"Estou convencida de que haverá paz entre Israel e seus vizinhos porque milhões de árabes precisam da paz tanto quanto nós. Uma mãe árabe que perde seu filho no campo de batalha chora tão amargamente quanto uma mãe israelense na mesma condição".
Golda Meir, ex-primeira ministra de Israel
![]() |
Por do sol em Yaffo |
Tel Aviv é daquelas cidades
em que, numa virada de quarteirão, você muda da vida moderna e agitada do século
XXI para um lugar tão antigo que parece até que a gente está num cenário bíblico
(só que a gente está mesmo, literalmente). É virar a esquina e ter a sensação de
que entrou na máquina do tempo. Cheguei já querendo viajar no tempo e fui para Yaffo
(às vezes escrito como Jaffa), lanchei na Abouelafia, uma padaria tradicional, em
funcionamento desde 1875, e caminhei pelos vários corredores do bairro, em meio
a pequenos prédios que já têm mais de mil anos, com portas muitas vezes
misteriosas, que nos fazem pensar como é ter o privilégio de se morar num lugar
assim.
![]() |
Orla movimentada, mesmo à noite |
Yaffo é um bairro caro de se
morar e que tem muitos artistas e ateliês, lembrando um pouco a atmosfera que
tem Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Desci aqueles corredores da época de
personagens bíblicos circuncidados (será que algum deles morou ali?), até sair num dos portos
mais antigos do mundo, com mais de 2000 anos em atividade, onde vi o sol se por,
no mar. Passear por ali é cruzar com turistas, pescadores e navegantes. Há
muitos restaurantes, e, na minha primeira noite, por 100 shekels, comi pães de
pita com os mais diferentes aperitivos e pastas para acompanhá-los. A porção é
enorme e dá para dividir entre duas ou três pessoas. Um shekel, hoje, é R$1,20. Deu pra sentir o drama de como é caro viajar pra lá, né?
![]() |
Lanchinho da primeira noite na cidade. Será que vale R$120,00? |
![]() |
Shak shuka, prato super típico. |
No dia seguinte, fui para a
outra ponta da praia de Tel Aviv, onde está o porto novo, menos turístico que Yaffo,
mas não menos movimentado. É mais frequentado por habitantes locais do que por
turistas, ainda mais durante aquela temperatura de início de outubro, de sol
forte, mas tempo fresco. Essa área da praia passou a ser usada como porto para
se evitar alguns problemas que Yaffo tinha. Mas o novo também não deixou de ter
seus probleminhas, como possuir um aeroporto ao lado, e muitos aviões passarem
raspando pela sua cabeça enquanto você tenta tirar um cochilo na praia. O mar é
mais revolto, o que torna meio complicado também o acesso a algumas embarcações
e há trechos recomendando as pessoas a não mergulhar.
![]() |
Crianças circuncidadas brincam livremente pelas fontes do porto |
O porto novo é muito
agradável, mais parece um parque, praça ou algum outro lugar de lazer do que um
porto, graças a uma ideia de políticos que quiseram evitar a burocracia que
tanto atrapalha alguns projetos de irem adiante. Foi proposto a donos de
grandes lojas e restaurantes que revitalizassem o local em troca de um aluguel
barato por alguns anos. Eles ocuparam os grandes galpões, que já tinham servido
como feiras, sede de orquestras, garagens e até base militar britânica. E
espontaneamente o público passou a frequentar, até virar tudo o que é hoje, um
grande complexo cultural e comercial, e os estabelecimentos que ocupam esses
pavilhões são dos mais diversos tipos, justamente para que o local seja
frequentado por todas as pessoas, circuncidadas ou não. Há restaurantes mais caros, mas também tem as
barraquinhas onde você pode apenas comprar um sorvete e pronto.
![]() |
Falaram que circula chocolate dentro desses tubos aí... |
Bem famosa em Israel, a
Chocolateria Max Brenner pensou em algo para tornar a experiência do consumidor
mais íntima com o local, fazendo de seu espaço de consumação o mesmo espaço
onde você vê o chocolate sendo fabricado. Suas xícaras são dos formatos mais
diversos – uma xícara de chocolate picante sai a 24 shekels, preço igualmente
picante. Mas esse passeio pode não ser caro, se não quiser, porque o espaço do
porto é enorme para caminhar e admirar o mar e o povo israelense. O piso é ondulado;
imita o movimento das ondas, o que atrai as crianças para andar de patins e
skate; é de madeira e tem vãos, para as ondas passarem em caso de cheia. Os assentos
têm formato de pedra. A arquitetura realmente conversa com a natureza. O porto
tem um passeio guiado gratuito e muito do que escrevi aqui aprendi durante ele.
Há outros pela cidade, é só verificar em https://www.freetour.com/tel-aviv.
![]() |
É verdade esse bilete! |
A caminhada entre esse porto
moderno e porto histórico de Yaffo é de 4,5 km de orla e te revela uma Tel Aviv
surpreendente: academias ao ar livre; estátuas de praticantes de yoga;
guarda-sois sempre brancos, seguindo padrão; parques com área reservada a
usuários de maconha; praia reservada a cachorros (dog friendly); uma pequena
área com guarda-sois coloridos, indicando a praia gay; aula de dança israelita
grátis uma vez por semana; e o Café Aroma (famoso em todo país), com uma salada
grega deliciosa de 40 shekels (sabor delicioso e preço salgado). Só faltou a
área de nudismo, que até tem, mas é mais afastada (Praia de Gaash) e não é
oficialmente uma praia naturista. Apenas há o costume por parte de alguns de se
praticar o naturismo por ali. Costumes e pensamentos que quebram bastante a
expectativa de quem está visitando a “terra santa”, não acha? Parece que o israelense recebe todos de braços abertos.
A 2,5 km do Café Aroma, você
tem outra opção de refeição, no Shuk Ha-carmel (shuk quer dizer mercado). Suco
de romã, de cenoura e de amêndoas são os mais tradicionais. Para comer,
recomendo o shak shuka, que são ovos cozidos ao molho de tomate, acompanhados
com pão. De sobremesa, halva (129 shekels o quilo), um doce a base de gergelim que, em alguns locais
do Brasil, é chamado de raleu . O preço é de se espantar,
assim como assusta a variedade de frutas locais, produzidas por uma nação
construída sobre o deserto. Não entendi como uma cenoura conseguia dar tanto suco. O Shuk Hacarmel também é um bom lugar para comprar
lembranças. Toda terça e sexta o lugar se torna especial por ter também uma
feira de artesanato, muitos artistas circuncidados na rua, e seguranças circuncidados revistando todos que
entram na área e pedindo para abrir e mostrar a bolsa. O país tem tanto
histórico de eventos terroristas, que, em qualquer local onde há reunião de
pessoas (também em rodoviárias e shoppings), as pessoas são revistadas e obrigadas
a passar pelo detector de metais. A hospitalidade é boa, mas é melhor "não tentar o Senhor seu Deus", né?
![]() |
Shuk Ha-carmel |
Um desses lugares é o
Mercado Sarona, que também já sofreu atentando. Sarona é o nome de todo o
complexo, que, além de mercado (mais gourmetizado que o Shuk Hacarmel), é um
centro de lazer ao ar livre, com playground, um grande gramado, restaurantes. O
local era do exército e foi revitalizado para se tornar um dos vários locais de
lazer de Tel Aviv. É de se admirar como os ataques não amedrontam o povo e não
deixam todos trancados em casa. O estilo de vida lá parece ser justamente o de estar na rua e confraternizar uns com os outros.
![]() |
Tomates e pimentões das mais diversas cores... |
![]() |
...no Shuk Ha-carmel |
Para outro tipo de compras,
roupas caras no caso, vá a Kikar Hamedina (Praça do Estado, em tradução livre),
e preste atenção aos prédios residenciais que circundam a praça e como é interessante
sua arquitetura (só a arquitetura mesmo, porque a jardinagem, dessa praça, é
muito mal cuidada). Os prédios quase que parecem um triângulo invertido, mais um trabalho do
brasileiro Oscar Niemeyer que ganhou o mundo. O piso térreo desses prédios é
sempre um comércio e os outros pisos acima são residenciais, mas essa
recomendação de local faço mais a título de curiosidade. Talvez a única parte
de Tel Aviv das mencionadas, que, se você perder, não fará a menor diferença.
![]() |
Arquitetura de Niemeyer na Praça do Estado |
Há planos de Tel Aviv ter um
metrô até 2021. O projeto está explicado numa réplica na Alameda Rothschild,
mais residencial, muito larga e arborizada, com redes sob as árvores para
qualquer um se deitar. Tel Aviv não é uma cidade grande, dá para se fazer muito
a pé. Ou consultar o Google Maps para saber sobre os ônibus ou sheruts (vans),
cujo preço varia de cinco a oito shekels. Bem caro, né? Isso significa uns
R$10,00 por um ônibus circular. Deixe para pegar táxi no shabbat (dia de folga
em Israel), que começa no por do sol de sexta e vai até o por do sol do sábado,
e quando o transporte público não funciona. Boa viagem e Shalom!
![]() |
Não faça barulho nos ônibus pra não perturbar o motorista. |
![]() |
Calçadão perto da Praça do Estado |
E se algo der errado na sua viagem, lembre-se de sempre se perguntar: "Se eu fosse Elvis, o que eu faria?".

Nenhum comentário:
Postar um comentário