"Não é possível definir Cartagena. Os historiadores inventaram outra Cartagena, que não tem nada a ver com a verdadeira."
Gabriel Garcia Márquez, escritor nascido em Cartagena
Cartagena de Indias é o nome completo da cidade que
é porta de entrada do Caribe colombiano. E você acha que seria possível estar
na porta do Caribe, mas ignorar o oceano e curtir apenas o que a cidade
em terra firme tem a te oferecer? Eu afirmo que é possível. Em dois dias e três
noites ali, eu não senti falta de banho de mar e fiquei só perambulando pela cidade. Em Cartagena, os deslocamentos não são enormes entre nada, os museus estão bem sinalizados, e o
principal a se ver está dentro da cidade murada mesmo, que não é grande, ainda
mais se você tiver obedecido à grande lei do turista de Cartagena, que é
hospedar-se dentro da cidade murada. E eu ordeno que você não desobedeça essa
lei.
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Plaza San Pedro |
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Tática do restaurante Pezetarian de fazer os clientes darem gorjeta (propina em espanhol). Comigo falhou. |
Numa dessas minhas caminhadas noturnas sem destino,
um convite de um vendedor ajudou a ocupar uma meia hora da noite: entrar no
“Mundo Choco” e conhecer a história do chocolate e degustar uma variedade
deles. Essa loja de chocolates inventou uma maneira interessante de atrair mais
visitantes e fazê-los se envolver com o produto e, consequentemente, aumentar as
vendas. É uma ideia parecida com o “Mundo Encantado do Chocolate”, em Gramado,
no sul do Brasil, que é a de uma loja anexa a um museu. No Mundo Choco, em Cartagena, você lê sobre a
história do chocolate, vê as representações em quadros e maquetes, degusta, e
compra (pelo menos é o que eles esperam, mas eu quebrei as expectativas). De
dia, a vida em Cartagena pode ser ainda mais doce. Na frente da Torre Del
Reloj, o Portal de los Dulces tem uma variedade de doces de frutas e biscoitos.
Deixe para comer sua sobremesa lá. Mas precisa ser de dia mesmo porque à noite
os vendedores costumam já estar um pouco cansados para te atender:
Para degustar algo salgado, leve e barato,
recomendo o Restaurante Pezetarian, onde a única carne servida é a de peixe,
daí o trocadilho interessante no nome do local (peixe em espanhol é “pez”). Em
outro ponto não muito distante dali, já que, no centro histórico, nada é muito
distante de nada, você tem um pedaço da Argentina em plena cidade colombiana. O
Marzola Parrilla é um restaurante com a decoração super interessante, como se
fosse um Rio Scenarium, do Rio de Janeiro, ou o Szimpla, de Budapeste, em
proporção menor – um lugar repleto de objetos antigos e aparentemente sem
relação de sentido um com o outro, mas que, quando reunidos, criam uma harmonia
que não se sabe explicar de onde vem e acabam se tornando um dos lugares mais
admiráveis da cidade, pra mim.
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Marzola Parrilla por fora |
No Parque El Centenario você encontra muitas opções
de artesanatos. Para as fashionistas, o que recomendo comprar são as bolsas
wayuu (feitas a mão, de croché), que são bem mais baratas do que no Brasil. O
objeto está ficando “gourmetizado” agora, então as grifes as vendem por preços
muito altos fora da Colômbia. Já as camisetas com o nome da cidade escrito, a
típica lembrança chavão das viagens, você consegue de $20.000 COP a $25.000 COP
(pesos colombianos), ou seja, de R$25,00 a R$30,00, talvez uns cinco reais a mais, já que essa viagem tem mais de um ano.
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Bolsas Wayuu em feira de rua |
Cartagena é com certeza uma cidade de se conhecer a
pé, pelo menos a Cartagena turística. A parte periférica é bem pobre, nem parece que é a mesma cidade. Mas, se bater o cansaço, é só esperar um táxi, que lá já tem tarifas predefinidas.
O taxista tem uma tabela dentro do carro que você pode consultar caso duvide do
preço que ele esteja te falando. Do aeroporto até o Centro histórico por
exemplo, há quase dois anos, custava $12.200 COP (R$15,00), não importa a rua do centro histórico onde você pegue o táxi. Dentro do
centro histórico, por exemplo, era $8.000 (R$10,00), começando e terminando em qualquer rua, e é o valor igual entre todos os taxistas. Esse preço é também pra ir ao Castelo
de San Felipe, cujas tarifas de entrada são $25.000 (R$30,00), mesmo para um idoso
estrangeiro. Ali as tarifas de desconto só se aplicam a colombianos, a
recepcionista me disse. Não conheci o castelo devido ao sol forte, mas acredito
ser algo interessante a se fazer, então vá o mais cedo possível, pra não sofrer com o calor também, porque quase tudo o que há pra se ver é em área externa. E não compre as águas ou bebidas que os ambulantes te
oferecerem na fila. Nos dois bares localizados do outro lado da rua, a garrafa
de água sai praticamente pela metade do preço deles. Os ambulantes lá costumam
ser muito insistentes com os turistas. Entonces, diga "No!".
Cartagena tem bom humor para representar seus
personagens anônimos e cotidianos, retratando-os em estátuas de ferro presentes
em várias praças, como os vendedores de “raspado”, representados por uma
estátua na Plaza San Pedro. Nesses carrinhos eles vendem gelo raspado ao qual
eles acrescentam sabor. Vale experimentar pra se refrescar do calor que faz. Ou
refresque-se comprando no mercado uma garrafa de Kola Roman, talvez o
refrigerante colombiano mais antigo que existe, e que nasceu justamente ali, em
Cartagena. Tem ainda as estátuas de ferro das praças do bairro de Getsemaní,
bem divertidas, como o homem que urina no poste ou o cachorro que morde a calça
da criança ou os dois homens que brigam. E o artista mais famoso a fazer
estátuas também deixou sua marca ali, na Plaza Santo Domingo, em frente ao
convento de mesmo nome, uma estátua nua (sim, na frente do convento), de nome
Gertrudis.
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Gertrudis se bronzeando na frente da casa de Deus. |
Continuando fora da muralha, o bairro Getsemaní é
conhecido também como bairro dos grafites. Interessante de se caminhar por ele,
mas eu recomendaria fazê-lo somente de dia, porque, segundo pessoas locais, é
um pouco violento à noite. Descobri isso depois de caminhar por lá em busca de
um lugar para se dançar salsa. Encontrei, mas a dança não aconteceu, devido às
proibições de festa em virtude da visita do papa. Abençoada seja também a sua viagem!
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O viajante brasileiro representado nos grafites de Getsemani |