quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Louca Paixão

“Loucos perigosos são produto da ignorância médica. O que existem não são loucos perigosos, são lúcidos perigosos.”
                                                                                                                                 Dr. Lopes Rodrigues.

Museu da Loucura - Barbacena - MG

Quando eu era pequeno, lá em Barbacena... Quer dizer, quando eu era um pouco mais jovem, e ia a Barbacena (a 178 km de Belo Horizonte) com mais frequência porque meu pai morava lá, eu não via muita opção de coisa pra se fazer naquela cidade de gente doida. Desculpe falar assim, é que os barbacenenses já estão com esse estigma, pois não faz muito tempo que o hospício de lá deixou de receber internos, dentre os quais esteve o jogador de futebol Heleno de Freitas, do Botafogo. Parte do Circuito da Estrada Real, podemos chamá-la também de Cidade das Rosas, mas esse lado da cidade eu não conheço, então fica pra outro texto. Quando retornei lá em setembro último, convidei minha família a conhecer o famoso Museu da Loucura, entrada gratuita, localizado anexo ao hospital.
Ex-pacientes do Centro Hospitalar Psiquiátrico.
Ao ver as fotos acima, não sei se você sentiu pena, ou uma mistura de várias coisas, assim como eu. Mas veja o que um texto que estava ao lado das fotos diz: “Antes que você torça o nariz e sinta náuseas diante das faces grotescas e corpos arruinados pelos hospícios e pela vida, saiba que pelo avesso elas falam de beleza, saúde, alegria, bem-estar e esperança. Compare-se a estas pessoas (sim, são pessoas, membros da nossa espécia – homo sapiens – gerados em ventres humanos) e descubra que a SUA ocasional infelicidade é insignificante, que sua ligeira depressão é frescura, que suas rugas são lindas e que o mundo chato em que você vive é o paraíso. Estes infelizes existem para lembrá-lo que sua felicidade é mais real do que você imagina. Sinta-se igual a eles. Você é apenas o outro lado da moeda...” - Edson Brandão, artista barbacenense.
Ex-pacientes que fugiram do Centro Hospitalar Psiquiátrico.
No espaço também há uma galeria com exposições de artesanatos feitos pelos usuários do hospital. Além de laboreterapia (terapia do trabalho) e choque elétrico, os pacientes também eram tratados com choque térmico – mergulhavam-se as pessoas nos lagos de baixa temperatura durante o inverno. O clima foi um fator importante ao se escolher Barbacena para sediar um Hospital Psiquiátrico. Acreditava-se que o frio ajudava a acalmar as pessoas, mas o curioso é que muitos tinham o costume de ficar sem roupa, como mostram as fotos lá expostas, mas eu não colocarei as fotos aqui. Se tivesse alguma da Nana Gouveia, eu até poria.
Museu Georges Bernanos.
Um pouco menos legal (mas também de graça, o que é mais importante) do que o Museu da Loucura é o Museu Georges Bernanos e o Museu Municipal. Georges Bernanos foi um escritor parisiense que viveu seus últimos dias em Barbacena (só podia ser maluco). No Museu Municipal, como era de se esperar, estão objetos e textos sobre a história da cidade, que também foi palco de vários bafões da Inconfidência Mineira – um dos braços esquartejados de Tiradentes ficou exposto em Barbacena.
À noite, nos divertimos no Pirilus Boliche.
Pra conhecer um pouco a redondeza e a quadradeza, minha irmã Lorena e minha cu Poliana (esse é meu jeito carinhoso de me referir à minha cunhada) pegamos um ôns (esse é o jeito mineiro de se referir aos ônibus) para Antônio Carlos, a 17 km de Barbacena. Ao chegar lá, caminhamos por uma estrada de terra até conseguirmos carona de Kombi até as proximidades da cachoeira que visitaríamos, perto do Instituto Missionário São Miguel, antigo Seminário menor, que hoje funciona como pousada para encontros religiosos.
Esperávamos alguma coisa melhor do que isso.
Falando do museu de novo, com uma hora dá pra ver todo ele, e seu acervo consegue nos deixar sensibilizado. Me lembrei do seguinte comentário de Ron Howard, a respeito de Uma Mente Brilhante, filme que ele dirigiu: “Achei que um dos objetivos de fazer o filme era descartar a ideia de que, quando você vê alguém parado em uma esquina conversando sozinho, não está conversando sozinho. Eles estão ativamente engajados em algo que é real para eles e talvez até assustador”.

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