terça-feira, 1 de agosto de 2023

Verão Vermelho

"Falo português quando estou feliz".

Silvia, rainha da Suécia.

 

Viajar da Finlândia para a Suécia de navio foi bem divertido, mesmo que tenha durado apenas 15 horas. Quando estou num país diferente, nunca encaro o deslocamento como algo cansativo. Pegar ônibus ou trem na cidade onde moro, sim, é bastante chato. Mas, fora de casa, tudo é tão diferente, que fico sempre olhando a paisagem e não o livro ou o celular. E, em navio, o deslocamento é ainda mais divertido. No navio que peguei, pra ir de um país pro outro, havia dois ambientes com música ao vivo e crianças dançando bastante. Centro de informações, cassino e restaurantes (pagos à parte). Pena que a viagem durou apenas uma noite, porque eu já comecei a sentir saudade de ficar navegando por aí.

Palácio de Drottningholm, onde mora a família real.

Dormi, e, de manhã, fui pro convés pra assistir a chegada do navio a Estocolmo, mas o frio impediu. O vento era muito gelado, mesmo sendo verão (é que estamos falando de verão nórdico). Assisti através do vidro mesmo e, duas horas antes de chegarmos à Suécia, a paisagem já era espetacular, por conta da grande quantidade de ilhas. Estocolmo está entre o Mar Báltico e o Lago Mälarem, então fazem parte do seu território várias ilhas, algumas pequenas, outras ainda menores, unidas por 53 pontes.

Troca da guarda no Palácio de Drottningholm. Acontece todo dia.

Do porto, chamei Uber usando o Wifi do próprio porto. Como minha hospedagem ficava a 7km de  lá, o funcionário disse que essa seria a melhor escolha mesmo. No fim do dia fui passear pela parte histórica (Gamla Stan e arredores). Fiquei mais afastado do centro pra pagar menos na hospedagem, então tive de pegar ônibus e trem, com o bilhete de 72 horas, válido também para metrôs e balsas. O metrô também pode ser algo a se conhecer, já que várias estações são temáticas. Então, se for inverno e você sentir que está impossível andar na rua, vai dar umas voltinhas de metrô que está tudo resolvido. Percebi que todos os semáforos fazem barulho, pra ajudar os cegos. Como eu saí de Estocolmo de ônibus em direção a Oslo, usei esse primeiro dia pra estudar a rodoviária e ver como eram os guarda volumes e de onde exatamente o ônibus sairia.

A rua mais estreita do país.

Depois de passar a manhã do segundo dia explorando o centro histórico por minha conta, achei que pegar um free walking tour seria uma boa pra conhecer a história por trás daquelas paredes. Meu guia Juan é um chileno que deu o passeio todo em espanhol e contou muitas fofocas da família real sueca, tipo o da princesa que se apaixonou pelo seu instrutor da academia e se casou com ele (pensa num cara de sorte); e a história talvez mais chocante da história sueca, que foi o banho de sangue em que muitas pessoas foram executadas em praça pública, num massacre que durou dias. Terminamos diante do Banco nacional mais antigo do mundo, que fica em frente a uma estátua de um senhor que olha pro alto, usando óculos escuros. Há muitas estátuas divertidas assim pela cidade. E lá eu tive a minha primeira aula de sueco. Após o passeio, enquanto eu divagava pelo lugar, duas pessoas de uma agência de propaganda me abordaram, pedindo pra me filmar lendo os dizeres de um cartaz em língua sueca. A ideia da campanha é filmar turistas falando sueco, pra que a campanha tenha muitos sotaques e mostre como Estocolmo é diversa. O resultado você vê no instagram deles, aqui: https://www.instagram.com/p/BzhwtKHhX8p/?igshid=1go3pnpdbzmzo.

Bem perto dali está a rua mais estreita da Suécia, que tem 90cm de largura e uma escada de 36 degraus. Terminei o dia assistindo a um concerto de órgão numa igreja católica ali do centro. Não me lembro o nome, mas tinha algo a ver com a Alemanha:


 



O número de tijolos ao redor das janelas do
prédio vermelho indica quantas pessoas
foram executadas no banho de sangue.

Não satisfeito com as histórias sanguinolentas daquele passeio, peguei outro bem do tipo “espreme, que sai sangue”, mas em inglês. O nome do tour era “Passeio Sinistro”, justamente por dar mais informações detalhadas sobre execuções – quem matava e que técnicas eram usadas; e também histórias de sequestro e desaparecimentos e por que Estocolmo já teve uma taxa de infanticídio muito alta. Resumindo este último tópico, pense na convenção social de que era um escândalo para uma mulher ser mãe solteira. Algumas dessas moças se escondiam até que a criança nascesse e pagava alguém para achar uma família adotiva. Só que muitas dessas pessoas encarregadas de achar uma nova família pro bebê não cuidavam dele direito, a ponto de o mesmo falecer, ou, pior, assassinava o recém nascido e ficava com o dinheiro.

Meu guia no outro dia foi Martin, da Argentina, falando também em espanhol, mostrando uma Estocolmo um pouco mais moderna – seus arranha-céus; marcas suecas famosas mundo afora como H&M e Ikea;  a história do famoso sequestro de banco em que os sequestradores e reféns acabaram se tornando amigos chegando até a ser padrinho de casamento um do outro. Foi desse caso que se originou a expressão “síndrome de Estocolmo”, que, ao contrário das outras histórias ouvidas naquele dia, teve um final feliz.

 

Outro passeio guiado gratuito que altamente recomendo você fazer é o do parlamento. Em julho de 2019, ele acontecia de segunda a sexta, quatro horários por dia e era só ficar na fila e esperar que nos deixassem entrar. O número de pessoas era limitado a 28, então era bom chegar uma meia hora antes pra garantir. A melhor parte: diferente dos free walking tours, nesse não precisamos dar gorjeta ao final. Dura uma hora e, logicamente, precisa passar por um esquema de segurança que te revista inteiro. Nesse passeio, o guia fala sobre o esquema de votação que existe na mesa de cada deputado; locais de discurso e rotina dos parlamentares; etc. Embora existam as figuras de rei e rainha, estes servem apenas para representar a Suécia pelo mundo afora, mas sem poder de tomar decisões. Suas eleições também acontecem a cada quatro anos, em setembro. Atualmente o número de deputadas é quase metade do número de deputados. Detalhe: a rainha é brasileira e se chama Silvia.

Teto de uma das salas do parlamento.
Um dos salões do Parlamento.

 

Algumas das minhas tardes suecas foram preenchidas por um festival folclórico que acontecia numa praça e nem mesmo a chuva me afastou de lá em um dos dias, porque havia comida de graça! Coisas simples, como pipoca, chá e bolo, mas poder economizar com comida na Suécia é como economizar R$50,00 por refeição porque é um lugar realmente caro. No prédio do prêmio Nobel também consegui ver um miniconcerto de jazz de graça. Há ainda outros lugares altamente recomendados de se conhecer em Estocolmo, como o Museu ABBA, pois os quatro integrantes da banda eram de Estocolmo; e o Museu Viking, que tem o famoso barco Vasa, mas ambas eram atrações muito caras.

"Anybody could be that guy".

Gamla Stan tem várias de suas curiosidades. É bom sempre olhar bem por onde anda, porque você pode passar pela escultura do "Menino de ferro que olha pra lua" (Iron boy), de Liss Eriksson e que mede 15cm. Outra coisa que reparei é que nas estátuas de nu masculino, o pênis é retratado maior do que normalmente se vê.




O menor monumento da cidade.
Te desafio a encontrá-lo.


Preços de julho de 2019, quando 10 coroas suecas= 1 euro = quase 5 reais. Logo, pra achar quanto foi pago em reais, considere metade do número em SEK:

Navio Viking Line de Helsinki a Estocolmo – 113EUR – 15 horas de viagem. Detalhe: ninguém pediu pra ver meu passaporte, nem na saída da Finlândia, nem na chegada à Suécia. A cabine interna tem só uma tomada e banheiro com chuveiro, sabonete, mas sem secador de cabelo. Viajar na cabine é mais caro, logicamente, e mais confortável se você estiver de malas, porque quem não tem cabine fica sempre carregando a mala consigo pra onde quer que vá. E não existe uma poltrona especial pra quem viaja sem cabine. Cada um fica onde der – numa mesa de restaurante, num sofá do bar, numa poltrona perto da janela... Ah! Eles chamam de ferry.

Sauna no navio – R$50,00 por 1h30min (lógico que não usei).

Prato a base de almôndegas, purê de
batatas e lingonberry – 160SEK

Uber do porto de Estocolmo à hospedagem – 100 ou 120SEK

Concerto de órgão na Igreja – 7EUR

Bilhete de transporte de 72 horas – maiores de 65 anos pagam metade.

Palácio de Drottningholm - 130SEK. Não entrei. Conheci só o jardim e assisti à troca de guarda, porque é grátis.

Parque de diversões – 120SEK. Não fui.

Prato de carne de alce – 130SEK

Sopa de peixe e frutos do mar no mercado em frente ao prédio do prêmio Nobel – 120SEK, mas podendo se servir à vontade de pão e salada.

Porção dobrada de sopa de carne, frango, macarrão, broto de feijão, num restaurante vietnamita – 200SEK e alguma coisa.

Caixa de 4kg despachada para o Brasil – 40USD

Trem Estocolmo-Oslo pela Flixbus – não me lembro. Estranhamente, o banheiro estava fedido, nem parecia país de primeiro mundo, mas a paisagem era linda demais. Até achei uma pena ter feito a viagem de noite, porque dava vontade de olhar tudo. O guarda volume da estação de Oslo é ruim, porque não tem como testar a mala na gaveta, pra ver se ela realmente cabe.

Dos 33 países que conheço, Suécia está no top 5 mais caros. Então, só se programe pra ficar muito tempo se você tiver um bom dinheiro.

Curiosidade: quase todas as casas do centro têm uma placa vermelha com um número. Não me lembro exatamente o que era, mas é uma informação de segurança, em caso de incêndio: