quarta-feira, 31 de julho de 2013

A Patota

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
 Fernando Sabino, escritor.
Uma de nossas zoadas em Punta del Este.

André, Letícia, Viviane, Marcelo, Tiago, Fabiane, Paulo, Fabrício, Karen, Rosângela, Patrícia, Ton, Rafael, Juliana, Caroline e eu éramos jovens (alguns nem tanto) que sonhavam em trabalhar num navio. Em 2013, alguns de nós podemos realizar esse sonho; outros, já o tinham realizado antes e estavam repetindo a experiência.
Brincando num playground em Porto Belo - SC.

Fomos a trabalho, só que não. É que nem parecia muito que estávamos trabalhando. A maioria de nós trabalha com dança; outros, se não trabalham, a têm como uma das coisas mais prazerosas da vida. Nossa função era dar uma hora de aula de dança de salão pela manhã (nem sempre); outra pela tarde (sempre); e animar as festas do navio das 21h30 às 2h, fosse dançando com os hóspedes ou fazendo passinhos à frente da banda para que eles nos copiassem (mais do que sempre). Embora às vezes levantássemos mortos de sono para a aula da manhã; ou que o sol durante a aula da tarde torrasse nosso lombo; ou que o pé, ombro ou costas já estivesse em carne viva pra aturar a maratona de quatro horas de dança com hóspedes na maioria das vezes descoordenados para fazer dois pra lá dois pra cá, havia uma imensidade de coisa que compensava tudo o que estávamos vivendo, a começar pela companhia que fazíamos uns aos outros e das simples, mas muito divertidas histórias que vivemos.
Nos alongando um pouquinho antes do trabalho.
Um dia, em Portobelo-SC, alguns de nós que estávamos na equipe de personal do Cruzeiro Tango & Milonga pagamos R$10,00 cada um por um passeio de barco que levava do porto até a ilha de Porto Belo. O guia parou o barco para que pudéssemos nadar até a parte de trás da ilha e voltássemos. Quase chegando, Marcelo começou a se afogar e começou a gritar desesperado por falta de resistência. Henrique tentou ajudar, mas não aguentou e começou a pedir por socorro também. Eu e não me lembro mais quem os puxamos até uma pedra na ponta da ilha enquanto outros voltaram até o barco e buscaram coletes para puxá-los de volta. Um bando de fiasquentos.
Henrique e Marcelo morreram na praia.
Numa outra ocasião, numa agência bancária no Rio de Janeiro, Fabiane sacou um dinheiro, mas, não sei como, uma nota de dez reais caiu em um buraco que havia no caixa automático. Espiando pelo buraco, conseguíamos ver a nota no chão, mas não era grande o suficiente para enfiarmos algum objeto e arrastá-la. Então, uma pessoa teve de enfiar um objeto fino numa fresta entre o chão e a máquina, enquanto outra espiava pelo buraco e dava as instruções a respeito de qual direção seguir para resgatar o dinheiro. No fim, conseguimos.
O resgate da arara.
Nós embarcávamos em condição de hóspede, mas estávamos ali para prestar um serviço à Costa Cruzeiros por intermédio da Cia Theo & Mônica. Recebíamos um cachê por esse trabalho, mas ficávamos em cabine de hóspede. Para o navio, não éramos funcionários. Só tínhamos acesso às áreas de hóspedes, e tínhamos quase todas as regalias que um hóspede tinha. Como acabava fazendo amizade com todos do navio, como alguns funcionários, então, alguns amigos e eu conseguimos assistir ao cinema 4D e a brincar no simulador de fórmula 1 de graça. Às vezes também conseguíamos alguma bebidinha grátis com algum garçom ou um pratinho de docinhos de algum coquetel, no fim da noite.
 
A gente vivia se sacaneando.

Intimidade é uma bosta.

No início, a gente se diverte com as coisas mais simples. Só de andar pelo navio e tirar algumas fotos, quer dizer, tirar muuuitas fotos, fotos de tudo quanto há, já era divertidíssimo. Depois de dois meses e meio a bordo, acumulei 8 cd’s de fotos, mais de três mil arquivos (imagens e vídeos), que, depois de ver e rever, acabei reduzindo a menos da metade. Acho melhor ter menos fotos pra ver, mas fotos realmente bonitas e interessantes, do que um monte de fotos repetitivas. Não é meu estilo captar fotos da minha cara arreganhada ao lado de pontos turísticos famosos. Prefiro tentar capturar detalhes das coisas e das pessoas, principalmente se forem espontâneas.
Como esta.

Espontâneas e sensuais.
Embora eu tenha mencionado muitos nomes no início, não estávamos todos embarcados ao mesmo tempo. Nossa equipe era de apenas sete pessoas, que se revezavam por determinado período. Não foi por muito tempo convivendo com cada um, mas foi um tempo suficiente pra me lembrar deles pra sempre.
Um dos melhores verões da minha vida.

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