"Se o vento soprar de uma única direção, a árvore crescerá inclinada."
Provérbio chinês.
Beihai Park. |
Pequim foi a quarta e última
cidade chinesa que conheci. Fiquei hospedado num hotel nos hutongs. Hutongs são
bairros tradicionais da cidade antiga, históricos, eu diria. São comunidades com
casas pequenas e banheiros compartilhados. Do pouco que conheci, acho que a
palavra “cortiço” possa ser uma tradução aproximada. Pras olimpíadas de 2008 o
governo derrubou vários, mas ainda existem muitos, por onde você ainda pode caminhar bastante.
Eu fiquei hospedado num bem conhecido, chamado Nanluoguxiang.... Adorei
caminhar por ele, principalmente à noite. O comércio deixava tudo bem animado. No
primeiro dia, comecei contornando o que eu achei que fosse um laguinho, mas que foi se revelando um lago enorme, era o Hohai Lake. O cenário estava tão
bonito, que andei tanto até sair no Beihai park, pagando a opção de ingresso
mais barato, que não dá direito a entrar em templos, como o pagode (tipo de construção chinesa) branco que
está na ilha no meio do lago do parque. Caminhei até achar a saída deste parque
e a entrada de outro.
Cidade Proibida vista do Jingshan Park. |
Chegamos ao Jingshan Park, que tem
gente que traduz como “colina da paisagem” ou “montanha próspera” em português,
quase na hora de fechar e andamos por ele, vimos gente cantando, dançando, se
exercitando. No início até achei que fossem talvez grupos ensaiando, mas depois
comecei a desconfiar que era apenas um hábito cotidiano mesmo. Os chineses têm
uma visão sobre o movimento bem diferente de nós. Movimento (dança ou esporte
ou outra coisa) é uma energia que precisa fluir. Por isso que eu via pessoas
idosas fazendo coisas que muito novinho ocidental não consegue. Subi ao ponto
mais alto do parque pra ver a Cidade Proibida (centro político que servia de
residência para o imperador) durante o por do sol.
Por do sol no Jingshan Park. |
No dia seguinte, acordei querendo
ir à Cidade Proibida, mas me enrolei todo e resolvi ir ao Temple of Heaven, um
lugar onde os imperadores faziam suas orações e se inspiravam para explorar
governar o povo melhor. Cheguei já ao fim da tarde e algumas coisas já estavam
fechando. Gastei R$20,00 numa caixa com dois baralhos. A parte das rosas
e os jardins foi o que achei mais bonito, mas o que mais gostei foi de ver os
chineses se exercitando pelo parque das mais diversas formas – desde usando os
aparelhos da academia comunitária (bem melhor que as que temos por aqui) até
praticando dança esportiva ou dança tradicional. Abaixo, Temple of Heaven e seu jardim:
À noite fui assistir ao show Acrobatics, algo bem turístico de se fazer em Pequim. Vários truques foram novidade pra mim. Terminou cedo e resolvi explorar a área do hotel à noite e vi que os hutongs eram interessantes em qualquer hora. Eu não conheci nenhuma residência por dentro, mas, como alguns poucos tinham virado loja ou casa de massagens, deu pra ver como são construções bem pequenas.
O mausoléu de Mao Tsé Tung era
outro local que eu queria muito conhecer, mas fechava ao meio dia e eu cheguei
lá depois disso, mas ver a Praça Tiananmen ("praça da paz celestial", fotos acima), a maior do
mundo e com jardins bonitos. E fica em frente à Cidade Proibida, então
não perdi a viagem. Pra visita-la, é melhor agendar pela internet, de
preferência com ajuda de algum chinês, porque há certas coisas de se resolver
na China que achei meio complicadinhas. No caso da entrada, o hotel já tinha
reservado pra mim, sem cobrar nada por isso. Peça ao seu anfitrião que também te ajude porque existe um limite de 80 mil pessoas por dia pra entrar. Acredite,
tem dia que lota e fica gente de fora. Lembre-se de que é China, país mais
populoso do mundo! Eu sempre tentava usar a minha carteirinha de estudante pra
conseguir descontos, mas era difícil aceitarem. Só foi aceito em um parque de
Pequim, mas não lembro qual.
Telhados da Cidade Proibida. A arte chinesa é cheia de detalhes. |
Não achei a Cidade Proibida (Palácio
Imperial) algo muito impressionante. É, sim, bonita, os jardins são muito
belos, as galerias de arte têm coisas curiosas, como em uma que tinha alguns
guerreiros de terracota. Tem esse nome porque era a residência do imperador e
qualquer pessoa que ali entrasse sem autorização era morto. Mas é interessante
saber que todo aquele espaço era o Palácio Imperial, que era realmente uma
cidade. São muitas construções e pátios enormes, quase mil edifícios (980 pra
ser mais exato) tudo por causa de uma família. Acho interessante, ao mesmo
tempo que acho um abuso. Mas em qualquer lugar até hoje temos governantes
também que se aproveitam da sua posição pra viver no luxo, então, eu devia me
revoltar era com a dominação atual (Vamu pra rua, galera!). Andei o dia todo sob o sol já
que a Cidade Proibida é bem descampada justamente pra que os inimigos do
imperador não conseguissem se esconder atrás de nenhuma árvore. Queria voltar
de táxi pro hotel, mas nenhum taxista queria usar o taxímetro, pedindo que eu
pagasse 50CNY pela corrida. Por um lado foi bom, porque isso me obrigou a
voltar de ônibus e aí acabei economizando.
Muita gente faz book fotográfico na Cidade Proibida. |
O que eu mais esperava conhecer
em Pequim ficou para o dia seguinte, a Grande Muralha, que não fica em Pequim,
mas perto, pouco mais de uma hora de van. Quando estava lá, me explicaram que
existem três lugares onde a Grande Muralha é mais acessível. Existe um que é
mais turístico, de mais fácil acesso e onde suas fotos estarão sempre muito
cheias de gente – a Muralha Nutella, eu diria. Existe um outro que é mais
difícil de se chegar, quase não tem restauração e nem turistas, porque é mais
difícil de se caminhar seja devido a pedras soltas ou por vegetação que a cobre – a
Muralha raíz, eu diria. E tem o lugar que eu visitei, que seria um equilíbrio
entre as duas. Diz-se que só 30% de toda a extensão da Muralha é original, afinal, nada resiste ao
tempo. E qual é o ponto turístico mais visitado da China? Errou! Não é a
Muralha. É a Cidade Proibida, da qual falei no parágrafo anterior.
Teleférico para se chegar até a Muralha. |
A excursão até a Muralha o
próprio hotel nos vendia. O carro nos deixa na recepção e a maioria das pessoas
prefere subir de teleférico. Ao longo da Muralha, existem várias casas de
pedra, que são numeradas. O teleférico nos deixou na casa número 14. Pelo tempo
que tínhamos, muitos do meu grupo decidiram por caminhar até a casa 20 (o que
já é uma caminhada bem considerável). Sentei-me na escadaria da casa 15 e
fiquei contemplando a paisagem e o pedaço da muralha que sumia no horizonte. De
dentro dessas casas (ou torres, como também as chamam) tem-se uma ótima vista
quando se olha através de alguma janela. Algumas vezes eu era distraído por uma
pessoa ou outra que tropeçava ou escorregava enquanto subia ou descia as
escadas. Os degraus são íngremes, curtos e irregulares, então é quase que
normal alguém quase cair.
Meio dia e meia era o horário
combinado de já estarmos de volta embaixo para almoçamos juntos: arroz, dois
tipos de carne picantes, cogumelo chinês, repolho, frango. A bebida era à
parte. Ainda bem que eu tinha levado a minha porque as bebidas lá eram três
vezes o valor que custava na cidade.
O Summer Palace, palácio de
veraneio de antigos imperadores e jardim imperial, conheci no último dia e é um
passeio que precisa estar disposto pra caminhar – na verdade, todos esses de
Pequim precisa. Existe uma estação do metrô que te deixa perto, mas, ao entrar,
precisa subir um pequeno monte e descê-lo do outro lado. No entanto, tem tanta
coisa pra se ver nesse trajeto, tanto dos detalhes do palácio quanto da vista
da cidade, que não é um passeio cansativo. De um lado da montanha, estão várias
construções morro acima. Do outro, um grande lago, com passeios de barco e uma
ilha, ligada por uma ponte repleta de estátuas de leão, animal que simboliza
prosperidade financeira. Dá pra passar um dia todo nesse parque ou em qualquer
outro de Pequim. Quase todos os programas que fiz me ocupavam um dia inteiro,
porque prefiro fazer num ritmo mais lento, aproveitando mesmo cada local. Já
era metade da tarde quando decidi sair do jardim, mas a única saída perto do
metrô era aquela por onde eu tinha entrado e que, agora, estava longe demais
pra voltar. Saí por outra, repleta de taxistas que abordam as pessoas
oferecendo pra deixa-las no metrô por 25CNY. Aproveitei um que tinha oferecido
20CNY e pedi pra fazer por 15CNY.
Summer Palace. |
À noite, conheci o famoso Silk
Market, mercado onde os vendedores não se comportam da maneira chinesa com que
eu já estava acostumado. Com aqueles aí não existia barganha. Algumas placas
até diziam “No bargain, please”. O preço era realmente aquele que diziam. Se,
por acaso, algum aceitasse negociação, abaixava muito pouco o preço, só aqueles
10% de praxe. Mas existe um outro mercado onde você DEVE pechinchar e pode
fazê-lo de maneira descarada, pois dá pra levar a mercadoria até por quase dez
por cento do valor inicial pedido, ou seja, 90% de desconto, sem exageros.
Procure por Yashow Clothing Market.
Parede de um bar da rua do meu hotel. |
Quando eu caminhava nas ruas de
Pequim, fiquei muito impressionado com a quantidade de grades que há entre a
rua e a calçada, com passagem liberada apenas onde há faixas de pedestres. Até
entendo a preocupação com segurança, mas me parece uma medida muito extrema e
controladora. Eu me senti realmente incomodado com aquilo, quase que oprimido.
No banheiro da estação, até pra pegar papel higiênico precisa escanear o QR code com o celular. |
Preços de maio de 2019:
Na cultura chinesa, veado indica boa sorte. Que sorte é essa que custa R$1.800,00? |
O preço em real é 60% do valor em
yuan.
Beihai Park – 10CNY sem templo e
20CNY com templo.
Parque Jingshan – R$10,00.
Milonga (baile de tango) no Alla
House – 60CNY, com água à vontade e uma bebida inclusa.
Temple of Heaven – 34CNY.
Jogo de dois baralhos no Temple
of Heaven – R$20,00.
Cidade Proibida – 60CNY.
Audioguia na Cidade Proibida –
40CNY. Tem em português! Eu não usei.
Excursão para a Grande Muralha,
agendada com o hotel – 300CNY, almoço incluso.
Teleférico na Muralha – 120CNY
(subir e descer) ou 100CNY (somente subida). Algumas pessoas compram só um
trecho porque dá pra descer numa coisa que parece uma mistura de carrinho de
rolimã com tobogã, mas precisa pagar também.
Água no topo da Muralha – 20CNY.
Então, leve a sua.
Massagem de duas horas (pés e
ombros) – 88CNY.
Pacote de nove quilos despachados
para o Brasil pelos correios- 335CNY.
Passagem do trem transiberiano
até Ulan Bator, capital da Mongólia – não me lembro, mas é bem caro.
No alto do Jingshan Park. |
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