domingo, 1 de dezembro de 2019

A Terra Prometida

O rei disse a Barzilai: "Ve­nha comigo para Jerusalém, e eu cuidarei de você".
2 Samuel 19:33
Contemplando o Muro das Lamentações
Jerusalém é sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, é um centro de memórias de todas essas religiões. Sua área antiga murada (que não é o Muro das Lamentações ainda) é dividida em quarteirão cristão, quarteirão judaico e quarteirão muçulmano e há muito o que se ver nessa parte antiga. Dá para ficar o dia todo lá dentro, e há lanchonetes e restaurantes. Na entrada da Jerusalém antiga e murada há um posto de informações turísticas. Na Capela do Santo Sepulcro, no quarteirão cristão obviamente, é emocionante de se ver as pessoas beijando a lápide que está no chão e onde colocam objetos para serem benzidos, mas o lugar de maior devoção é uma capelinha no interior dessa Capela grande, pois seria o lugar mais provável da ressurreição de Jesus. A fila é tão grande, que precisa ficar um funcionário proibindo a fotografia do local e apressando as pessoas que por lá passam. Jerusalém é considerada a cidade mais santa pelos seguidores do Cristianismo.
Foto tirada de costas para o Muro das Lamentações
No muro das Lamentações (chamado Muro Ocidental ou Grande Muro em outras línguas), eles recomendam que você lave suas mãos antes de ir. Não é obrigatório e não é somente por questão de higiene, mas de devoção, afinal, para judeus, o muro é o lugar mais sagrado do mundo. É costume também cobrir a cabeça. A maioria faz isso com uma kipá, aquele chapéu que os homens judeus usam como sinal de temor a Deus. Há um cesto lá com várias disponíveis para você colocar e roubar levar de lembrança, se quiser. Para tocar o muro, há o lado dos homens e o lado das mulheres. Antes de a menina menstruar e antes de o menino fazer 13 anos podem frequentar os dois lados.
Pessoas prestam reverência à lápide onde Jesus teria ressuscitado.
Foi mais ou menos ali no monte onde está o muro, que Isaac foi para sacrificar seu filho Abraão – se você for um pouquinho crente deve saber de quem eu estou falando. Há um passeio guiado por alguns túneis das redondezas do muro, que foram descobertos recentemente. Em mais ou menos uma hora você aprende sobre alguns eventos que ocorreram com o povo judeu em diferentes países e em diferentes tempos. O preço varia de 30 a 60 shekels (R$36,00 a R$72,00). Não paguei, tentei aprender sozinho mesmo. Mais uma informação interessante – o muro tem quase 500 m de extensão, só que há muitas construções meio que encostadas nele, então só 57m são do espaço onde as pessoas fazem as orações. E antigamente esse trecho era bem menor. Aumentou por causa de desocupação de algumas casas, logo depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, pois a área do Muro ficava (e ainda fica) frequentemente cheia, seja por cerimônias religiosas ou militares ou só de peregrinos fazendo suas orações.


Entrei na sinagoga principal de Jerusalém e, novamente, homens foram para um lado e mulheres foram para o outro. Jerusalém realmente é uma casa para todas as nações, um centro universal de espiritualidade que, se não emociona, gera muitas reflexões mesmo nas pessoas não religiosas.
Loja da Rua Davi, dentro da cidade murada
A Rua Davi é onde há mais artesanatos e lembranças para se vender e é super negociável. Dá sempre para pedir para baixar o preço da mercadoria que você quer. Quando você recusa levar alguma coisa, o próprio vendedor já te propõe a negociação. Um boné de preço inicial de 10 dólares acabei levando por seis dólares, numa época em que o dólar estava pouco mais de R$3,00. E outro boné que era 30 shekels eu acabei levando por 20 (R$24,00 em vez dos R$36,00 cobrados inicialmente). Ao anoitecer, a entrada na área murada passa a ser proibida. Às sextas, o mercado se torna mais interessante, pois é quando vendedoras do interior do país vão à capital para vender vegetais cultivados por elas mesmas.


Lembre-se de pechinchar
Caso você chegue a Jerusalém pela rodoviária, como foi meu caso, pode pegar o bonde (ou tram), que passa na frente da rodoviária e da Cidade Murada, mas dá para ir a pé porque desde a rodoviária são apenas três estações. Essa foi minha escolha, também porque, no caminho está um mercado grande, o Ben Yehuda, no qual a população mais compra suas especiarias e comidas. Esse mercado já teve vários atentados a bomba, mas hoje é bem seguro. Eu, pelo menos, consegui voltar de lá pra escrever este texto.
Haifa, cidade famosa por seus incríveis jardins
Se você viajar em abril, junho, setembro ou outubro, fique atento aos feriados, para não ter problemas com o transporte. Relato apenas duas situações que aconteceram comigo. A primeira foi quando quis conhecer a cidade de Haifa, famosa por seus vários jardins, e que está a menos de uma hora de trem de Tel Aviv, onde fiquei hospedado, só que era feriado e me disseram que talvez o trem voltaria mais cedo. Eu já tinha me programado e resolvi ir assim mesmo. Cheguei lá às 13h e descobri que, realmente, o trem voltaria às 15h. Eu teria menos de duas horas para conhecer a cidade, então outros turistas e eu chamamos um taxista, que cobrou 120 shekels pra mostrar o principal da cidade, no caso, os vários jardins.


Esta tendinha ao lado do prédio é a suká.
A outra situação não chegou a ser problemática. Quis passar um dia em Jerusalém, que está a apenas uma hora de ônibus de Tel Aviv. Dá para ir de trem também, num caminho mais bonito, mas um pouco mais longo. Peguei uma fila enorme na entrada do ônibus por causa dos jovens do exército, que ganham folga, e das pessoas mais religiosas, que vão rezar, logicamente, afinal o feriado era religioso. O feriado de Tabernáculos deixa Jerusalém muito cheia. Só depois de as pessoas que estavam na fila encherem o terceiro ônibus é que entrei. Não há cobrador e se paga a passagem logo na entrada. O cartão de ônibus que se usa nos circulares de Tel Aviv também são aceitos para ir de uma cidade a outra. Durante a festa de Tabernáculos, não importa a cidade israelita em que você esteja, encontrará muitas casas com barracas armadas do lado de fora, chamadas sukás. Comum de se ver também cortejos de religiosos orando e dançando no meio da rua.




Museu do Holocausto - vale MUITO a pena
Longe da Cidade Murada, na outra ponta da cidade, está o Museu do Holocausto, que é apenas um prédio num grande complexo chamado Yad Vashem (Autoridade de Recordação dos Mártires e Herois do Holocausto), com praças, monumentos, memoriais, e o maior arquivo do mundo sobre o holocausto. A entrada do museu é gratuita, abre das 9h às 17h e não pode ter seu interior fotografado. Os vídeos, livros, fotos e textos nos contam como o nazismo, em 12 anos, conseguiu convencer tanta gente de que era um caminho a se seguir: passou de 3% da população adepta a 90%. Às 16h30 já começam a fechar as galerias e você continua a visita até perto das 17h. Na saída, uma vista linda de um vale e de mais Jerusalém:

Embora eu tenha falado neste texto apenas da parte religiosa e histórica da cidade, Jerusalém também tem suas áreas de agitação noturna e de modernidade. Mas, para quem passou apenas dois dias lá, e teve alguns contratempos aqui já relatados, não dava para fazer tudo mesmo. No entanto, é fácil você descobrir mais informações sobre isso e decidir de acordo com o seu humor do dia. Muitas coisas nas viagens são boas de se planejar na hora mesmo. Tente achar a rede de wifi Jerusalem-old-city, aberta em muitos locais históricos e explore tanto a Jerusalém bíblica quanto a contemporânea.


Pôr do sol em Jerusalém
PREÇOS numa época em que 1 shekhel valia R$1,22:
Café ou suco dentro da cidade murada: 6 shekhels (ou seja, R$7,20)
Falafel na rodoviária: 18 shekhels
Boné na Rua Davi: 20 shekhels
2 horas de táxi rodando em Haifa: 120 shekhels
Entrada no Museu do Holocausto: grátis
E lembre-se de fazer pole dance!

sábado, 2 de novembro de 2019

Eterna Magia


"Viajo, logo quero viajar de novo."
Não sei quem é o autor, mas acho que cai muito bem pra quem já foi à Ilha da Magia seis vezes.





Algumas pessoas não têm um tipo favorito de viagem que gostam de fazer. Gostam tanto do turismo histórico, de visitar museus e monumentos, quanto do ecoturismo, subir montanhas e nadar em praias. No Brasil, conhecer uma capital litorânea é uma ótima opção quando se é um turista eclético, pois quase todas são cidades históricas. No sul do país, uma particularidade: o estado de Santa Catarina é o único cuja capital é uma ilha, Florianópolis, a Ilha da Magia por alguns chamada. Neste texto falo brevemente dos passeios que fiz em cinco dias num mês de junho, baixa estação. Essa é uma época de início do inverno rigoroso no sul do país, mas eu tive sorte de pegar um clima ameno. Então, minha recomendação (óbvia) é que você sempre pesquise a previsão de tempo antes de viajar, pois pode ocorrer, mesmo durante o inverno do sul, alguns rápidos picos de calor.


Praia de Jurerê
Mas uma recomendação minha pode até parecer curiosa pra você, que é a de visitar essa ilha justamente no inverno, na baixa temporada, por mais que soe estranho alguém te aconselhar ir à praia no frio já que não conseguirá tirar a roupa nem entrar no mar. Mas eu, que já estive em Florianópolis também em janeiro, não troco a calmaria da cidade em outras épocas pelo caos que é no verão. No verão, entendo, é inegável que o sol deixe a cidade muito mais bonita, mas milhares de pessoas vão atrás de toda essa magia da Ilha e acabam lotando (lotando mesmo, de brasileiros e argentinos) o local, que, mesmo tenho 54 km de comprimento por 18km de largura, só possui UMA saída terrestre. O outro meio de acesso é aéreo, aeroporto Hercílio Luz (aliás, tudo lá se chama Hercílio Luz), e nem balsa para o continente há. Não possui metrô e é uma ilha montanhosa, com várias reservas que não podem ser desmatadas, então é comum que só haja UM acesso para quase todos os lugares que vale a pena visitar. Começarei então pelo norte da ilha, nas zonas chamadas Jurerê e Jurerê Internacional, e onde o mar é menos frio. Lá, a beleza é nítida no litoral, obviamente, mas também na parte residencial, porque é um bairro nobre, cheio de mansões luxuosíssimas, muitas vezes habitáveis só no verão, porque muitos desses casões não servem como residência permanente, mas como casas de veraneio. Visite as fortalezas que estão por lá. A principal delas é a de São José da Ponta Grossa (R$15,00 para entrar). Além dos canhões comuns a qualquer fortaleza ,você conhecerá também quartel, antiga prisão, além de observar o mar, sempre o belo mar catarinense.



Fortaleza de São José
O Centro também é um ótimo lugar pra se passar um dia inteiro, exceto no domingo, que é deserto em qualquer época do ano, até na alta temporada. Mesmo sendo uma capital, Floripa tem um ar provinciano, não parece muito uma cidade grande, então é comum o comércio local fechar no sábado à tarde e permanecer assim todo o fim de semana. No Centro, com uma leve caminhada, você consegue conhecer a Igreja Matriz, a praça à frente da matriz, algo comum em qualquer cidade, alguns museus,o mercado (prédio histórico com restaurantes e lojas de lembrancinhas e especiarias), andar pela Avenida Beira Mar, e talvez até pegar um barco turístico que faça uma hora de passeio por R$25,00. Isso tudo com um copo de caldo de cana na mão – algo típico, barato, delicioso e fácil de encontrar. Abaixo, fotos em detalhe da praia da Avenida Beira Mar, a mesma que abre este texto:


Se sobrar tempo, há praias próximas ao Centro possíveis de se chegar rapidamente (nunca na alta temporada). Dunas da Joaquina e Barra da Lagoa estão na região da Lagoa da Conceição, tudo lindamente avistável do mirante que está no início da descida do morro, quando se vai até lá partindo do Centro. Existe também um passeio de barco que percorre toda a lagoa por R$25,00. É fácil de se informar no local e tem vários horários. Estender a noite por lá mesmo é uma boa pedida. Há diversos tipos de balada, barzinhos, lugares pra se dançar a dois ou sozinho. Se ainda sobrar um tempinho depois disso tudo, visite também o Projeto Tamar, que na baixa temporada também abre todos os dias e custa apenas R$16,00 (inteira) e R$8,00 (meia). Tamar é o nome de um projeto brasileiro cujo trabalho é resgatar e preservar a vida das tartarugas marinhas. Outra opção de passeio com partida do Centro, se ainda estiver num clima de uma turnê histórica: suba um pouco a costa leste e continue por Santo Antônio de Lisboa, uma pequena e charmosa vila que tem um trecho preservado da rua calçada mais antiga de Santa Catarina, e diversas lojas de artesanato, sendo as peças de renda de bilro algo bem típico.

Dunas da Joaquina
Passando agora pro sul, em Ribeirão da Ilha, o Restaurante Ostradamus é o mais famoso e sempre recomendado em guias de viagem. Reforço aqui as recomendações e aviso que ele também oferece opções de pratos para quem não gosta de ostra. A região também possui belas edificações, algumas repletas de azulejos portugueses nas paredes externas, como o próprio Ostradamus. A uma quadra dele, visite a Igreja Nossa Senhora da Lapa:

  

Já do lado sudeste de Floripa, você pode ter uma boa refeição também num lugar bem típico, curioso e recomendado, o Bar do Arantes. Os preços são levemente mais baixos do que o Ostradamus e os fregueses costumam escrever bilhetes contando sua experiência no local e pendurá-los nas paredes, no teto, ou deixar sob o vidro das mesas. Ambos os restaurantes ficam à beira do mar, o que, para mim, torna qualquer refeição também um excelente programa numa viagem, e não somente uma parada para matar a fome.


Bar do Arantes