum – é um praça de alimentação cuja ideia é de que você experimente ramen (macarrão) do Japão inteiro sem precisar pegar um avião. http://www.raumen.co.jp/english/ Se você for fanático por macarrões, então recomendo também o Cupnoodles Museum https://www.cupnoodles-museum.jp/en/

Me parece que quase todas as grandes cidades da Ásia (talvez do mundo) precisam ter uma mini China. Mas saber de uma Chinatown no Japão eu realmente achei engraçado. É que, pra nós, ou pelo menos pra mim, as culturas chinesas e japonesas são meio semelhantes. Há muitas coisas que eu não sei ao certo se vieram do Japão ou da China. E a Chinatown de Yokohama é uma das três maiores do Japão. Então, são essas três coisas de Yokohama que te recomendo conhecer, mesmo que eu mesmo não tenha conhecido.

Parque Hasedera, em Kamakura.

Douglas, um dos animadores do MSC Splendida que gosta muito da cultura japonesa, é quem me recomendou passar um dia em Kamakura, que não estava no roteiro do navio, mas que é muito perto de Yokohama e dá pra ir de trem. Só que a parada que você desce é da estação de Hase, um pouco depois da estação Kamakura e onde tem um ponto de informação turística. Tudo o que eu disser de agora em diante dá pra visitar a pé mesmo entre um lugar e outro. No Japão, há fila pra entrada no trem ou qualquer outro meio de transporte, então respeite. Eles são muito organizados.

O Grande Buda sentado, em Kamakura

A menos de dez minutos de caminhada de Hase está o famoso Buda sentado, de 13m de altura, 121 toneladas, e que levou dez anos pra ser construído, começando em 1252. 200 yenes a entrada ao local, mais 20 yenes, se quiser ver a estátua por dentro. Mas gostei mais do Hasedera Temple, um outro parque com budas bem menores, mas às centenas, talvez milhares, acho que foi mais interessante, porque eles tinham diferentes expressões e o local era mais florido e arborizado:

 



 

Seu dia por Kamakura não precisa ser só isso. Há um grande número de outros templos e o caminhar pela cidade, especialmente sob as árvores da alameda Wakamyiaoji vale muito. E tanto Kamakura quanto Kagoshima, pelo seu foco turístico, é que nos deixam com a sensação de que turismo no Japão só tem a ver com religião budista e com as forças militares. Em Tóquio, minha parada seguinte, a minha impressão já foi diferente. Por isso, acho importante conhecer mais cidades quando se vai a um país, para evitar falas que generalizam uma cultura ou um pensamento.