sábado, 13 de novembro de 2021

Destino

"Quando você se abre pro desconhecido, você aumenta a fé no ser humano."

Frase do projeto Yuujou, adaptada por mim.


Grande Mesquita do Sultão Qabus, em Omã.

Já fiz um texto sobre como é viajar num cruzeiro e, pra quem viaja na primeira vez, é sempre muito comum se assustar com tanta coisa que cabe lá dentro: teatro pra mais de mil pessoas; cinema 4D; simulador de Fórmula 1; cassino; academia (academia boa, gente; não estou falando de meia dúzia de esteira, não); biblioteca (essa, sim, normalmente é meio fraca). Enfim, uma cidade flutuante. Eu mesmo, que, juntando todo o tempo que já estive a bordo em navios, dá mais de quatro meses, não consigo entender como que consegue caber água e comida pra mais de 5.000 pessoas e ainda o esgoto dessa gente toda. Mesmo tendo mais de dez andares, ainda olho praquilo e não consigo entender muito bem como aquela engrenagem turística funciona de modo tão perfeito.

Pelos corredores externos da mesquita.

O segundo navio de cruzeiro em que viajei na vida tem algo de muito especial pra mim. No início de 2019, eu tentei muito ganhar uma viagem de seis meses por metade do mundo participando do processo seletivo do site Youjou. Passei apenas na primeira etapa, senti aquela frustraçãozinha, mas, com poucos dias, eis que o destino me dá a oportunidade de uma vida de fazer uma grande viagem de navio que começou em... Caia pra traz e morra: Dubai (!). E terminou em... Ressuscite e morra de novo: Tóquio (!). 28 dias, com tudo pago. Alguns desses destinos pra onde o navio foi possuem um texto exclusivo. No entanto, sobre alguns eu não tenho muito o que dizer, pois, numa viagem de navio, acabamos ficando por poucas horas numa cidade. Em muitas cidades, o MSC Splendida ficava por apenas um dia. Em Mascate (ou Mouscat), por exemplo, capital do Omã, chegou às 7h da manhã e saiu às 16h. Talvez você até considere que nove horas seja um tempo bom pra se conhecer uma cidade. Eu também acho que dá, dependendo do lugar. Só que diminua dessas nove horas o tempo que a gente perde pra levantar da cama, por não conseguir acordar tão cedo; mais o tempo de se deslocar dentro do porto; passar pela imigração; tentar entender onde a gente está; trocar moeda, se for o caso;  escutar os taxistas que vêm te abordar; desconfiar de todos eles; tentar encontrar algo mais barato; e ainda pensar que é preciso chegar ao navio uma hora antes de ele sair, já se foi metade do tempo.


Em Mascate, as ofertas dos taxistas eram 25 euros a hora, podendo chegar a 20 euros. Depois de se afastar um pouco do porto, encontramos o Ramanãn, que aceitou 120 dirhams (R$140,00) mais US$20,00 (R$80,00). Ou seja, R$260,00 em vez de R$375,00 dos primeiros taxistas. E ainda bem que no Omã os taxistas estavam aceitando moedas estrangeiras porque, assim, não precisava trocar o dinheiro de novo e, logicamente, perder dinheiro de novo.

É sempre MUITO bem recomendado que você se planeje para chegar uma hora antes de o navio partir, por segurança. Ainda mais se você estiver num outro país. SEGUE ESTE MEU CONSELHO: chegue uma hora antes, pelo menos, pra evitar quaisquer imprevistos. Esse aviso é de alguém que já perdeu um navio uma vez. Se você já perdeu avião alguma vez, acredite: navio é bem pior. Quer saber como foi? Clique aqui.

O grande lustre do salão principal da mesquita.

Como já era de se esperar, a parada em Mascate foi feita meio correndo, de táxi, preço combinado anteriormente para o taxista ficar por três horas à nossa disposição. Considerando o tempo curto, os deslocamentos e a vontade de ver o máximo possível da cidade, as descidas do carro eram mais para observar um pouquiiinho melhor os monumentos. A visita um pouco mais bem feita foi a da Grande Mesquita do Sultão Qabus, faltando poucos minutos para ela fechar (fechava às 11h naquele dia). Precisa entrar descalço, ou de meias, pisando num forro que protege o tapete. E tinha lá seu lustre surpreendente, que, na hora, até me deixou na dúvida se não era mais bonito do que o da mesquita de Abu Dhabi. Hoje, comparando as fotos das duas, não acho. Depois de visitar o templo, procure por uma salinha onde eles oferecem água, tâmaras e café GRÁTIS, bem como livros em várias línguas que falam sobre o islã, que você pode levar, “mas só pode 1 ou 2”. O meu eu ainda não li.

Pra pisar nesse chão, só delcalço ou de meias.

O teatro da Casa da Ópera é outro ponto que os turistas vão. Dá pra fazer a visita guiada por 3 OMR (omani rialis) para conhecer curiosidades do teatro e ver outras peças também curiosas, como flautas de materiais estranhos e figurinos de ópera, tudo em 15 minutos. Esse era o único jeito de conhecer o prédio por dentro. O teatro principal, de 1.100 pessoas, foi construído inspirado “no Omã antigo, mas usando a tecnologia atual” – adorei quando a guia falou isso. O restante dos monumentos, só passamos na frente ou descemos pra dar uma olhadinha por fora mesmo.

Incensário visto de dentro do táxi.

Encerramos o passeio no Mutrah Souk, um dos mercados mais antigos do país, mas não comprei nada lá. Os vendedores também avançam abordam todos os turistas, e vão baixando o preço, se você não quiser levar de cara. Dizemos "adeus" ao nosso taxista guia e, como é de praxe, encerramos em algum lugar pra usar wifi, já que internet de navio... Você $abe, né? Então eu me atualizava usando a rede sem fio de algum restaurante ou loja onde eu parasse. Reservei um tempinho do fim do passeio para sentar num restaurante com wifi. Na primeira opção, pedi a coisa mais barata e pedi a senha. O atendente me disse que só liberaria a internet com uma consumação mínima de 8 OMR. Andei um quarteirão, e comprei uma Coca por 0,3 OMR e um sorvete por 2,5 OMR. Em abril de 2019, 1 rial omanense correspondia a mais ou menos R$10,00.

Mutrah Souk.

 Já a bordo, voltei a contemplar a visão paradisíaca que me impactou quando cheguei. Do convés, dava pra ver o incensário, o forte, as edificações da cidade (todas brancas) e a paisagem desértica e cinzenta das montanhas secas, pedregosas e pontudas, rodeando a cidade branca. Mesmo com poucas horas lá, a visão que eu tinha de Mascate desde o navio é que foi a mais linda:

Mascate vista do convés do navio.

Antes de toda essa experiência nova no Omã, o Splendida parou nas Ilhas Sir Bani, mas foi uma parada mais sem gracinha, talvez porque já criamos (ou pelo menos eu é que criei) o hábito de viajar a algum lugar e querer aproveitar cada segundo visitando tudo o que se tem pra visitar. Aí, quando se chega a uma ilha onde a única coisa a se fazer é observar o mar, nadar numa área limitada e cheia de pedras na areia, ou dançar com a equipe de animação sob um sol super escaldante, talvez dê uma brochada mesmo. Muitos passageiros nem desceram do barco ou desceram e já voltaram em poucas horas.

Neste lugar, as opções de passeio que havia eram pagas, então fiquei somente na área reservada pela MSC Cruzeiros.  Eu até achei bom ficar deitado nos sofás e almofadas que a equipe do navio preparou pros hóspedes sob uma tenda na praia. Só faltou uma água de côco, mas achei que meu dinheiro não merecia o desaforo de eu usar R$40,00 num côco.

"Preço especial: 8 euros".

Sem muito o que se dizer sobre esse destino, partimos pro próximo lugar, que foi o Omã. Só que era pra termos parado em Khasab antes de Mascate, mas tivemos outra frustração, porque o Splendida teve de saltar esse destino, fazendo uma pequena mudança no itinerário devido à morte de um passageiro. Pra quem acredita em destino...

Itinerário de um cruzeiro de quase um mês.