domingo, 1 de janeiro de 2023

Vidas cruzadas

Na nossa cultura, vermelho é a cor do amor; azul, da tranquilidade. Mas o significado das cores é algo muito relativo e varia de cultura pra cultura.

Represa de Ecaterimburgo (o banco é assim mesmo).

Vida de turista nem sempre é fácil, né? Pensando em facilitar a vida dos viajantes, o governo de Ecaterimburgo, quarta maior cidade russa, teve a excelente ideia de traçar uma linha vermelha e uma linha azul contínuas no chão das calçadas e das ruas. As linhas passam na frente do que se considera mais importante a ser visitado na cidade, ligando tudo num lindo trajeto. Eu achei ótimo, porque podia passear sem me preocupar com um mapa. Mas, se você estiver no inverno, não conte com isso, pois elas estarão cobertas de neve. A linha vermelha tem 6,5km e é ela que você seguir. Já sobre a linha azul, eu não me lembro dela e nem o mapa turístico a menciona, mas ela está lá, cruzando a vermelha às vezes. Uma curiosidade é que Ecaterimburgo está na fronteira entre Europa e Ásia, mas o monumento que marca isso está a 17km da cidade (não visitei).

Monastério Alexander Nevsky.

Ecaterimburgo não foi uma cidade que me chamou muito a atenção, num todo. Mas as sensações que tive dentro das igrejas católicas ortodoxas foram de uma paz muito única. Minha favorita foi a Igreja do Sangue em Honra de Todos os Santos. Vi-a e fui entrando, já que eu estava apenas seguindo a linha colorida do chão da calçada. Havia uma missa e a maneira de os ortodoxos conduzirem a celebração me deixou bem tocado. Não sou mais católico, mas senti uma calma muito grande ao ouvir o coro, olhar pras imagens e pra arquitetura do salão e ver como os fieis se comportavam. Ficam todos em pé, a missa é praticamente toda cantada, o padre fica de costas pras pessoas e de frente pro altar e, em vários momentos, o povo se curva e faz o sinal da cruz (algumas regiões do Brasil também chamam de “em nome do pai”). Fiquei quase uma hora ali. Não se pode usar câmera no interior das igrejas, por isso, não tenho registro.

Interior da igreja do Monastério Alexander Nevsky. 


Igreja do Sangue em Honra
de Todos os Santos.

O templo também tem um passado sangrento, como o próprio nome já sugere. Sem saber da história russa, talvez a pessoa pense que o tal sangue derramado do nome do templo seja o de Jesus Cristo, mas não. É o sangue de uma família inteira, os Romanov. Não vou tentar bancar o historiador aqui e te contar a história deles, mas resumo que foram todos metralhados enquanto posavam para uma suposta fotografia. A igreja foi construída no local onde aconteceu a chacina do casal e seus cinco filhos. O fato é muito importante pra história russa e conhece-lo é fundamental pra se entender um pouco acerca da era soviética.

Fazendo amigos na Rua Vaynera.

Vaynera é uma rua bem famosa, enfeitada com estátuas de pessoas famosas como Michael Jackson junto a estátuas que retratam o próprio povo local, como alguém que vai fazer compras, ou um grupo de amigos reunidos e conversando. É o principal calçadão, mas não muito comprido. Uma das pontas dessa rua dá perto do mosteiro (ou convento) Alexander Nevskiy, que encanta pelo visual (fotos no início do texto). Nesse caso, meus olhos brilharam por uma das portas, que me parecia extremamente pesada, ao mesmo tempo que  tinha toda a delicadeza na forma com que a madeira estava talhada.

Um pouco mais de caminhada e descobri um templo judeu, já num visual totalmente mais moderno, contrastando bem com o que eu tinha visto até então. Depois de encontrar o shopping Greenwich, acabei passando o resto do meu dia nele, coisa que eu devia ter deixado pra fazer no dia seguinte, já que a temperatura mudou pra 1º C e ficou meio chuvoso, isso em junho de 2019. Como meu segundo dia em Ecaterimburgo estava nessas condições, acabei voltando pra esse shopping e conhecendo outro, na mesma rua, que tinha várias estátuas em seu interior, e em todos os pisos. O tempo assim me desanimou a continuar explorando a cidade, ainda mais que as linhas no chão tinham deixado tudo tão fácil. Acabei entrando em museus e lojas pelos quais nem me interessei tanto, mas foi uma maneira de fugir do frio. Ainda bem, contando o mês inteiro que passei na Rússia, esse foi meu único dia a pegar temperatura tão baixa.

Sinagoga.

Pra quem não quiser caminhar na linha vermelha, o transporte público é o que recomendo. Mesmo tendo uma aparência velha, funciona bem e é também um jeito barato de observar a paisagem. Pros que gostam de arquitetura, é interessante ver como os prédios modernos e um dos maiores arranha céus do país se mesclam com as casas de madeira e construções da era soviética. Eu não conheci, mas li que o metrô de lá também é muito lindo e cada estação é decorada de acordo com o que seu nome sugere. Por exemplo, as paredes da Botanicheskaya sugerem formas que lembram uma colmeia de abelhas. Abaixo, a Igreja de Santa Catarina e o arranha-céu Vysotsky; e a Casa Sevastyanov, considerada a mais bonita da cidade.

 

Alguns preços, todos de junho de 2019, quando a regravação de "Brinquedo Assassino" estreou:

Museu da Cidade de Ekaterimburgo – 200RUB (R$13,00). Não aceitaram meu cartão de estudante. Disseram que precisava ser estudante da Rússia. Paguei mais 100RUB pelo áudio guia, mas não achei que teve grande ajuda. E o segundo piso era todo em russo.

Museu das Bonecas – 200RUB (achei sem graça)

Espetáculo na Ural Opera Ballet (Ópera “Evgeni”)– 300 RUB

Museu de arte sacra Nevyansk (fotos abaixo) – grátis.

Passagem de trem de Irkutsk a Ecaterimburgo – 10.296RUB / R$644,00 (cabine de 4 pessoas, 52 horas de viagem)

Passagem de trem de Ecaterimburgo a Kazan – 3.622RUB / R$227,00 (cabine de 4 pessoas, 13 horas de viagem)