terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Manancial

"(...) Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar... as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus."  trecho de Cidadezinha qualquer, de Carlos Drummond de Andrade.
No Sul de Minas, a natureza nos chamou em todos os sentidos
Ballet Jovem do Palácio das Artes de férias, Dener, Luciana e eu resolvemos que faríamos uma viagem juntos. Vale do Jequitinhonha ou Sul de Minas? Quem tirou a dúvida foi minha amiga de república e cambuquirense Gisele, que nos ofereceu a casa dela no Sul de Minas. “Cambu... o quê?” Cambuquirense, gente, é quem é nascido em Cambuquira, a 300 km ao sul de Belo Horizonte e com 13.000 habitantes. Embora não seja a cidade mais famosa do Circuito das Águas da Estrada Real, sua água é considerada uma das melhores do mundo. No Parque das Águas, no Centro, há fontes naturais de diferentes tipos de água gasosa. Cidade bem pacata, um carro ou outro circulando pela rua, mesmo na rua mais movimentada da cidade, onde ficam as agências bancárias. Foi nessa viagem que percebi a importância de se ter conta em mais de um banco, pois lá não havia Bradesco. Hoje já tem, além de Banco do Brasil também. Ainda bem que minha conta do Itaú tinha dinheiro. Bem, esse marasmo das cidadezinhas mineiras não era novidade pra mim, pois cresci na cidade de Mariana e seus distritos, diferente dos meus dois amigos belorizontinos. O Parque das Águas, principal atração turística (dá pra conhecê-lo todo em menos de duas horas, mesmo se você for um turista com o ritmo pacato de lá), com entrada a R$3,00, possui seis fontes de águas, todas com propriedades terapêuticas e sabores, sim, sabores, diferentes. Uma dica: já chegue à fonte bebendo a água direto. Se você cheirá-la primeiro, a sulfurosa, por exemplo, vai desanimar, pois terá certeza de que beberá água do Tietê. Algumas têm o gosto ruim, assim como o cheiro. Outras têm só o gosto ruim, o cheiro é de nada, mas todas têm propriedades de cura de alguma ziquizira. Quanto ao sabor, é só uma questão de educar o paladar. Eu já tinha experimentado a água gasosa e não tinha gostado. Quando cheguei à casa dos pais de Gisel e nossos anfitriões, o vereador Paulo (que não é o Paulo do Picolé) e sua esposa Anésia, pedi um copo de água e já fui de cara dizendo: “Mas me dê do filtro mesmo, pois dessa água mineral daqui eu não gosto”. Anésia respondeu: “Mas aqui a gente só tem essa”. Tive de tampar o nariz e beber aquilo o mais rápido possível. Dener e Luciana também sofreram nos primeiros dias, mas, no nosso quarto e último dia, bebíamos aquilo com a boca boa. So fim do primeiro dia lá, estávamos achando tudo normal, bem parado, até que o comportamento dos cambuquirenses no fim da tarde nos chamou a atenção. Os moradores da cidade formam uma fila na porta lateral do parque. Um vigia libera a entrada gratuita de pouco em pouco para que eles entrem e encham seus garrafões e todo tipo de recipiente com água do parque. Ou seja, a maioria dos moradores da cidade não bebe a água do filtro de barro que veio da torneira, mas a mais pura água mineral.
Cascata do Congonhal - Cambuquira
Dentro da cidade o que tem pra fazer é isso, talvez sentar em uma praça, visitar uma igreja, tomar um açaí, mas não precisa gastar mais de um dia inteiro em Cambuquira, mesmo se você quiser conhecer a Cascata do Congonhal, a 8 km do Centro, e estiver de carro. Se depender de ônibus, como nós, é bom ter mais de um dia, sim. Conhecemos também uma outra cascatinha, igualmente distante do Centro, mas na direção oposta. Os moradores te explicam a localização, e não é difícil conseguir carona lá. No acesso a seguir, veja o mapa de atrações de Cambuquira, bem como de outras cidades das quais falarei a seguir:
http://www.idasbrasil.com.br/idasbrasil/cidades/cambuquira/port/mapa.asp.
Folia de Santos Reis - Cambuquira
Uma de nossas noites na cidade só foi agitada porque era Dia de Santos Reis. À noite, as pessoas acompanham um cortejo de pessoas fantasiadas. Todos que quiserem podem se fantasiar. O cortejo para em um grande salão, onde há música ao vivo e janta de graça. Mas não pense que você economizará o dinheiro de uma refeição apenas. Nas noites anteriores a 6 de janeiro, há cortejos menores que param em algumas casas. Após os cânticos/orações, o dono da casa serve algo de comer a todos que estão ali acompanhando o trajeto, como um cachorro quente com refrigerante.
Parque das Águas - Caxambu
Estamos falando do Sul de Minas, então, mesmo sendo verão é bom você levar uma manguinha comprida, caso esfrie uma noite ou outra. Tendo Cambuquira como ponto de partida, nós visitamos as seguintes cidades, uma por dia: Lambari, a 30 km; Caxambu, a 50; e São Lourenço, a 80. Em Caxambu, começamos com uma volta de charrete por R$5,00 cada e conhecendo o centro da cidade. Era a primeira vez que Luciana andava de charrete. Demos uma olhada nos artesanatos, mas nada nos interessou. Entramos no parque e, também primeira vez, só que de todos nós, andamos no teleférico, R$10,00 por pessoa. Do alto do morro, aos pés do Cristo, uma vista de 360 graus da cidade.
O teleférico te leva...

... até o alto deste monte.
Essa é uma boa viagem pra se economizar com bebida, já que o parque tem uma dúzia de fontes de água mineral. Então não precisa comprar. Pode até levar um pacotinho de suco e colocar na garrafinha pra não precisar pagar refrigerante na hora do almoço. Mas se você está numa fase meio Carolina Ferraz “Eu sou riiicaaaa”, tome um banhozinho também no Balneário de Hidroterapia do interior do parque. Tem até sauna Finlandesa (sei lá como é isso, mas o nome é bem chique). Ligue (35) 3341-3266 para saber dos preços. Para um banho quente de graça, tem o seguinte: três vezes por dia, sem hora marcada, um gêiser no parque jorra uma água levemente aquecida. Os vovôs e as vovós é que gostam disso. Eu tomei um banho cercado por toda a geriatria turística que estava no parque. Pra tomar esse banho não precisa ficar acampado do lado do gêiser esperando um dos três momentos diários em que ele jorra, pois há um reservatório. Durante as erupções, parte da água fica armazenada, e essa água é liberada por um funcionário do parque quando há um número significativo de turistas querendo banhar-se.
Parque das Águas - São Lourenço
O Parque de São Lourenço tem sete fontes de águas minerais, mas é o que ocupa mais tempo de passeio dos três, um dia inteiro. Ele é dividido em Parque I e Parque II, que são ligados por um túnel subterrâneo. Assim como os parques de Caxambu e Cambuquira, ele também tem lago com pedalinho e barco, só que um lago muito maior, com a Ilha dos Amores no meio, onde se pode ter contato com várias aves da fauna brasileira. Dá também pra brincar no playground; rezar numa capela; pescar; tomar uma ducha e se estirar no sol; alugar uma bicicleta e rodar o parque todo. Tem também uns banhos mais cheios de frufru, no balneário de hidroterapia, e mais caros um tiquinho. Veja o poder das águas medicinais das cidades do Sul de Minas na matéria do Globo Repórter: http://www.saolourenco.org/.
Cachoeira do Roncador - Lambari
Em Lambari, não fomos ao parque, pois já tínhamos enjoado de fontes, e lagos e tudo o mais. Estávamos a fim de nos banhar, mas com mais contato com a natureza. Alugamos uma charrete, ao custo de R$15,00 pra cada um, que nos levou à Cachoeira do Roncador, a 9 km da cidade, sendo 6 km em estrada de terra. Valeu a pena porque o passeio foi longo e no meio do mato. Duro foi voltar quase todo o trajeto a pé. Em frente à cachoeira do Roncador está a Cachoeira João Gonçalves, dentro de uma propriedade particular. Havia uma placa anunciado uma taxa de R$5,00, mas a gente pulou a cerca, e deu uma entrada bem rapidinha, só pra tirar foto mesmo, nem precisava pagar (não na nossa opinião).