segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Era Preciso Voltar

“A vida não espera. A vida passa. Nunca peça pra que as coisas aconteçam como você quer. Mas procure querer as coisas como elas acontecem, pois, assim, elas vão ficar como você tanto desejou.” 
Fábio Jr, no último capítulo da novela Antônio Alves Taxista.
Com minha amiga argentina Carla, em meu último dia em Buenos Aires.
Quando conheci BUA em 2012, decidi que eu tinha de voltar. Além de revisitar o Caminito, Cemitério da Recoleta, Teatro Colón, lugares dos quais já falei em outros textos, durante essas minhas últimas idas lá, conheci lugares fora do circuito turístico principal, mas tão interessantes quanto os falados até agora.
Deu pra perceber o quanto eu gostava de pancho?

A maioria dos pontos turísticos de BUA, quando são pagos, têm tarifas diferentes para turista estrangeiro e turista argentino. Algumas chegam a ser o dobro do preço. Mas, quando se tem um hermano ou hermana com você, dá pra dar um jeitinho. Quando visitei o Museu do Holocausto, cujo preço do ingresso não me lembro, fiquei de bico fechado na fila do caixa para que ninguém percebesse meu sotaque e deixei que minha amiga argentina comprasse os bilhetes, para conseguir um preço mais baixo.
Pra variar um pouco, uma panqueque de dulce de leche, na Estação San Isidro.
Quando fizemos um passeio de trem até a cidade de Tigre, as tarifas eram $20,00 (vinte pesos argentinos) para turistas estrangeiros e $10,00 para turistas argentinos. Fiz o mudo de novo e deixei que minha amiga Alejandra comprasse pra mim. Dentro do trem, quando a fiscal passava, também tratei de calar a boca. Chama-se Trem da Costa, que inicia seu itinerário em Vicente Lopes, lugar bem afastado do centro da cidade. Vai desde a Estação Maipu (que não tem nada a ver com aquela Rua Maipu no Centro) até a estação Delta, na cidade de Tigre. Num trajeto de 16 km às margens do Rio de La Plata, é permitido parar nos lugares mais pitorescos da zona norte de BUA, com parques, igrejas, feiras de artesanato e antiquários. Antes de chegar à estação Tigre, que tinha também parque de diversões e cassino, podemos parar em todas as estações, mas só umas três são interessantes: da Anchorena tem se a vista do Rio La Plata, que nem é tão bonito, é de uma água marrom bem feia; a estação San Isidro é a mais bonita, com várias lojas e uma feirinha de artesanatos e Igreja; e a estação Tigre. Ao longo das mais de dez paradas que o trem faz, podemos parar em todas sem precisar comprar outro bilhete ao reembarcar. Depois de descer, a gente sabe que o próximo trem virá em trinta minutos e, assim, podemos continuar o passeio. Esse tempo é o suficiente para conhecer um pouco de cada estação, cada uma com algo diferente a mostrar.


Uma das réplicas do Museu Naval.
Por $8,00 (pesos argentinos), conheça o Museu Naval, às bordas do rio Tigre. Andar por aquela margem tomando um sorvete de doce de leite...


Tava achando que era em tamanho real, né?
O Rio de La Plata também pode ser visto a partir da Reserva Ecológica Costanera Sur, no lado leste de Puerto Madero, tendo-se a opção de três trilhas para caminhar. Não são trilhas estreitas, são como estradas de terra por onde passam ciclitas, corredores, esportistas. Em um determinado trecho, vê-se o rio. A reserva não abre às segundas-feiras e tem entrada gratuita.
E Palermo também possui vários parques e bosques.
Se, assim como eu, você tem algum amigo lá, explore ele mais um pouquinho e peça antecipadamente pra ele te conseguir um comprovante de residência dizendo que você mora em BUA, pra poder usufruir do sistema de transporte público em bicicletas. São mais de 60 pontos de coleta espalhados pela cidade, de graça. De graça também são os pontos turísticos de que falarei a seguir.
Tipo o Museo Nacional Ferroviário, no bairro Retiro,
com sua linda exposição de... privadas(!?).
A Casa Rosada pode ser visitada todos os sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Os grupos entram a cada dez minutos e a visita dura uma hora. Como eu fui em alta temporada, peguei uma senha e esperei cerca de meia hora pra entrar, observando a foto de Getúlio Vargas na parede. A visita é meio corrida. Não dá muito tempo de observar detalhes e tirar foto com cuidado.
E eles ainda ficam te vigiando o tempo todo.
O salão principal, onde trabalha Cristina Kirchner, não pode ser fotografado. No meio da visita, dei o perdido na guia e na turma e entrei por corredores que não pareciam abertos a visitação – mas também não estavam fechados e não havia nada dizendo que era proibido entrar por ali. Fotografei as salas como se eu fosse José Anselmo dos Santos (espião brasileiro), mas não encontrei nada de mais e nem fui descoberto, perseguido, interrogado e torturado.
E pensar que me arrisquei pra ver só isso...
Na parte de trás da casa, há ainda o Museu do Bicentenário, funcionando das 11h às 18h, de terça a domingo. É um mergulho na história argentina, que você também pode ter no Congresso Nacional. Para as visitas guiadas gratuitas neste, você precisa ligar 4127-7100 ramal 3680 e pedir informações. Espero que você aprenda mais do que eu, que, em vez de fazer registro fotográfico histórico, ficou tietando uma estrela da televisão brasileira que, coincidentemente, fazia a mesma visita.
Com Thaís de Campos na biblioteca do Congresso Nacional.

Embora se esteja outro país, a Argentina não é um lugar onde os brasileiros têm grandes problemas de comunicação, devido à semelhança entre espanhol e português. A gente encontra até atrizes globais nos pontos turísticos.

É na Plaza de las Naciones Unidas (foto acima), onde está a famosa flor de metal. Ela se abre ao nascer do sol e fecha quando ele se põe. Só que não. Está estragada faz tempo. Ali do lado, estão o Museo da La Televisión PublicaO Palais de Glace, ou Palácio Nacional das Artes, e o Museo de Bellas Artes, que não pode ser fotografado. Isso tudo no mesmo bairro, Recoleta, o mesmo do famoso cemitério (veja texto de abril de 2013).
Já o Museu Metropolitano fica em Palermo.
San Telmo também tem praças lindas, onde podemos encontrar a famosa Mafalda, dos quadrinhos.
A excitação que eu tinha toda vez que eu voltava a Buenos Aires durante os meses de cruzeiro acabou me deixando encantado demais e um descuido besta fez com que eu perdesse meu trabalho no Costa Fascinosa e o respeito conquistado perante alguns membros da tripulação. Ao chegar ao porto depois dos meus passeios, estranhei a falta de movimento de taxistas e de turistas e vi todos os portões fechados. Avistei um funcionário, acenei pra ele, que veio até mim dizendo que o barco já tinha ido e que realmente tinham dado falta de uma pessoa a bordo.

O erro foi meu, que fiquei condicionado a ver o navio zarpar sempre às 20h, afinal tinha sido assim das últimas oito vezes. Então, eu não prestei atenção ao jornal de bordo, que nos informava que era preciso voltar às 17h daquela vez.
O que é que eu faço? O que é que eu faço?
(!) Daí me lembrei de que, no dia seguinte, o Fascinosa chegaria a Punta Del Este (texto de junho), então era só ir atrás dele. Ir de ônibus seria mais caro e bem mais longe do que de balsa da Buquebus, que atravessava o Rio de La Plata até Colônia e, de lá, íamos de ônibus até Montevidéu. Custou $266,00 pesos argentinos, ou seja, uns R$90,00. Da capital uruguaia até Punta Ballena, $183,00 pesos uruguaios, ou seja, uns R$20,00. Dei uma paradinha na Casa Pueblo para escrever o texto publicado em maio, e segui pra Punta, que fica só a 18 km de lá. Recuperei o navio, mas a direção disse que a minha falha foi considerada grave e que eu deveria entrar, pegar mais coisas, e ficar por ali mesmo. Desci em Punta, fiquei duas horas numa lan house pensando no que faria da vida. Seria até mais poético e plasticamente bonito pensar na vida enquanto se caminha pela praia, de pés descalços, deixando a água me molhar ocasionalmente, tipo nas novelas, mas eu já tinha vivido uma história encantada por tempo suficiente a bordo e agora não adiantava fazer melodrama, por mais que estivesse vivendo um. A minha bagagem me pesava as costas, então era melhor pensar numa solução sentado. Cogitei dormir uma noite em Punta, mas já tinha gastado muito dinheiro. Fui pra rodoviária. Ainda bem que eu tinha dólares, porque meu cartão não passou na rodoviária e eles não aceitavam reais. Paguei 103 dólares numa passagem até Porto Alegre, viajei das 23h às 9h num ônibus bem confortável, com lanchinho e refrigerante, desci na rodoviária de Porto e peguei um ônibus para Caxias do Sul, cidade da qual eu tinha me despedido três meses antes e onde fui muito bem Re-recebido.
E onde eu aprendi a escrever uma história diferente da planejada.

domingo, 3 de novembro de 2013

Coração Navegador

“No balanço das ondas, eu vou. No mar eu jogo a saudade, amor. O tempo traz esperança e ansiedade. Vou navegando em busca da felicidade. Em cada porto que passo eu vejo e retrato em fantasias, cultura, folclore e hábitos. Com isso refaço minha alegria.” Peguei um Ita no norte, Samba enredo Salgueiro 1993.
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Costa Fascinosa: um navio muito largo e muito longo, com o peso concentrado na base para compensar a altura. Em italiano, navio é uma palavra feminina. Por essa razão, a Costa batizou seus navios de Fascinosa, Favolosa, Serena, Fortuna e Diadema. O Costa Fascinosa tem 114.500 toneladas e capacidade para 3.800 passageiros.
Um navio de bandeira italiana.

Esquecer da vida. É isso que se deve fazer quando estiver a bordo. Nove dias sem facebook. Acha que consegue? É bom tentar, pelo menos, porque usar a lan house do navio é furada. Você paga $10,00 (dólares) a hora (!!!) ou pega a incrível promoção de $25,00 (dólares) por três horas, isso sem contar na taxa de cadastro - $3,00. Dá também para usar a rede sem fio dos Portos de Santos, Rio e Buenos Aires. Mas, cá pra nós, deixar de conhecer esses paraísos (se bem que Santos não é nenhum paraíso) para ficar preso no mundo virtual? Viva um pouco. Se bem que não dá pra ficar desconectado do mundo tanto tempo seguido. Então, toda vez que estávamos em Portobelo-SC, eu passava parte do tempo numa lan-house...
...além de dar um tchibum, claro.

A gente entra muito empolgado, mas, antes de aproveitar tudo aquilo que é oferecido, os hóspedes têm uma obrigação: no primeiro dia de embarque, é importante fazer todos os procedimentos burocráticos primeiro, que nem são tão burocráticos assim. É só comparecer a uma reunião informativa, onde te explicarão o essencial pra você não se sentir perdido, e fazer o treinamento de segurança, em que te ensinarão como se portar caso haja necessidade de abandonar o navio. Por mais fé que se tenha, é melhor se prevenir. O povo do Titanic e do Costa Concordia também achavam que nada aconteceria com eles.
Segurança em primeiro lugar.

É muita coisa pra se fazer em nove dias. Pra tentar planeja algo, antes de dormir a gente olhava as atividades do dia seguinte no jornalzinho que recebíamos na nossa cabine, com toda a programação de entretenimento muito bem explicada.
Mas o spa é só praqueles que desembolsaram uma grana extra.

Antes de morar num lugar assim, eu ficava imaginando a logística da entrada e saída de comida e materiais daquele lugar. Mesmo sabendo que o navio tinha 14 andares, na minha cabeça era pouco espaço para armazenar 3.800 passageiros, 1.100 tripulantes, mais bagagens, comida, água e esgoto desse povo todo. Como esse também era um nó na cabeça de muitos passageiros, as anfitriãs dos hóspedes davam uma palestra no teatro em que elas explicavam tudo isso pra gente. Cada funcionária dava a palestra na sua língua. Depois de ver um vídeo sobre o navio, uma apresentação de Power Point nos provou que aquilo ali era uma cidade sobre as águas. A cozinha funcionava 23 horas por dia. Ela só parava por uma hora para que fosse realizada uma limpeza profunda, e a água usada para isso era a água do mar. A água dos banheiros (até do nosso banho) também era do mar, mas ela passa por um processo de dessanilização, então a gente não tem a sensação de estar na água do mar. Só se você bebê-la, aí, sim, você sentirá um gosto meio estranho. Da água da piscina, sim, eu não gostava, porque não passava por esse processo, e ainda por cima tinha cloro. Se água do mar já não é muito gostosa por causa do sal, imagina com cloro junto. Só entrei na piscina duas vezes durante os mais de dois meses que fiquei a bordo.
Mas aproveitamos bem essas poucas vezes.

A cozinha não funcionava 24 horas, mas havia refeição 24 horas, só que das 2h às 6h tínhamos de chamar o serviço de quarto, que cobrava $2,50 (dólares) por chamada telefônica. Das poucas vezes que precisamos, fizemos assim: reunimos todos em um quarto e realizamos uma chamada pedindo um sanduíche pra cada um, mais iogurte, fruta, etc, e uns dez copos de suco de laranja. No café da manhã, tinha de tudo e pra todos os gostos: desde frutas frescas, iogurtes, muesli, vários tipos de cereais, para os que têm Solange Frazão way of life, até bacon, ovos, panquecas para os que levantavam tarde e não sabiam se queriam tomar café ou almoçar.
Com essa mordomia toda, não tinha como fazer cara de bunda.
No almoço, era oportunidade de comer tudo o que não tinha em casa: frutos do mar, peixes e massas de todas as maneiras possíveis, e até coisas típicas de outras nacionalidades, como a paella. Para a sobremesa, três sabores de sorvete e vários tipos de bolo. Com tudo isso, eu não conseguia entender como algumas pessoas preferiam servir-se de batata frita e hambúrguer.
Eu não sabia por onde começar.
À tarde, mais guloseimas para beliscar: bolos, pães, saladas, pizzas. O jantar era o melhor momento. Entrada, caldos (doces e salgados, quentes e frios), massas, prato principal, sobremesa, e tudo isso com opção para vegetarianos. Cada coisa... de ver Deus!
E, ainda por cima, num ambiente luxuoso.

Nunca se via alguma coisa com defeito. Se algum funcionário percebia que tinha um rasgo em alguma poltrona, ou algum parafuso a menos em algum lugar, uma mancha sequer, já comunicava à marcenaria, e a peça era consertada ou substituída. O mesmo se passava com os uniformes. Um fio solto e já era mandado pra costureira. Tudo tem de ser impecável.
Às vezes, a gente até se esquecia que estava ali a trabalho.
Os passageiros sempre falavam em visitar a Rua Florida, em Buenos Aires, pra fazer compras. Mas nem precisava esperar chegar lá para gastar dinheiro, pois até shopping há a bordo. Mas o que eu aconselho é não ir comprando tudo logo de cara, porque nos últimos dias do cruzeiro eles fazem promoção de relógios, joias Swarovski e das fotos. Que fotos? É que, pra fazerem você gastar mais dinheiro, os fotógrafos tiram fotos sua na noite de gala, no coquetel do comandante, na piscina, no restaurante, no vaso sanitário e cobram o olho da cara. Aí, nos últimos dias, para convencer aqueles que não gastam tanto dinheiro como os outros, eles dão um grande desconto para você comprar suas fotos. Se, depois disso, você achar que ainda não gastou dinheiro o bastante, vai pro cassino.
Eu preferia aproveitar a diversão grátis.
A diversão noturna atende a todos. Há bares com diferentes tipos de música: de dança de salão, pop rock, música brasileira, música argentina, voz e violão, voz e piano. Sente-se ou dance no ambiente que agrade mais os seus ouvidos. A única coisa que eu não aproveitei e não me arrependo foi o tum-tchi-tum da boate. Abria por volta das 22h e só fechava quando a última pessoa ia embora. Pense: eu já dançava o dia inteiro, acompanhava as senhoras nos bailes das 21h30 às 2h, e ainda iria pra boate depois disso? Só se eu tivesse problema de cabeça, como alguns colegas de equipe, que não perdiam uma balada. Se você for contra essa perdição toda, vá curtir a capela, que fica aberta 24 horas. Há uma missa por dia, no início da noite.
Eu terminava o dia acabado.

Se, ao escolher um cruzeiro, você achar que não vale a pena porque já conhece todo o roteiro, pode visitar alguma cidade da redondeza, sem se preocupar em perder o navio porque a bordo há um serviço de turismo que oferece várias opções de excursões, pagas à parte. Quem viaja com rabo, quer dizer, com filhos, pode curtir a viagem com alguns momentos de privacidade, porque o serviço de animação infantil fica responsável pelas crianças, inclusive à noite. Também há playground e piscinas infantis e um serviço de animação voltado aos adolescentes.
A gente fica com vontade de fazer tudo.

Quase me esquecendo: de tudo que aprendi, o mais útil pra minha vida será as várias formas de dobrar toalhas e guardanapos. Na programação de entretenimento, há um curso sobre a arte de dobrar guardanapos, outro sobre a arte de dobrar toalhas, e outro sobre nós de marinheiro.

A decoração desse barco, especificamente, era baseada no cinema italiano, então os elevadores eram decorados com imagens de filmes e as dependências do navio tinham nome de filme, por exemplo, Teatro Bel Ami, e Bagdá Café. Uma coisa muito apropriada, porque, a vida no navio, é fascinosa, encantadora. Em terra firme, é outra história.
Contagem regressiva pro fim da vida de marinheiro. Realidade à vista!

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Música ao Longe

"Solteiro no Rio de Janeiro, parado em qualquer praia, sou solto em qualquer lugar. Tira a camisa, esse clima tá de abafar. Liberem suas delícias, parado não dá pra ficar." – Solteiro no Rio de Janeiro, Toni Garrido.
Parado? Não dava mesmo. Ainda mais pra equipe de dançarinos do Costa Fascinosa.

"No Rio tem mulata e futebol, cerveja, chopp gelado, muita praia e muito sol, é... Tem muito samba, Fla-Flu no Maracanã, mas também tem muito funk rolando até de manhã. Vamos juntar o mulão e botar o pé no baile Dj" – Endereço dos bailes, Mc Júnior e Leonardo.
Tem mulata e tem loira. E não é só loira gelada.
"No Rio de Janeiro é samba, funk e mulher e quem tiver dinheiro, faz o que quiser. Praia o dia inteiro, escolhe a puta que tu quer. Aqui é igual Miami ou não é. Bem-vindo ao Rio de Janeiro." – Rio de Janeiro II, MAG.
Posso escolher? Mas tô na dúvida: Fernandinha Souza ou Marisa Orth?
"O Rio de Janeiro continua sendo o Rio de Janeiro Fevereiro e Março." – Aquele Abraço, Gilberto Gil.
Mesmo com todas essas maravilhas, nesses dois meses, eu fui um santo.
Só rezava, até pra Nossa Senhora da Cabeça.
"Jardim florido de amor e saudade, terra que a todos seduz, que Deus te cubra de felicidade, ninho de sonho e de luz." – Cidade Maravilhosa, André Filho.
Adriana também Esteves comigo. Outra flor do meu jardim.
"Cristo Redentor braços abertos sobre a Guanabara" – Samba do Avião, Tom Jobim.

Átila Muniz braços abertos sobre a Guanabara.
"Cidade maravilhosa és minha o poente na espinha das tuas montanhas quase arromba a retina de quem vê de noite meninas peitinhos de pitomba vendendo por Copacabana as suas bugigangas." – Carioca, Chico Buarque.
Minha retina mal podia acreditar no que eu via do alto daquela montanha.
"Quente paraíso do espírito excitado pela festa dos sentidos animados pelo sol. Quente paraíso do espírito excitado pela festa dos sentidos animados pelo mar." – Garota Carioca, Fernanda Abreu.
Jaime e eu animados pelo mar de Ipanema. Só faltou o sol.
"O trem corre no trilho da Central da Brasil." – W/Brasil (Chama o Síndico), Jorge Ben Jor.
E elas também correm dos tarados dos trens.
"Passe pela Lapa, pelos arco-íris dos seus arcos mais explícitos, pelo claro-escuro, pelo som impuro, obscuros becos, claros dígitos." – Programa, Adriana Calcanhotto.
Passei por lá também.
"Cariocas nascem bambas. Cariocas nascem craques. Cariocas têm sotaque. Cariocas são alegres. Cariocas são atentos. Cariocas são tão sexies. Cariocas são tão claros. Cariocas não gostam de sinal fechado." – Cariocas, Adriana Calcanhotto.
Pior que são assim mesmo.
"Se venho pelo Aterro, eu vejo o Pão de Açúcar. Se venho pelo ar, eu te vejo no mar. Se chego pelo mar, lhe encontro a me esperar. Monumento natural, sensacional. Estou subindo de bondinho no Pão de Açúcar. Abro os meus braços pro Rio de Janeiro e o Redentor. Profusão de cor cintilando milhões de luzes a brilhar, no céu, na terra e no mar, no Pão de Açúcar." – Pão de Açúcar, Sônia Rocha.
Calma, ainda não é ele. A primeira subida é pro Morro da Urca.
"Paisagem super tropical faz sucesso num postal. Diz a foto que o morro do Pão-de-Acúcar é um eterno carnaval." – Pão de Açúcar, Erasmo Carlos.
Ainda não acabou. Agora a segunda subida: do Morro da Urca pro Pão de Açúcar.
"Vamos, meu amor, o bondinho vai subir. É a nossa hora de sonhar. Hoje o Pão de Açúcar está mais, mais acolhedor. Tomem seus lugares no bondinho, faz favor. Vamos ver o sol lá no céu brincar de cor dando show de imagens do meu Rio. Vamos esquecer que teremos de voltar. Vamos, meu amor, o bondinho vai, vai subir. É a nossa hora de sonhar." – Bondinho do Pão de Açúcar, Johnny Alf.
Dá até pra ver o Cristo lá de cima.
"I went to Sugar Hill the other night. From the top you see the city lights. Took the cable car to the other side. The moon above was big and bright." – Rio de Janeiro, Barry White.
O sol sobre nós também era grande e brilhante.
A cidade sob nós era grande e brilhante.
"Cidade sangue quente maravilha mutante... O Rio é uma cidade de cidades misturadas. O Rio é uma cidade de cidades camufladas com governos misturados, camuflados, paralelos, sorrateiros, ocultando comandos..." – Rio 40 graus, Fernanda Abreu.

Camuflagens de pedra, camuflagens de carne e osso.
"Brasil, tua cara ainda é o Rio de Janeiro. Três por quatro da foto e o teu corpo inteiro. Precisa se regenerar. Eu sei que a cidade hoje está mudada." – Saudades da Guanabara, Moacyr Luz.
Os tempos são outros mesmo. Tem gente até fazendo pole dance no metrô.
"Tô contrito, concentrado, tô pensando. Pensando em quê? No Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, de janeiro, de janeiro. Sou carioca, sou do Rio de Janeiro. E o nosso Rio não é só Março e Fevereiro. Tem pagode o ano inteiro (...) Ih! Me lembrei da Candelária." – Eu sou do Rio de Janeiro, Martinho da Vila e Gabriel o Pensador.

Escuto "Candelária" e, das duas, uma: ou me lembro da chacina de 1993,
 ou da personagem de Dil Costa na primeira temporada de Malhação.
"Melhor ficar de olho no padre e outro na missa. Situações acontecem sobre um calor inominável. Beleza convive lado a lado com um dia-dia miserável. (...) É muito difícil falar de coisas tão belas de frente pro mar, mas de costas pra favela. De lá de cima o que se vê é um enorme mar de sangue, chacinas brutais, uma porrada de gangue. O Pão-de-Açúcar de lá o diabo amassou. Esse é o Rio e se você não conhece, bacana, tome cuidado. As aparências enganam." Zerovinteum, Planet Hemp.


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Paraíso Tropical


"Tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais, tem gente que vem e quer voltar, tem gente que vai e quer ficar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar. E, assim, chegar e partir."
Trecho de Encontros e Despedidas, música de Milton Nascimento.
Praia de Ipanema vista da Pedra do Arpoador.
Pra se viver num navio, precisa estar acostumado a dizer "tchau" ou até "adeus" como se fosse "oi". A cada nove dias, toda aquele gente, tantos hóspedes legais, se iam, e chegava uma nova turma, tão animada ou até mais do que a anterior, pra novas brincadeiras, novas amizades, mesmo que só temporárias. Também nos despedíamos daquelas cidades que, a cada ida e vinda, íamos conhecendo mais, como se morássemos ali também.
Com Cínthia e Jaime na Lagoa Rodrigo de Freitas.
A despedida mais bonita (embora todas as despedidas fossem um pouco tristes) era a do Rio de Janeiro, porque podia-se ver o Cristo, o Pão de Açúcar, a Pedra da Gávea e o Morro de São Conrado (aquele da Praia de Ipanema) tudo de uma vez, e capturar, numa foto só, cinco cartões postais do Rio. É de fazer a cara de qualquer turista cair no chão. A minha cara também caiu quando eu quis tirar foto disso e a bateria da minha câmera acabou.
São 155 km de orla. Melhor não ir a pé.
O Rio de Janeiro das praias, do mar e etc. todo mundo já conhece. Aproveitei um pouquinho disso também, mas fui atrás de outros programas turísticos que não são típicos da beleza tropical que é referência no mundo. Perto do porto onde o navio parava, havia várias igrejas e museus. Como o navio ficava só um dia no Rio, era melhor não se deslocar pra muito longe, ainda mais com o risco de pegar trânsito numa cidade que não era familiar pra mim, ainda. O Museu Light da Energia fica no Centro e possui três horários disponíveis. Não é necessário agendar previamente, mas o atendimento é limitado a 15 pessoas por horário (11h15 às 12h45; 13h30 às 15h00; 15h30 às 17h00). Grátis.
Olha a pedra que encontramos no nosso caminho.
O prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Palácio Tiradentes) também entrou no meu roteiro. É a antiga Câmara dos Deputados do Brasil. Conheça o plenário, a biblioteca, o salão nobre, dentre as diversas exposições, que contam a história do Parlamento no Brasil desde o Império até os dias de hoje. Os horários de visita são de segunda a sábado, das 10h às 17h, e domingos e feriados das 12h às 17h.
Aproveite pra lutar kung-fu nas escadarias.
Além dessa rota alternativa, pra querer ser diferente dos outros turistas normais, se eu ignorasse o Cristo Redentor, seria um pecado. Ele está aberto a visitas todos os dias, das 8h30 às 19h, mas o mais importante é não ir em dia nublado. Pra chegar até lá de trem durante a alta temporada é de R$31,36 e durante a baixa temporada é de R$21,36. Saídas a cada meia hora. O valor do ingresso pelas vans que partem do Largo do Machado são de R$49,00 (alta temporada) e R$ 39,00. Crianças até 12 anos e brasileiros a partir dos 60 não precisam pagar a entrada.
Sobe, sobe, mas nem é preciso tanto esforço. Tem até escada rolante.
Já a subida de bondinho até o Pão de Açúcar custa R$53,00. Funciona das 8h às 19h50. Na verdade, são duas subidas: primeiro até o Morro da Urca, descemos e pegamos outro bonde, aí, sim, até o Pão de Açúcar. Se quiser economizar, dá pra subir só até o Morro da Urca por um valor menor, mas, fala sério, né? No alto do Morro da Urca, também tem coisa interessante pra se ver, como a a parte histórica do bondinho, e uma réplica do carro antigo. Repare que mais de R$100,00 já vão embora só pra conhecer os dois principais cartões postais. 
Hoje em dia  o carro é bem seguro que esse aí, viu?

Mas o bondinho que leva da Lapa até Santa Tereza é de graça.
Na Floresta da Tijuca, o Açude da Solidão é a parte final do passeio, que também pode ser a parte inicial, dependendo de por onde você tenha começado. Não sei o porquê desse nome. Será que é porque as pessoas têm medo de ficar lá sozinhas por conta dos assaltantes que, vez ou outra, assombram a floresta?
Por via das dúvidas, vá acompanhado lá.
Pra alguns passeios serem inesquecíveis, às vezes a gente precisa de sorte. Na minha segunda ida ao Rio, em 2008, minha amiga Gracy era amiga de Pul e Dedé, dois humoristas que animavam a plateia do humorístico Toma Lá Dá Cá durante o intervalo de gravação. Eles colocaram nosso nome na lista de espectadores, e conhecemos parte do Projac, além de tietar, lógico.
A gente se vê por aqui, daí.