"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine." I Coríntios, 13:1.
![]() |
Homenagens a Senhora Aparecida - Morro do Farol |
O Rio Grande do Sul também pode ser uma boa opção para uma praia. O meu último fim de semana de férias de janeiro deste ano foi em Torres, cidade litorânea que fica na divisa com Santa Catarina e não deixa nada a desejar mesmo para as praias nordestinas. Como eu ainda não conhecia as praias gaúchas tinha de ir logo enquanto ainda era verão porque depois o frio não daria trégua e seria impossível. Fiquei no Hotel São Paulo, conveniado a rede de albergues da juventude, onde dividi quarto com mais quatro argentinos. Do mesmo jeito que os mineiros vão a Guarapari-ES, os argentinos vão a Torres. Ao conversar com alguma pessoa na rua não estranhe se ela te responder em espanhol. “No hablo português”, mas conseguimos nos entender con ellos, é só fazer uma forcinha, assim como fazemos pra entender algumas coisas do jeito gaúcho de falar (o esforço é recíproco; eles também não me entendem, às vezes). Aqui, quando eles chamam alguém de gringo querem dizer que a pessoa é de descendência italiana. Quando te pedirem para pegar algum objeto não dirão “Pegue essa coisa aí pra mim”, mas “Me alcança essa coisa”. Galão de água é bombona d’água. Puto não é garoto de programa, mas gay. Ficar irritado não é ficar puto da vida, mas puto da cara. E se você tiver achado isso engraçado, você não rachou de rir; você se finou rindo ou deu altas gaitadas. Não é só mineiro que come o final das palavras. Gaúchos também, mas de maneira diferente. Professor vira profe (mas alguns alunos me chamam de "sor"), diretora vira dire, prostituta vira prosti, e meus amigos daqui são Lê, Nico, Lu, Cris, Ale, Tarci, Nati, Gi, Fê. Algumas pessoas chegaram ao cúmulo de me chamar de A. Até a TV do hotel onde fiquei em Torres tinha sua própria maneira de se comunicar, tipo um “sotaque visual”. Tinha a imagem invertida, como se a estivéssemos vendo por um espelho.
O tempo estava fechado no meu primeiro dia em Torres e a água, congelante (isso no fim de janeiro, hein). Andei pela Praia Grande, onde estão as torres (ou morros) que servem de inspiração para o nome da cidade. Do Morro do Farol (no alto esquerdo da foto abaixo), as pessoas saltam de paraglider; do Morro da Guarita (onde estou na foto), observa-se a vista e pode descer até perto do mar, por várias escadarias bem íngremes. Mas não tome banho ali, pois as ondas vão com muita força contra as pedras.
![]() |
Ao fundo, Morro do Farol. Em primeiro plano, Morro da Guarita |
![]() |
A tal guarita |
Siga caminhando pelo Morro da Guarita e você chegará à Praia da Guarita, onde está o principal cartão postal da cidade:
![]() |
Praia da Guarita |
No segundo dia, o sol brilhou o tempo inteiro. Saí sem minha câmera para aproveitar melhor a praia sem me preocupar em vigiar nada. O contraste do sol super quente e água gelada era uma delícia. Não era um gelado de bater queixo, mas um gelado refrescante. Fiquei na praia o dia inteiro, e nem procurei os passeios de barco oferecidos na cidade. Em um deles, você sai do Rio Mampituba, passa pela Praia Grande até chegar à Praia da Guarita e para perto de uma ilha onde moram alguns lobos e leões-marinhos. Paga-se algo em torno de R$30,00, por um passeio de uma hora e meia. Se for de junho a outubro, pode ter a sorte de ver alguma baleia distante a 100m da praia. Se cansar da água salgada, ande de pedalinho ou caiaque na Lagoa do Violão. Para os saltos de paraglider, R$80,00. Se quiser que alguma agência te leve aos cânions de Cambará do Sul (falarei sobre eles mais adiante), pague entre R$100,00 a R$120,00. Caro? Então pasme com o preço da água de côco – R$5,00, podendo chegar a R$6,00.
![]() |
Rio Mampituba. Aqui, Rio Grande do Sul; lá, Santa Catarina |
A vida inteira eu achava que Fernando de Noronha tivesse as maiores ondas brasileiras, mas uma plaquinha em Torres anunciava que ali estava a maior onda do Brasil. Pensei: “Truco! Seis, ladrão”, mas achei melhor não discutir. De norte a sul do Brasil, toda cidade quer ser a maior em alguma coisa.
Mas um passeio mais divertido do que a praia foi uma ida ao supermercado com cinco argentinos que me deram tereré (chimarrão gelado) e ficavam comparando o preço dos produtos brasileiros com os produtos argentinos. Faziam mentalmente a conversão de reais para pesos e, como a nossa moeda vale mais que a deles, queriam morrer quando se davam conta de quanto iriam gastar ali. Identifiquei-me com a situação de imediato porque era assim mesmo que eu fazia e me sentia quando visitei os Estados Unidos em 2008. Pratiquei bastante meu espanhol (mais pra portunhol) de três meses de curso básico. Conversamos sobre viagens, coisas que Brasil e Argentina têm em comum (Chiquititas), e do quanto as meninas gostavam de O Clone e das novelas de Manoel Carlos. Fora alguns falsos cognatos que apareciam de vez em quando em nossa conversa, não foi difícil entendê-los. Eu sabia que assistir novela mexicana com som original pelo youtube ajudaria a minha compreensão do espanhol.
![]() |
Emília, eu, Lisa, Elisa, Laurea e Hernan |
Despedi-me e voltei para Caxias, para minha rotina de Bom dia, Boa tarde, Boa noite, tudo em português mesmo.