"Somente o homem possui a capacidade de elaborar
imagens de coisas ausentes, utilizando essas imagens nas mais variadas
situações também imaginárias. Um objeto observado pelo olho pode remeter a
outras imagens formadas a partir do olhar, o qual não é limitação da percepção
do objeto em suas características físicas imediatas; o olhar é ir além, é
captar estruturas, é interpretar o que foi observado."
Zamboni, inventor
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Vista do Parque Tanguá. |
Cheguei à rodoviária de Curitiba
umas sete da manhã, ou um pouco depois disso. Um ano antes, desembarcava no
aeroporto de São José dos Pinhais. Agora, ia de ônibus, por R$90,00 saindo de
Caxias do Sul, em oito horas de viagem, o que foi bom porque deu pra ir
dormindo. No ano passado, fui de avião por não procurar informação mesmo, por
burrice. Apenas pensei: “Curitiba está a dois estados pra cima, é melhor ir de
avião”. Ponto. Estipulei o que era melhor sem procurar saber de outros meios.
Só agora percebi a burrada que fiz no ano passado. Paguei mais de R$100,00 na
passagem de avião, mas saindo de Porto Alegre, praticamente de madrugada.
Resultado: Ainda tive de pagar mais R$30,00 do ônibus de Caxias a Porto, saindo no dia anterior ao voo, dormir
no aeroporto, devido à incompatibilidade de horários de ônibus de uma cidade a
outra, pegar o voo cedíssimo e desembarcar em São José. Ou seja, a viagem de
avião ficou mais cara, mais cansativa e mais longa do que se eu tivesse pegado
um ônibus.
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Reservatório do Alto São Francisco (em primeiro plano). |
A razão que me levava pela
segunda vez a Curitiba não era o turismo, nem neste ano, nem no ano passado,
mas a oportunidade de me aperfeiçoar na minha profissão. Em 2011, fiz uma
audição no Balé Teatro Guaíra e fui eliminado logo de cara. Agora, fiz uma
audição para trabalhar na equipe de dança de salão da Cia Theo & Mônica a
bordo de um navio do Grupo Costa Cruzeiros, e fui aprovado. Por acaso, descobri
um curso de capacitação para professores de dança de salão ministrado na
unidade curitibana Oito Tempos Escola de Dança que seria nos cinco dias
seguintes ao dia da seleção.
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Lago do Parque Barigui. Ao fundo, entre as árvores, a Torre Panorâmica. |
A audição era no domingo de
tarde, então ainda dava pra ser turista por algumas horinhas, na parte da
manhã. Comecei pelo estádio do Atlético Paranaense, mas dei com a cara na
porta, porque o estavam reformando para a Copa do Mundo. Então peguei um ônibus
(falei na outra publicação sobre Curitiba e repito: é muito fácil andar de
ônibus lá, ainda mais que, aos domingos, a tarifa é R$1,00) e fui para o Parque
Barigui, buscando preencher a lacuna de pontos turísticos que não consegui
conhecer na vez anterior. Esse parque é um lugar perfeito para caminhadas e
pedaladas, na pista que circula um imenso lago e que passa ao lado de um centro
de exposições. Por R$20,00, vi réplicas de gesso de esculturas de Michelângelo.
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Museu do Automóvel. |
Depois, tomei um caldo de cana e
paguei R$5,00 para uma visita ao Museu do Automóvel, que fica na frente, e que
dá pra ver em 15 minutos se o seu interesse por carros for tão pouco quanto o
meu. Fui mais porque estava num momento turista e não queria ir embora com a
sensação de ter visitado pouca coisa na cidade. Eu sempre faço isso. Às vezes
visito lugares pelos quais nem tenho tanto interesse, mas é porque não suporto
a sensação de ter deixado alguma coisa “pendente” pra trás. Melhor me
arrepender de ter ido do que de não ter ido. É como se eu tivesse a obrigação
de ter de ir ali, já que sou turista.
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Mirante do Belvedere e ruínas do que seria a Igreja de São Francisco, obra inacabada. |
Penso que ainda preciso voltar,
porque há ainda muito o que se conhecer em Curitiba. Minha meta da terceira visita
é fazer o tão elogiado – e caro – passeio de trem à cidade de Morretes. Não ir
a determinado lugar, para mim, é como deixar de fazer o dever de casa. Deve ser
um tipo de TOC de peregrino.
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Com Gisele e Nalu jantando no Café Mafalda, perto do Teatro Guaíra. |
Passado o domingo, aí, sim,
comecei a me sentir mais pertencente ao lugar. De segunda a sexta foi meu curso
na Oito Tempos. Que bom que o membro do Couchsurfing John me hospedou.
Conversar com ele foi uma aula de Inglês e Geografia. Essas amizades que faço
com pessoas a princípio desconhecidas são a melhor parte da filosofia
Couchsurfing, que vários amigos meus pouco compreendem e que minha mãe, então,
acha absurda. Lá pela quarta-feira, depois de três dias tendo a mesma rotina –
acordando cedo, saindo da mesma casa, indo pra mesma escola, indo almoçar no
mesmo bairro, pegando os mesmos ônibus – a sensação de ser turista desaparecia
um pouco e a familiaridade já me dava a impressão de estar morando ali. Mas aí
eu via uma lojinha vendendo ímãs de geladeira ou chaveiros com imagens da Ópera de Arame ou dos ônibus biarticulados
grandões e o comportamento de “turista japonês” vinha à tona. Aí eu saía à
noite para alguma casa de forró como a Sociedade Treze de Maio e os curitibanos se misturavam com os forasteiros e eu não
sabia de mais nada.
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Flagra: Duas tartarugas namoram no zoológico do Passeio Público. |
Meu amigo Ian cooorre dos pontos
turísticos. Eu não corro, mas confesso que há um tipo de turismo bem mais
interessante, quando não existem planos rigorosos sobre o que se vai visitar ou
conhecer, quando o nosso olhar está bem mais atento às sutilezas do lugar e à
vida cotidiana daqueles que ali habitam em vez de mirarem uma estátua grande de
não sei quem no meio de uma praça.
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Flagra 2: Crianças pensando em como recuperar a bola que caiu no lago do Parque São Lourenço. |