"Até a jornada de mil milhas começa com um pequeno passo."
Provérbio japonês.
Na margem do Rio Sumida. Ao fundo, a cervejaria e o Skytree. |
Sabe quando você ficou em
quarentena, em casa, e chegou uma hora que não tinha mais o que fazer? Você já
tinha faxinado todos os cantos da casa; organizado as peças do seu guarda roupa por cores, tamanhos e tendências de cada estação; já estava até fluente em um novo idioma; já tinha
zerado a Netflix; e lido a Enciclopédia Barsa duas vezes? Essa sensação alguns japoneses já
conheciam. Quando estive no Japão, em abril de 2019, era Golden Week, um feriadão que acontece todo ano. Mas, daquela vez, ele foi ainda maior, de 27 de abril a 6 de maio, totalizando 10 dias de folga. Além dos sábados e domingos desses dias, e os feriados que já são normalmente um atrás do outro (Dia da Constituição, Dia do Verde e Dia das Crianças) eles têm o costume de compensar feriados - quando um feriado cai num domingo, ele é transferido pra segunda-feira. Nesse meio tempo também havia um acontecimento raro, que era a ascenção do novo imperador. Numa terra onde as pessoas pensam bastante em trabalhar, esses dez dias de folga na prática não era pra todos, porque as lojas, restaurantes e diversos serviços que eu usei estavam sempre abertos, parecia estar tudo funcionando perfeitamente.
Em Tóquio, fiquei hospedado bem
perto do Skytree, na região de Sumida (eu ria com esse nome) então foi a primeira região que conheci. Skytree é uma torre com um mirante a 155m de
altura, entrada 2.500 yenes com opção de mais 1.700 yenes por passeio guiado de
50 min. Existe também um passeio onde falam exclusivamente sobre a construção
do prédio: dura 40 min e custa 1.000 yenes. Em abril de 2019, a cotação de yen
pra real ficou mais ou menos assim: 1 yen = R$0,04. O jeito que eu calculava e
chegava num valor muito próximo era: cortava os dois últimos algarismos da
direita e pensava em dólar. 2.500 yenes então seriam o mesmo que US$25. Em
abril de 2019, US$1 era praticamente R$4,00. Logo, 2.500 yenes eram R$100,00, preço do mirante; com passeio guiado: R$168,00. Voltando:
o Skytree é a torre (eu disse torre e não prédio) mais alta do mundo, então
talvez até seja uma coisa que vale a pena. Mas a cidade tem outros observatórios gratuitos (embora mais baixos) que já nos deixam satisfeitos, sem precisar desembolsar um yen. É uma pena que depois da pandemia que sofremos
talvez os preços das coisas tenham sofrido alteração demais. Lamento que talvez
você não consiga se basear nos preços que ponho aqui, caso esteja lendo este
texto com o propósito de ir pro Japão.
Observatório do World Trade Center - grátis. |
Já o hotel onde fiquei tinha o
quarto tão pequeno, que era menor do que a cabine interna de navio de cruzeiro. Nem desfiz a mala. Eu até tinha a impressão de o banheiro
balançar um pouco. Tóquio é a metrópole mais populosa do mundo (imagina a população do Canadá toda numa só cidade. Então, é lá). Logo, os japoneses precisam economizar espaço em tudo, a ponto de até parecer que existe
uma cidade subterrânea. Sim, aconteceu comigo de descer uma escada em uma praça
de alimentação pra ir ao banheiro e parecia que eu estava andando quarteirões e
mais quarteirões debaixo da terra. Talvez você encontre até subsolos de dois
andares. Sim, dois pisos abaixo do nível da rua, e, às vezes, bem compridos.
Outra coisa curiosa é que há uma preocupação já internalizada com o fluxo e com
o movimento das pessoas por qualquer espaço. Há muita sinalização indicando
onde você pode ou não ficar e, dependendo do evento, há até pessoas para
direcionarem as outras a não interditarem o caminho dos outros. Não fui a
nenhuma milonga (baile de tango) em Tóquio, porque as entradas de todos os
lugares que achei passavam dos R$100,00, enquanto que em Buenos Aires, a gente
paga R$8,00.
Templo Senso Ji, em Asakusa. |
Parecia que a cidade toda tinha resolvido rezar no Templo Senso Ji naquele dia. |
No segundo dia, explorando Sumida
um pouco mais, vimos uma padaria com uma fila meio grande e pensamos: “Se tem
tanta gente, é porque é bom”. Observamos o que as pessoas estavam comprando e
era um doce de batata doce incrível. A intenção depois desse café da manhã era comprar
entrada do passeio de barco, da Tokyo Cruise, cujo preço esqueci, mas que dura
40 minutos e a estação é do lado do metrô Asakusa. Muita gente visita também o
templo Sensoji, ali perto, grátis também e que estava bem tumultuado, mas vale a pena. Recomendo tomar um sorvete de chá verde (350 yenes, bem fácil
de achar em qualquer lugar), sentar no fundo do barco, porque aí você tem a
visão igual dos dois lados da margem do rio, não fica aquela sensação de estar privilegiando uma
vista e ignorando o outro lado por completo. Se bem que os prédios que margeiam o Sumidagawa River são meio parecidos dos dois lados. O legal do passeio é que o barco passa por debaixo de várias pontes. Desci em Shiodome, já outro bairro, e visitei o observatório do World
Trade Center, grátis. Desci e fui andando ao bairro de Ginza.
Uniqlo vista do terraço do Ginza Six. |
A área de Ginza é onde estão as
grande lojas de marcas, até fiquei imaginando se ali não seria um dos metros
quadrados mais caros do mundo. De todo o planeta, a loja da Uniqlo que tem mais andares está
lá, total de 12. Eu não conhecia Uniqlo e acabei me identificando muito com essa marca. É
bem popular, preço ok, as peças são bonitas, simples e com
ótimo caimento. Comprei uma cueca e uma camiseta. Mas mesmo que você não goste
de ficar olhando vitrine, visitar Ginza vale muito, principalmente no domingo,
quando a Avenida Chuo Dori está fechada e vários artistas tomam a rua, mais ou menos o
que acontece na Av. Paulista, em São Paulo. Suba no observatório do shopping
Ginza Six, que lá você tem uma visão 360 graus da região. Interessante mesmo que
seja só de uns oito andares mais ou menos. Quanto às lojas, a área de Harajuku
é mais interessante porque é cheia de brechós. Eu mesmo que não sou muito
ligado em roupas, acabei comprando duas camisetas e um shorts num dos brechós.
Parece que a cidade toda também gosta de comprar em Harajuku. |
E como se deslocar? A pé, é fácil, você só terá de pensar se vale a pena com relação à distância que for percorrer mesmo. Mas fique atento aos ônibus gratuitos (free shuttle bus). Ele é um ônibus comum, não se destaca muito entre os outros, mas as paradas estão sinalizadas com uma placa vermelha. Eu demorei a descobrir isso, então só peguei um, que passa perto da Tokyo Station, mas existem outros três (em Marunouchi, em Nihonbashi e am Tokyo waterfront subcenter), mas repesquise a respeito, pois pode haver novidades a respeito dessas linhas. Sobre o transporte público regular, recomendo que você compre um cartão Pasmo ou Suica numa das máquinas das estações. Eles servem pros ônibus também e pra muitos tipos de transporte até em outras cidades japonesas, não somente Tóquio. Com eles, a tarifa fica mais barata, sem contar que você não precisa ficar avisando à pessoa do caixa sobre o local onde você vai descer, já que a tarifa lá varia de acordo com o tamanho do seu deslocamento. Quanto mais longe do seu embarque a estação for, mais cara a passagem vai ficando. Suponhamos que você não tenha o cartão e, no meio do caminho, resolva descer num lugar diferente? Aí, na hora de sair, terá de ir à bilheteria de novo e explicar que você comprou o bilhete pra descer num determinado lugar, só que resolveu descer em outro. Se você for fluente em japonês, até acho que isso não seja um grande problema. Só que, no Japão, você encontrará pouca gente pra falar inglês com você. Agora imagine tendo de se virar pra explicar uma situação dessa por meio de gestos. Em suma: compra esse cartão, que a passagem até fica um pouco mais barata. Outra vantagem: ele serve pra você fazer compras também. Tem muitas lojas com o selo Suica ou Pasmo no caixa. Isso significa que ali ele vai funcionar como um cartão de débito mesmo. Os japoneses são fera na praticidade. Então, encha esse seu cartão com créditos, sem medo, e use no metrô, no ônibus, no supermercado... E se chegar a hora de deixar o país e ele estiver cheio ainda, vá à bilheteria de alguma estação, devolva-o e pegue seu dinheiro de volta. Mas atenção: ao devolver, 220 yenes (R$8,00 na época em que fui) ficam retidos. Então, o melhor é conseguir usar tudo mesmo e trazer o cartão vazio de lembrança. Ficou pasmo com tanta novidade? Eu também.
Criatividade japonesa na moda. |
O bairro de Akihabara é a capital mundial dos
eletrônicos dos mais diversos tipos. Animes, vídeo games, mangas, são coisas
muito fortes na cultura japonesa, então é um bairro muito interessante de se
conhecer também. Foi lá que eu realmente entendi o quanto os jogos
eletrônicos e os mangás são algo tão importante na cultura deles. Eu joguei
Street Fighter num Super Nintendo de graça no meio da rua! E perdi pra
uma criança de uns dez anos, acho.
Cosplays de Mario Kart cruzam por você todo o tempo. |
Falando em mangá, é comum você
ter a sensação de que está dentro de um às vezes. Dá pra ver a turma do Mário
Kart passando por você quando for atravessar a rua, e várias atendentes de loja
que parecem ser irmãs da Sailor Moon. Uma curiosidade que percebi lá é que as
mulheres acham sensual andar com os pés virados pra dentro. O que, pra mim, é
uma falta de consciência corporal na pisada, para elas é uma arma de sedução, muitas se forçam a ter a pisada pra dentro, então verá muitas japonesas andando com os joelhos
levemente apontando um pro outro.
As comidas das vitrines são réplicas não comestíveis do prato que o estabelecimento serve. |
Chegou a hora de dizer “sayonará”?
Então, preste atenção aos procedimentos aeroporturários. Eles são mais rigorosos com o peso da mala e o
número de volumes que você carrega. Então vai ser mais difícil sua mala de mão passar meio
desapercebida se for grande. Se eles desconfiarem, vão pesar mesmo. E na
bagagem despachada não pode ter nenhuma bateria. Minha amiga foi chamada no
alto-falante por conta disso. Teve de abrir a mala e retirar a bateria. Para ir
pro aeroporto, compensa mais o metrô mais lento, porque, a partir da estação
Shimbashi, por exemplo, ele leva 80min em vez de 50min (comparado ao trem expresso), mas custa
a metade do preço e te deixa dentro do aeroporto de Odaiba também. Por uma
diferença de tempo de só meia hora, acho que vale a pena a economia. Entre um terminal e outro dá até
pra ir a pé mesmo. Vale lembrar de que o Japão está na lista dos países mais
caros que já visitei. Pelo menos a água da torneira lá é saudável, então esse
será um gasto a menos. Se você chegou até o final do texto, Arigatô (outra palavra que aprendi a falar em japonês).
West Exhibition Hall, em Odaiba. |
Só vi close certo
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