Feira em Town Hall Square, em Tallin. |
Muita gente fica em Tallin apenas
por um dia, seja porque viajam de navio de cruzeiros; seja porque moram na
Finlândia e vão até lá só pra passar o dia, já que são só duas horas de balsa
entre Helsinki e Tallin. Como o principal a se ver está bem concentrado numa
área relativamente pequena e o porto é bem perto do Centro, eu concordo que um
dia pra essa cidade é suficiente. Eu fiquei três dias, mas um deles foi usado
só pra descansar e me organizar, já que, em 2019, minha viagem toda durou
quatro meses. Então, dois dias de passeio por Tallin deu pra sair satisfeito.
Esses dois dias em Tallin foi só
ouvindo histórias. Peguei três passeios turísticos grátis (free walking tours):
um com foco em histórias medievais; outro com foco em histórias comunistas; e
outro geral, que, inevitavelmente, acabou falando um pouco das duas coisas. Claro que não
conseguirei contar muita coisa aqui porque, como conheço pouco da história dos países
bálticos e pouco se fala deles no Brasil, é mais difícil, pra mim, fazer
relações e pontes entre as histórias que ouvi e conseguir recontar fatos históricos sem
ter a sensação de estar esquecendo de algum detalhe ou de estar falando algo
errado. O outro desafio é que os guias são também falantes de inglês como segunda
língua e têm, assim como eu, seus vícios e seu sotaque, logo não consegui entender 100% do que é dito.
A guia Ellen explicou que os estonianos não gostam muito de small talks, essas conversas que a gente tem com alguém que se senta perto de nós na praça ou está na nossa frente numa fila: “Tá frio hoje, né?”. Eles não vêm sentido nisso (graças a Deus pessoas que pensam como eu!). Ela também explicou que estonianos são desconfiados, característica que a própria história acabou enraizando no povo. Por exemplo, em 1918, declararam a independência, que só durou um dia (literalmente), porque os alemães invadiram o país durante a Segunda Guerra. Depois, veio a União Soviética e ficou mandando e desmandando até o início dos anos 1990. Sem mencionar o período medieval, que só se fala em guerras. Imagine que a vida inteira os estonianos ficaram sob o comando de um outro alguém. Eles só conheceram a paz depois que a União Soviética acabou. Pelo menos tem sido uma paz tão grande, a ponto de a capa de um dos principais jornais do país noticiar cachorros que se perderam e que foram encontrados. Ou seja, se isso vira assunto de mídia e é notícia de primeira página, é porque lá realmente não acontece NA-DA, ao contrário de épocas antigas, cheias de histórias que o povo não esquece, não importa quanto tempo passe.
Num outro passeio, o outro guia
contou que sua bisavó foi uma das torturadas pela KGB e se matou por ter ficado
cega nas torturas. KGB significa “Comitê de Segurança do Estado”, tipo o DOPs que a gente tinha aqui no Brasil. Mesmo assim, tem pessoas que eram a favor do regime soviético. É como a
ditadura militar que nós tivemos – pessoas abominam, mas pessoas a querem de
volta. Há um Museu da KGB, então visite caso você queira pagar pra sentir um pouco de revolta e angústia.
Mirante. |
Já no tour medieval as histórias
foram mais bizarras. Como entretenimento na época, era costume assistir a
alguém atravessando uma corda bamba presa à altura da mais alta torre de
igreja. Ninguém era obrigado a isso e os candidatos sabiam do alto risco de
morte, mas se candidatavam mesmo assim. O que os consolava era que, caso
morressem, ficariam famosos, pois todo mundo comentaria do acidente. A gente
achou bem estranho isso tudo, mas a explicação do guia me convenceu: na Idade
Média, a expectativa de vida era muito baixa, então, se a pessoa não morresse
naquela queda, ela morreria de alguma outra doença e jovem do mesmo jeito. O tombo pelo menos era uma
morte mais “louvável” aos olhos dos outros. Ele ainda acrescentou que,
provavelmente, muita coisa que põe nossa vida em risco hoje em dia talvez seja
vista daqui a centenas de anos como algo totalmente sem sentido, como a Fórmula
1.
Telliskivi Creative City, parte moderna da cidade, bem colorida e divertida. |
Nós entramos numas casas antigas
e este guia nos chamou a atenção para o fato de a maioria das casas não terem
vidros na fachada, mas terem vidros nas paredes dos fundos. Explicou que havia
um imposto sobre janelas na Idade Média. Então, para driblar a lei, as janelas da frente eram
substituídas por portas de madeira e só o fundo da casa tinha janelas de
verdade.
Outro imposto bizarro medieval era o imposto por tecido elegante, pago por
polegada. Se a pessoa quisesse sair com uma roupa de boa qualidade, teria de
pagar por isso, uma maneira de manter o pobre e o rico em seu devido lugar.
As vitrines de Tallin são cheias de trocadilhos. |
Preços de junho de 2019, quando um euro era quase cinco reais:
Ônibus de Riga (Letônia) a Tallin (empresa
Eco Lines) – 16EUR.
Bonde (tram) circular – 2EUR.
Balsa de Tallin a Helsinki - não me lembro. 2 horas de viagem.
Concerto de orquestra na Black Heads House – 5EUR.
Museu da KGB - 12EUR - Não fui.
Noodles no restaurante do mercado Balti Jaama Turg – 6EUR. Os restaurantes na área medieval são um pouco mais caros, mas muito legais, porque são quase todos em subsolo, então te deixa num clima mais medieval também. Perto do mercado, está o Telliskivi Creative City, um centro comercial onde havia uma fábrica. O mercado é muito interessante e divertido e cheio de bom humor, até na hora de "xingar" o freguês:
"Quer tirar foto? Compre primeiro!"
Surpresa! Há mesas de ping pong por algumas praças da cidade. |
Porto de Talllin. |
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