segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Era Preciso Voltar

“A vida não espera. A vida passa. Nunca peça pra que as coisas aconteçam como você quer. Mas procure querer as coisas como elas acontecem, pois, assim, elas vão ficar como você tanto desejou.” 
Fábio Jr, no último capítulo da novela Antônio Alves Taxista.
Com minha amiga argentina Carla, em meu último dia em Buenos Aires.
Quando conheci BUA em 2012, decidi que eu tinha de voltar. Além de revisitar o Caminito, Cemitério da Recoleta, Teatro Colón, lugares dos quais já falei em outros textos, durante essas minhas últimas idas lá, conheci lugares fora do circuito turístico principal, mas tão interessantes quanto os falados até agora.
Deu pra perceber o quanto eu gostava de pancho?

A maioria dos pontos turísticos de BUA, quando são pagos, têm tarifas diferentes para turista estrangeiro e turista argentino. Algumas chegam a ser o dobro do preço. Mas, quando se tem um hermano ou hermana com você, dá pra dar um jeitinho. Quando visitei o Museu do Holocausto, cujo preço do ingresso não me lembro, fiquei de bico fechado na fila do caixa para que ninguém percebesse meu sotaque e deixei que minha amiga argentina comprasse os bilhetes, para conseguir um preço mais baixo.
Pra variar um pouco, uma panqueque de dulce de leche, na Estação San Isidro.
Quando fizemos um passeio de trem até a cidade de Tigre, as tarifas eram $20,00 (vinte pesos argentinos) para turistas estrangeiros e $10,00 para turistas argentinos. Fiz o mudo de novo e deixei que minha amiga Alejandra comprasse pra mim. Dentro do trem, quando a fiscal passava, também tratei de calar a boca. Chama-se Trem da Costa, que inicia seu itinerário em Vicente Lopes, lugar bem afastado do centro da cidade. Vai desde a Estação Maipu (que não tem nada a ver com aquela Rua Maipu no Centro) até a estação Delta, na cidade de Tigre. Num trajeto de 16 km às margens do Rio de La Plata, é permitido parar nos lugares mais pitorescos da zona norte de BUA, com parques, igrejas, feiras de artesanato e antiquários. Antes de chegar à estação Tigre, que tinha também parque de diversões e cassino, podemos parar em todas as estações, mas só umas três são interessantes: da Anchorena tem se a vista do Rio La Plata, que nem é tão bonito, é de uma água marrom bem feia; a estação San Isidro é a mais bonita, com várias lojas e uma feirinha de artesanatos e Igreja; e a estação Tigre. Ao longo das mais de dez paradas que o trem faz, podemos parar em todas sem precisar comprar outro bilhete ao reembarcar. Depois de descer, a gente sabe que o próximo trem virá em trinta minutos e, assim, podemos continuar o passeio. Esse tempo é o suficiente para conhecer um pouco de cada estação, cada uma com algo diferente a mostrar.


Uma das réplicas do Museu Naval.
Por $8,00 (pesos argentinos), conheça o Museu Naval, às bordas do rio Tigre. Andar por aquela margem tomando um sorvete de doce de leite...


Tava achando que era em tamanho real, né?
O Rio de La Plata também pode ser visto a partir da Reserva Ecológica Costanera Sur, no lado leste de Puerto Madero, tendo-se a opção de três trilhas para caminhar. Não são trilhas estreitas, são como estradas de terra por onde passam ciclitas, corredores, esportistas. Em um determinado trecho, vê-se o rio. A reserva não abre às segundas-feiras e tem entrada gratuita.
E Palermo também possui vários parques e bosques.
Se, assim como eu, você tem algum amigo lá, explore ele mais um pouquinho e peça antecipadamente pra ele te conseguir um comprovante de residência dizendo que você mora em BUA, pra poder usufruir do sistema de transporte público em bicicletas. São mais de 60 pontos de coleta espalhados pela cidade, de graça. De graça também são os pontos turísticos de que falarei a seguir.
Tipo o Museo Nacional Ferroviário, no bairro Retiro,
com sua linda exposição de... privadas(!?).
A Casa Rosada pode ser visitada todos os sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Os grupos entram a cada dez minutos e a visita dura uma hora. Como eu fui em alta temporada, peguei uma senha e esperei cerca de meia hora pra entrar, observando a foto de Getúlio Vargas na parede. A visita é meio corrida. Não dá muito tempo de observar detalhes e tirar foto com cuidado.
E eles ainda ficam te vigiando o tempo todo.
O salão principal, onde trabalha Cristina Kirchner, não pode ser fotografado. No meio da visita, dei o perdido na guia e na turma e entrei por corredores que não pareciam abertos a visitação – mas também não estavam fechados e não havia nada dizendo que era proibido entrar por ali. Fotografei as salas como se eu fosse José Anselmo dos Santos (espião brasileiro), mas não encontrei nada de mais e nem fui descoberto, perseguido, interrogado e torturado.
E pensar que me arrisquei pra ver só isso...
Na parte de trás da casa, há ainda o Museu do Bicentenário, funcionando das 11h às 18h, de terça a domingo. É um mergulho na história argentina, que você também pode ter no Congresso Nacional. Para as visitas guiadas gratuitas neste, você precisa ligar 4127-7100 ramal 3680 e pedir informações. Espero que você aprenda mais do que eu, que, em vez de fazer registro fotográfico histórico, ficou tietando uma estrela da televisão brasileira que, coincidentemente, fazia a mesma visita.
Com Thaís de Campos na biblioteca do Congresso Nacional.

Embora se esteja outro país, a Argentina não é um lugar onde os brasileiros têm grandes problemas de comunicação, devido à semelhança entre espanhol e português. A gente encontra até atrizes globais nos pontos turísticos.

É na Plaza de las Naciones Unidas (foto acima), onde está a famosa flor de metal. Ela se abre ao nascer do sol e fecha quando ele se põe. Só que não. Está estragada faz tempo. Ali do lado, estão o Museo da La Televisión PublicaO Palais de Glace, ou Palácio Nacional das Artes, e o Museo de Bellas Artes, que não pode ser fotografado. Isso tudo no mesmo bairro, Recoleta, o mesmo do famoso cemitério (veja texto de abril de 2013).
Já o Museu Metropolitano fica em Palermo.
San Telmo também tem praças lindas, onde podemos encontrar a famosa Mafalda, dos quadrinhos.
A excitação que eu tinha toda vez que eu voltava a Buenos Aires durante os meses de cruzeiro acabou me deixando encantado demais e um descuido besta fez com que eu perdesse meu trabalho no Costa Fascinosa e o respeito conquistado perante alguns membros da tripulação. Ao chegar ao porto depois dos meus passeios, estranhei a falta de movimento de taxistas e de turistas e vi todos os portões fechados. Avistei um funcionário, acenei pra ele, que veio até mim dizendo que o barco já tinha ido e que realmente tinham dado falta de uma pessoa a bordo.

O erro foi meu, que fiquei condicionado a ver o navio zarpar sempre às 20h, afinal tinha sido assim das últimas oito vezes. Então, eu não prestei atenção ao jornal de bordo, que nos informava que era preciso voltar às 17h daquela vez.
O que é que eu faço? O que é que eu faço?
(!) Daí me lembrei de que, no dia seguinte, o Fascinosa chegaria a Punta Del Este (texto de junho), então era só ir atrás dele. Ir de ônibus seria mais caro e bem mais longe do que de balsa da Buquebus, que atravessava o Rio de La Plata até Colônia e, de lá, íamos de ônibus até Montevidéu. Custou $266,00 pesos argentinos, ou seja, uns R$90,00. Da capital uruguaia até Punta Ballena, $183,00 pesos uruguaios, ou seja, uns R$20,00. Dei uma paradinha na Casa Pueblo para escrever o texto publicado em maio, e segui pra Punta, que fica só a 18 km de lá. Recuperei o navio, mas a direção disse que a minha falha foi considerada grave e que eu deveria entrar, pegar mais coisas, e ficar por ali mesmo. Desci em Punta, fiquei duas horas numa lan house pensando no que faria da vida. Seria até mais poético e plasticamente bonito pensar na vida enquanto se caminha pela praia, de pés descalços, deixando a água me molhar ocasionalmente, tipo nas novelas, mas eu já tinha vivido uma história encantada por tempo suficiente a bordo e agora não adiantava fazer melodrama, por mais que estivesse vivendo um. A minha bagagem me pesava as costas, então era melhor pensar numa solução sentado. Cogitei dormir uma noite em Punta, mas já tinha gastado muito dinheiro. Fui pra rodoviária. Ainda bem que eu tinha dólares, porque meu cartão não passou na rodoviária e eles não aceitavam reais. Paguei 103 dólares numa passagem até Porto Alegre, viajei das 23h às 9h num ônibus bem confortável, com lanchinho e refrigerante, desci na rodoviária de Porto e peguei um ônibus para Caxias do Sul, cidade da qual eu tinha me despedido três meses antes e onde fui muito bem Re-recebido.
E onde eu aprendi a escrever uma história diferente da planejada.