"Garçonetes nuas flertam com você / A verdade nua sobre nossas garçonetes é o fato de elas flertarem com você só pra receberem melhores gorjetas".
Duas frases numa só. Ao final do texto você entenderá.
Rua que reúne as mais belas casas de Riga |
Depois de tomar café naquela manhã fresca e ensolarada de 23 de junho de 2019, quis visitar o Museu da KGB , mas estava fechado, então entrei na Igreja de Santa Gertrude (padroeira dos viajantes), que é linda por fora e por dentro. KGB é uma sigla russa que, traduzida, significa “Comitê de Segurança do Estado”. Foi criado durante a União Soviética, então, espera-se que só se encontrem histórias tristes e revoltantes. Um pouco depois descobri que a cidade estava em feriado, o que explicava alguns estabelecimentos fechados, o que foi bom também, porque eu pude aproveitar o clima agradável e alegre que fazia ao ar livre.
A arquitetura de Riga é instigante e o mapa turístico até menciona uma rua que é visitada simplesmente pelo visual de suas casas – é o quarteirão art nouveau. Eu o visitei duas vezes porque achei que as casas eram realmente bonitas. Tem também o Museu Art Nouveau, que não visitei.
Riga tem uma arquitetura linda... |
... e curiosa. |
A poucas quadras desse museu e da
igreja está o terminal de cruzeiros, aonde fui apenas por curiosidade em saber
que navio estava ali atracado. Como já viajei em três, sempre olho pros portos
naquela esperança de talvez rever uma dessas minhas antigas “moradias”. Nunca
as encontro, mas não perco a esperança. Mas a caminhada valeu, porque passei
por parques, observei as casas e peguei o bonde número 11, que atravessou a
cidade toda até finalizar sua trajetória em frente ao zoológico. Dispensei a
visita ao zoológico e caminhei pelo parque que está ao lado dele.
Prédio Balasta Dambis e Ponte Vansu, parte moderna de Riga. |
Quando me dá sede e estou
viajando, sempre tenho uma garrafa d’água que encho com água gratuita seja do
hotel ou de algum parque ou qualquer bebedouro em que seja possível. Quando a
única saída é tirar dinheiro do bolso pra comprar bebida, aí eu prefiro
experimentar alguma coisa que nunca vi no Brasil, como a Fanta de melão,
melancia e carambola - três sabores em uma. Provei dela e achei muito bom, mesmo sabendo que
refrigerante não é algo saudável.
Blackheads House e Praça da Prefeitura. |
O Centro histórico de Riga não tem as quadras quadradinhas, como se vê em cidades planejadas. Então, ao caminhar por ele, a gente vai cruzando e descruzando por várias ruas, às vezes estreitas, às vezes mais largas, que podem ou não terminar numa praça. Numa dessas andadas, saí na Igreja de Saint James, que não conheci por dentro, mas gostei muito porque me pareceu ser o ponto mais alto da cidade. Foi até difícil achar um ângulo pra fotografar.
Seguindo a caminhada, escutei um
tango, que parecia vir do terceiro ou quarto piso de um prédio. Achei o volume um
pouco alto pra uma pessoa estar simplesmente ouvindo aquela música e aquilo me
intrigou. Encontrei a entrada do prédio e descobri que acontecia uma milonga
(baile de tango), que já estava no fim. Mesmo assim, ainda deu pra dançar um
pouquinho, eles nem me cobraram a entrada. Um casal se apresentou a mim e disse
que eles eram um grupo de amigos que costuma viajar uma vez por ano pra algum
lugar da Europa pra dançar tango e quase todos eles gostam de dançar os dois
papeis (o de condutor e o de conduzido).
Kronvalda Park. |
Das duas vezes em que estive na
Europa era verão e, pela minha estadia em Riga e lembrando de outras
coincidências em outras cidades, comecei a pensar que talvez essa seja a melhor
estação pra se conhecer um país europeu, não só pelos dias de luz do sol mais
longos, pela facilidade de locomoção e por não precisar carregar tanta roupa.
E quase sempre eu me deparo com algum festival de alguma coisa, gratuito,
quando estou numa cidade europeia. Talvez porque o inverno rigoroso obrigue
todo mundo a ficar muito tempo confinado e aí, quando é verão, eles ficam
enlouquecidos e querem muito sair, como se estivessem em quarentena... Em Riga,
foi assim. De repente vi uma multidão reunida numa praça com três palcos com
atrações diferentes, duas grandes fogueiras e várias barracas vendendo comida. Os
homens usavam um ramo de carvalho ao redor da cabeça, e as mulheres, flores. Até
achei que era festa junina, porque parecia MUITO com uma. Tudo muito animado e,
mesmo que eu não entendesse nada das músicas cantadas em letão, eu estava
gostando de todas.
Festa Junina letã. |
No outro dia, conversando com um
senhor num parque, mesmo parque onde foi proclamada a independência da Letônia,
ele contou que a festa é simplesmente pra comemorar o solstício de verão, dia
mais longo do ano. Falou também que Dia de São João é um feriado católico, então
a festa também tinha a ver com isso. Logo, eu estava parcialmente certo ao ter
desconfiado de uma festa junina. Ele disse também que o ramo de carvalho dos
homens significa força. As flores das mulheres eram apenas porque é nessa época
que as flores começam a florescer.
Mas nem tudo são flores e ele
contou umas histórias tristes de quando os russos foram embora da Letônia.
Disse que levaram tudo o que podiam das casas onde moravam e, o que não puderam
levar, destruíram – uma dessas histórias que eu não entendo direito, já que não
conheço quase nada nem do regime soviético nem dos países bálticos. Mas,
baseando-me nas conversas que tive com pessoas locais e guias de turismo, a
ditatura soviética não me pareceu algo muito bom, embora também existam pessoas
que gostassem dessa época.
Vista panorâmica do último andar do Hotel Radisson. |
De novo digo que nem tudo são
flores, porque eu caí num golpe de bêbado. Aconteceu no quarteirão art nouveau de ele se aproximar de mim,
mostrando um bilhete de estacionamento, explicando que precisava de 0,85EUR pra
pagar o parquímetro e ele estava sem dinheiro porque as regras do
estacionamento tinham mudado e não sei o quê... Só que, no mesmo dia, à tarde,
num outro local, ele tentou aplicar o mesmo golpe em mim. Eu comecei a rir e
disse: “Não vou ajudar.”. “Por quê?” “Porque eu já te dei dinheiro hoje de
manhã.” Ele riu sem graça e eu fui embora impressionado como até os bêbados
golpistas na Europa falam inglês fluente, mas, no Brasil, não. Pelo
menos ele tinha dado a dica de ir até a cobertura do Hotel Radisson pra se ter
uma visão panorâmica da cidade grátis. Eu fui, olhei o que podia, usei o
banheiro, tirei fotos e saí sem gastar nada no bar que fica no 26º andar do
hotel. É só chegar. Lembre-se dessa dica também. E o elevador também é
panorâmico.
Banheiro masculino do Radisson. |
Foi ótimo ter estado em Riga por
três dias, sendo que dois foram de comemoração. Tinha pontos turísticos
fechados, mas compensou muito por eu ter participado de dias tão animados de
festas e não ter precisado pagar o bonde – por causa do feriado, o uso do
transporte público foi liberado.
Monumento à liberdade. |
Nessa hora, eu já tinha raspado todo o plástico grudado no fogão.
Alguns preços de junho de 2019, época em que um euro era quase cinco
reais:
Café da manhã num lanchonete
perto da Igreja de Santa Gertrudes (duas focaccias, café gelado e um café com
leite) – 10EUR.
Fanta de melão, melancia e
carambola – 0,89EUR.
Prato de cogumelo, vagem,
cenoura, batata frita com molho na barraca do festival – 5EUR.
Coqueteis no bar do 26º andar do
Radisson – a partir de 10EUR.
Ônibus de Vilnius a Riga (empresa
Lux Express) – 9EUR.
Ônibus de Riga a Tallin (empresa
Eco Lines) – 16EUR.
Corrida de aplicativo Yandex de quase 2km – 2,8EUR.
Qual das duas versões da frase você prefere? |
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