"Falo português quando estou feliz".
Silvia, rainha da Suécia.
Viajar da Finlândia para a Suécia
de navio foi bem divertido, mesmo que tenha durado apenas 15 horas. Quando
estou num país diferente, nunca encaro o deslocamento como algo cansativo. Pegar
ônibus ou trem na cidade onde moro, sim, é bastante chato. Mas, fora de casa,
tudo é tão diferente, que fico sempre olhando a paisagem e não o livro ou o celular. E, em navio, o deslocamento é ainda mais divertido. No navio que
peguei, pra ir de um país pro outro, havia dois ambientes com música ao vivo e crianças dançando bastante. Centro
de informações, cassino e restaurantes (pagos à parte). Pena que a viagem durou
apenas uma noite, porque eu já comecei a sentir saudade de ficar navegando por
aí.
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Palácio de Drottningholm, onde mora a família real. |
Dormi, e, de manhã, fui pro
convés pra assistir a chegada do navio a Estocolmo, mas o frio impediu. O vento
era muito gelado, mesmo sendo verão (é que estamos falando de verão nórdico).
Assisti através do vidro mesmo e, duas horas antes de chegarmos à Suécia, a
paisagem já era espetacular, por conta da grande quantidade de ilhas. Estocolmo
está entre o Mar Báltico e o Lago Mälarem, então fazem parte do seu território várias
ilhas, algumas pequenas, outras ainda menores, unidas por 53 pontes.
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Troca da guarda no Palácio de Drottningholm. Acontece todo dia. |
Do porto, chamei Uber usando o
Wifi do próprio porto. Como minha hospedagem ficava a 7km de lá, o funcionário disse que essa seria a
melhor escolha mesmo. No fim do dia fui passear pela parte histórica (Gamla
Stan e arredores). Fiquei mais afastado do centro pra pagar menos na
hospedagem, então tive de pegar ônibus e trem, com o bilhete de 72 horas,
válido também para metrôs e balsas. O metrô também pode ser algo a se conhecer,
já que várias estações são temáticas. Então, se for inverno e você sentir que
está impossível andar na rua, vai dar umas voltinhas de metrô que está tudo
resolvido. Percebi que todos os semáforos fazem barulho, pra ajudar os cegos. Como
eu saí de Estocolmo de ônibus em direção a Oslo, usei esse primeiro dia pra
estudar a rodoviária e ver como eram os guarda volumes e de onde exatamente o
ônibus sairia.
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A rua mais estreita do país. |
Depois de passar a manhã do
segundo dia explorando o centro histórico por minha conta, achei que pegar um free walking tour seria uma boa pra
conhecer a história por trás daquelas paredes. Meu guia Juan é um chileno que
deu o passeio todo em espanhol e contou muitas fofocas da família real sueca, tipo o da princesa que se apaixonou pelo seu instrutor da academia e se casou com ele (pensa num cara de sorte); e
a história talvez mais chocante da história sueca, que foi o banho de sangue em
que muitas pessoas foram executadas em praça pública, num massacre que durou
dias. Terminamos diante do Banco nacional mais antigo do mundo, que fica em
frente a uma estátua de um senhor que olha pro alto, usando óculos escuros. Há
muitas estátuas divertidas assim pela cidade. E lá eu tive a minha primeira
aula de sueco. Após o passeio, enquanto eu divagava pelo lugar, duas pessoas de uma agência de propaganda me abordaram, pedindo
pra me filmar lendo os dizeres de um cartaz em língua sueca. A ideia da
campanha é filmar turistas falando sueco, pra que a campanha tenha muitos
sotaques e mostre como Estocolmo é diversa. O resultado você vê no instagram
deles, aqui: https://www.instagram.com/p/BzhwtKHhX8p/?igshid=1go3pnpdbzmzo.
Bem perto dali está a rua mais
estreita da Suécia, que tem 90cm de largura e uma escada de 36 degraus. Terminei o dia assistindo a um concerto de órgão numa igreja católica ali do centro. Não me lembro o nome, mas tinha algo a ver com a Alemanha:
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O número de tijolos ao redor das janelas do prédio vermelho indica quantas pessoas foram executadas no banho de sangue. |
Não satisfeito com as histórias
sanguinolentas daquele passeio, peguei outro bem do tipo “espreme, que sai
sangue”, mas em inglês. O nome do tour
era “Passeio Sinistro”, justamente por dar mais informações detalhadas sobre
execuções – quem matava e que técnicas eram usadas; e também histórias de sequestro
e desaparecimentos e por que Estocolmo já teve uma taxa de infanticídio muito
alta. Resumindo este último tópico, pense na convenção social de que era um
escândalo para uma mulher ser mãe solteira. Algumas dessas moças se escondiam
até que a criança nascesse e pagava alguém para achar uma família adotiva. Só
que muitas dessas pessoas encarregadas de achar uma nova família pro bebê não cuidavam dele direito, a ponto de o mesmo
falecer, ou, pior, assassinava o recém nascido e ficava com o dinheiro.
Meu guia no outro dia foi Martin,
da Argentina, falando também em espanhol, mostrando uma Estocolmo um pouco mais
moderna – seus arranha-céus; marcas suecas famosas mundo afora como H&M e
Ikea; a história do famoso sequestro de
banco em que os sequestradores e
reféns acabaram se tornando amigos chegando até a ser padrinho de casamento um do outro. Foi desse caso que se originou a expressão “síndrome
de Estocolmo”, que, ao contrário das outras histórias ouvidas naquele dia, teve um final feliz.
Outro passeio guiado gratuito que
altamente recomendo você fazer é o do parlamento. Em julho de 2019, ele
acontecia de segunda a sexta, quatro horários por dia e era só ficar na fila e
esperar que nos deixassem entrar. O número de pessoas era limitado a 28, então era bom chegar uma meia hora antes pra garantir. A melhor parte: diferente dos free walking tours, nesse não precisamos
dar gorjeta ao final. Dura uma hora e, logicamente, precisa passar por um
esquema de segurança que te revista inteiro. Nesse passeio, o guia fala sobre o
esquema de votação que existe na mesa de cada deputado; locais de discurso e
rotina dos parlamentares; etc. Embora existam as figuras de rei e rainha,
estes servem apenas para representar a Suécia pelo mundo afora, mas sem poder
de tomar decisões. Suas eleições também acontecem a cada quatro anos, em setembro.
Atualmente o número de deputadas é quase metade do número de deputados.
Detalhe: a rainha é brasileira e se chama Silvia.
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Teto de uma das salas do parlamento. |
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Um dos salões do Parlamento. |
Algumas das minhas tardes suecas foram preenchidas por um festival folclórico que acontecia numa praça e nem mesmo a chuva me afastou de lá em um dos dias, porque havia comida de graça! Coisas simples, como pipoca, chá e bolo, mas poder economizar com comida na Suécia é como economizar R$50,00 por refeição porque é um lugar realmente caro. No prédio do prêmio Nobel também consegui ver um miniconcerto de jazz de graça. Há ainda outros lugares altamente recomendados de se conhecer em Estocolmo, como o Museu ABBA, pois os quatro integrantes da banda eram de Estocolmo; e o Museu Viking, que tem o famoso barco Vasa, mas ambas eram atrações muito caras.
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"Anybody could be that guy". |
Gamla Stan tem várias de suas curiosidades. É bom sempre olhar bem por onde anda, porque você pode passar pela escultura do "Menino de ferro que olha pra lua" (Iron boy), de Liss Eriksson e que mede 15cm. Outra coisa que reparei é que nas estátuas de nu masculino, o pênis é retratado maior do que normalmente se vê.
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O menor monumento da cidade. Te desafio a encontrá-lo. |
Preços de julho de 2019, quando 10 coroas suecas= 1 euro = quase
5 reais. Logo, pra achar quanto foi pago em reais, considere metade do número em SEK:
Navio Viking Line de Helsinki a
Estocolmo – 113EUR – 15 horas de viagem. Detalhe: ninguém pediu pra ver meu
passaporte, nem na saída da Finlândia, nem na chegada à Suécia. A cabine
interna tem só uma tomada e banheiro com chuveiro, sabonete, mas sem secador de
cabelo. Viajar na cabine é mais caro, logicamente, e mais confortável se você
estiver de malas, porque quem não tem cabine fica sempre carregando a mala consigo
pra onde quer que vá. E não existe uma poltrona especial pra quem viaja sem
cabine. Cada um fica onde der – numa mesa de restaurante, num sofá do bar, numa
poltrona perto da janela... Ah! Eles chamam de ferry.
Sauna no navio – R$50,00 por
1h30min (lógico que não usei).
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Prato a base de almôndegas, purê de batatas e lingonberry – 160SEK |
Uber do porto de Estocolmo à hospedagem – 100
ou 120SEK
Concerto de órgão na Igreja –
7EUR
Bilhete de transporte de 72 horas – maiores de 65 anos pagam metade.
Palácio de Drottningholm - 130SEK. Não entrei. Conheci só o jardim e assisti à troca de guarda, porque é grátis.
Parque de diversões – 120SEK. Não fui.
Prato de carne de alce – 130SEK
Sopa de peixe e frutos do mar no
mercado em frente ao prédio do prêmio Nobel – 120SEK, mas podendo se servir à
vontade de pão e salada.
Porção dobrada de sopa de carne,
frango, macarrão, broto de feijão, num restaurante vietnamita – 200SEK e alguma
coisa.
Caixa de 4kg despachada para o
Brasil – 40USD
Trem Estocolmo-Oslo pela Flixbus
– não me lembro. Estranhamente, o banheiro estava fedido, nem parecia país de
primeiro mundo, mas a paisagem era linda demais. Até achei uma pena ter feito a
viagem de noite, porque dava vontade de olhar tudo. O guarda volume da estação
de Oslo é ruim, porque não tem como testar a mala na gaveta, pra ver se ela
realmente cabe.
Dos 33 países que conheço, Suécia
está no top 5 mais caros. Então, só se programe pra ficar muito tempo se você
tiver um bom dinheiro.
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