domingo, 2 de outubro de 2022

A Muralha

"Se o vento soprar de uma única direção, a árvore crescerá inclinada."

Provérbio chinês.

Beihai Park.

Pequim foi a quarta e última cidade chinesa que conheci. Fiquei hospedado num hotel nos hutongs. Hutongs são bairros tradicionais da cidade antiga, históricos, eu diria. São comunidades com casas pequenas e banheiros compartilhados. Do pouco que conheci, acho que a palavra “cortiço” possa ser uma tradução aproximada. Pras olimpíadas de 2008 o governo derrubou vários, mas ainda existem muitos, por onde você ainda pode caminhar bastante. Eu fiquei hospedado num bem conhecido, chamado Nanluoguxiang.... Adorei caminhar por ele, principalmente à noite. O comércio deixava tudo bem animado. No primeiro dia, comecei contornando o que eu achei que fosse um laguinho, mas que foi se revelando um lago enorme, era o Hohai Lake. O cenário estava tão bonito, que andei tanto até sair no Beihai park, pagando a opção de ingresso mais barato, que não dá direito a entrar em templos, como o pagode (tipo de construção chinesa) branco que está na ilha no meio do lago do parque. Caminhei até achar a saída deste parque e a entrada de outro.

Cidade Proibida vista do Jingshan Park.

Chegamos ao Jingshan Park, que tem gente que traduz como “colina da paisagem” ou “montanha próspera” em português, quase na hora de fechar e andamos por ele, vimos gente cantando, dançando, se exercitando. No início até achei que fossem talvez grupos ensaiando, mas depois comecei a desconfiar que era apenas um hábito cotidiano mesmo. Os chineses têm uma visão sobre o movimento bem diferente de nós. Movimento (dança ou esporte ou outra coisa) é uma energia que precisa fluir. Por isso que eu via pessoas idosas fazendo coisas que muito novinho ocidental não consegue. Subi ao ponto mais alto do parque pra ver a Cidade Proibida (centro político que servia de residência para o imperador) durante o por do sol.

Por do sol no Jingshan Park.

No dia seguinte, acordei querendo ir à Cidade Proibida, mas me enrolei todo e resolvi ir ao Temple of Heaven, um lugar onde os imperadores faziam suas orações e se inspiravam para explorar governar o povo melhor. Cheguei já ao fim da tarde e algumas coisas já estavam fechando. Gastei R$20,00 numa caixa com dois baralhos. A parte das rosas e os jardins foi o que achei mais bonito, mas o que mais gostei foi de ver os chineses se exercitando pelo parque das mais diversas formas – desde usando os aparelhos da academia comunitária (bem melhor que as que temos por aqui) até praticando dança esportiva ou dança tradicional. Abaixo, Temple of Heaven e seu jardim:

 

À noite fui assistir ao show Acrobatics, algo bem turístico de se fazer em Pequim. Vários truques foram novidade pra mim. Terminou cedo e resolvi explorar a área do hotel à noite e vi que os hutongs eram interessantes em qualquer hora. Eu não conheci nenhuma residência por dentro, mas, como alguns poucos tinham virado loja ou casa de massagens, deu pra ver como são construções bem pequenas.

 

O mausoléu de Mao Tsé Tung era outro local que eu queria muito conhecer, mas fechava ao meio dia e eu cheguei lá depois disso, mas ver a Praça Tiananmen ("praça da paz celestial", fotos acima), a maior do mundo e com jardins bonitos. E fica em frente à Cidade Proibida, então não perdi a viagem. Pra visita-la, é melhor agendar pela internet, de preferência com ajuda de algum chinês, porque há certas coisas de se resolver na China que achei meio complicadinhas. No caso da entrada, o hotel já tinha reservado pra mim, sem cobrar nada por isso. Peça ao seu anfitrião que também te ajude porque existe um limite de 80 mil pessoas por dia pra entrar. Acredite, tem dia que lota e fica gente de fora. Lembre-se de que é China, país mais populoso do mundo! Eu sempre tentava usar a minha carteirinha de estudante pra conseguir descontos, mas era difícil aceitarem. Só foi aceito em um parque de Pequim, mas não lembro qual.

Telhados da Cidade Proibida. A arte chinesa é cheia de detalhes.

 

Não achei a Cidade Proibida (Palácio Imperial) algo muito impressionante. É, sim, bonita, os jardins são muito belos, as galerias de arte têm coisas curiosas, como em uma que tinha alguns guerreiros de terracota. Tem esse nome porque era a residência do imperador e qualquer pessoa que ali entrasse sem autorização era morto. Mas é interessante saber que todo aquele espaço era o Palácio Imperial, que era realmente uma cidade. São muitas construções e pátios enormes, quase mil edifícios (980 pra ser mais exato) tudo por causa de uma família. Acho interessante, ao mesmo tempo que acho um abuso. Mas em qualquer lugar até hoje temos governantes também que se aproveitam da sua posição pra viver no luxo, então, eu devia me revoltar era com a dominação atual (Vamu pra rua, galera!). Andei o dia todo sob o sol já que a Cidade Proibida é bem descampada justamente pra que os inimigos do imperador não conseguissem se esconder atrás de nenhuma árvore. Queria voltar de táxi pro hotel, mas nenhum taxista queria usar o taxímetro, pedindo que eu pagasse 50CNY pela corrida. Por um lado foi bom, porque isso me obrigou a voltar de ônibus e aí acabei economizando.

Muita gente faz book fotográfico
na Cidade Proibida.

O que eu mais esperava conhecer em Pequim ficou para o dia seguinte, a Grande Muralha, que não fica em Pequim, mas perto, pouco mais de uma hora de van. Quando estava lá, me explicaram que existem três lugares onde a Grande Muralha é mais acessível. Existe um que é mais turístico, de mais fácil acesso e onde suas fotos estarão sempre muito cheias de gente – a Muralha Nutella, eu diria. Existe um outro que é mais difícil de se chegar, quase não tem restauração e nem turistas, porque é mais difícil de se caminhar seja devido a pedras soltas ou por vegetação que a cobre – a Muralha raíz, eu diria. E tem o lugar que eu visitei, que seria um equilíbrio entre as duas. Diz-se que só 30% de toda a extensão da Muralha é original, afinal, nada resiste ao tempo. E qual é o ponto turístico mais visitado da China? Errou! Não é a Muralha. É a Cidade Proibida, da qual falei no parágrafo anterior.

Teleférico para se chegar até a Muralha.

A excursão até a Muralha o próprio hotel nos vendia. O carro nos deixa na recepção e a maioria das pessoas prefere subir de teleférico. Ao longo da Muralha, existem várias casas de pedra, que são numeradas. O teleférico nos deixou na casa número 14. Pelo tempo que tínhamos, muitos do meu grupo decidiram por caminhar até a casa 20 (o que já é uma caminhada bem considerável). Sentei-me na escadaria da casa 15 e fiquei contemplando a paisagem e o pedaço da muralha que sumia no horizonte. De dentro dessas casas (ou torres, como também as chamam) tem-se uma ótima vista quando se olha através de alguma janela. Algumas vezes eu era distraído por uma pessoa ou outra que tropeçava ou escorregava enquanto subia ou descia as escadas. Os degraus são íngremes, curtos e irregulares, então é quase que normal alguém quase cair.

 

Meio dia e meia era o horário combinado de já estarmos de volta embaixo para almoçamos juntos: arroz, dois tipos de carne picantes, cogumelo chinês, repolho, frango. A bebida era à parte. Ainda bem que eu tinha levado a minha porque as bebidas lá eram três vezes o valor que custava na cidade.

 

O Summer Palace, palácio de veraneio de antigos imperadores e jardim imperial, conheci no último dia e é um passeio que precisa estar disposto pra caminhar – na verdade, todos esses de Pequim precisa. Existe uma estação do metrô que te deixa perto, mas, ao entrar, precisa subir um pequeno monte e descê-lo do outro lado. No entanto, tem tanta coisa pra se ver nesse trajeto, tanto dos detalhes do palácio quanto da vista da cidade, que não é um passeio cansativo. De um lado da montanha, estão várias construções morro acima. Do outro, um grande lago, com passeios de barco e uma ilha, ligada por uma ponte repleta de estátuas de leão, animal que simboliza prosperidade financeira. Dá pra passar um dia todo nesse parque ou em qualquer outro de Pequim. Quase todos os programas que fiz me ocupavam um dia inteiro, porque prefiro fazer num ritmo mais lento, aproveitando mesmo cada local. Já era metade da tarde quando decidi sair do jardim, mas a única saída perto do metrô era aquela por onde eu tinha entrado e que, agora, estava longe demais pra voltar. Saí por outra, repleta de taxistas que abordam as pessoas oferecendo pra deixa-las no metrô por 25CNY. Aproveitei um que tinha oferecido 20CNY e pedi pra fazer por 15CNY.

Summer Palace.

À noite, conheci o famoso Silk Market, mercado onde os vendedores não se comportam da maneira chinesa com que eu já estava acostumado. Com aqueles aí não existia barganha. Algumas placas até diziam “No bargain, please”. O preço era realmente aquele que diziam. Se, por acaso, algum aceitasse negociação, abaixava muito pouco o preço, só aqueles 10% de praxe. Mas existe um outro mercado onde você DEVE pechinchar e pode fazê-lo de maneira descarada, pois dá pra levar a mercadoria até por quase dez por cento do valor inicial pedido, ou seja, 90% de desconto, sem exageros. Procure por Yashow Clothing Market.

Parede de um bar da rua do meu hotel.

Quando eu caminhava nas ruas de Pequim, fiquei muito impressionado com a quantidade de grades que há entre a rua e a calçada, com passagem liberada apenas onde há faixas de pedestres. Até entendo a preocupação com segurança, mas me parece uma medida muito extrema e controladora. Eu me senti realmente incomodado com aquilo, quase que oprimido.

No banheiro da estação, até pra pegar papel higiênico
precisa escanear o QR code com o celular.


Preços de maio de 2019:

Na cultura chinesa, veado indica boa sorte.
Que sorte é essa que custa R$1.800,00? 

O preço em real é 60% do valor em yuan.

Beihai Park – 10CNY sem templo e 20CNY com templo.

Parque Jingshan – R$10,00.

Milonga (baile de tango) no Alla House – 60CNY, com água à vontade e uma bebida inclusa.

Temple of Heaven – 34CNY.

Jogo de dois baralhos no Temple of Heaven – R$20,00.

Cidade Proibida – 60CNY.

Audioguia na Cidade Proibida – 40CNY. Tem em português! Eu não usei.

Excursão para a Grande Muralha, agendada com o hotel – 300CNY, almoço incluso.

Teleférico na Muralha – 120CNY (subir e descer) ou 100CNY (somente subida). Algumas pessoas compram só um trecho porque dá pra descer numa coisa que parece uma mistura de carrinho de rolimã com tobogã, mas precisa pagar também.

Água no topo da Muralha – 20CNY. Então, leve a sua.

Massagem de duas horas (pés e ombros) – 88CNY.

Pacote de nove quilos despachados para o Brasil pelos correios- 335CNY.

Passagem do trem transiberiano até Ulan Bator, capital da Mongólia – não me lembro, mas é bem caro.


No alto do Jingshan Park.