segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Fera Radical

"Nunca releio o que escrevo. Prefiro viver em função do futuro."
Jorge Luiz Borges, escritor argentino.
A vida de turista é dura. É de matar um leão por dia.

Eu até hoje não sei de onde vem essa rixa que as pessoas tanto propagam que há entre argentinos e brasileiros. Alguns acham que é por causa do futebol, principalmente de jogos da Copa do Mundo em que as duas seleções se enfrentaram. Se for por isso, nós paramos no tempo quando propagamos a antipatia pelos argentinos. Eles adoram a gente. Por isso, quando eu estava lá, pensei: Quem sabe o mesmo não acontece em Portugal? Será que os portugueses também não têm uma grande admiração por nós e nós respondemos com piadinhas? Por falar em piadinhas, tenho uma ótima: Um cara trabalhava num zoológico tomando conta dos ursos. Mas depois ele resolveu largar essa profissão. Qual é o nome do filme?
Resposta: "O ex-ursista".
O que posso falar sobre a minha experiência de duas semanas na Argentina é que fui muito bem recebido por todos, principalmente, claro, por quem eu já conhecia, Carla Laurenti, amiga que fiz em Caxias do Sul. Também fiz amizades lá, conheci a francesa Isabelle nas aulas de dança aérea que fiz na escola da coreógrafa Brenda Angiel, e ela me convidou pra jantar uma deliciosa torta de atum na sua casa, com seu namorado Manuel (que não é português, é argentino). Quando for a sua primeira vez na Argentina, pode ir tranqüilo, os argentinos são bem amigáveis – exceto os taxistas; estes, sim, não valem o angu que comem. Famosos por espalharem notas falsas pela cidade, fui preparado e conferia cada nota que recebia de troco deles. Justamente no último táxi que peguei na cidade, não conferi o troco, pois já estava pegando confiança nessa raça ruim. Quando fui trocar os pesos argentinos por pesos uruguaios em Montevidéu, o atendente me devolveu a nota de $20,00 (vinte pesos) porque era falsa. Olhei bem, e tomei raiva de mim e do taxista. Mas achei melhor enxergar o lado bom, quer dizer, menos pior da coisa: pelo menos o prejuízo foi de R$10,00, não foi maior. A partir de agora, ao falar o preço de alguma coisa, falarei em pesos. Divida o valor pela metade para saber mais ou menos o quanto gastamos em reais. Na época dessa viagem, entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012, R$1,00 valia praticamente $2,00.
Na Argentina, acredite em QUASE todo mundo.
Da esquerda para a direita: Argentina, França, Brasil.

Como ia dizendo, quase todos os argentinos são muito gentis, assim como os animais do zoológico da cidade de Luján, a duas horas de ônibus de Buenos Aires. A entrada para turistas internacionais custa $100,00 (pesos argentinos), e a forma mais fácil de ir é de ônibus que sai da Plaza Italia a cada meia hora. A passagem custa $20,00 ida e volta e dá pra pagar em notas porque você compra no guichê da empresa Atlântida. Recomendo já comprar a volta de uma vez, do contrário você precisará ter $10,00 em moedas. Lembra do que eu disse na postagem do mês passado? Só é possível pagar a passagem dos ônibus de BUA depositando moedas na máquina coletora que fica atrás do motorista.
"Emagreça agora! Pergunte-me como!"
Muitas pessoas pensam que a razão de as feras do zoológico de Luján se permitirem tocar é que foram dopadas com arrobas e arrobas de Dramin. Um funcionário me explicou que desde que nascem eles são criados com cães, que os domesticam. Quando brincam de dar mordidinhas, por exemplo, a força de um leão é maior que a força de um cachorro. Então, quando um filhote de leão machuca um cachorro, este revida de uma forma que o ensina a não morder com essa força toda. E, como, desde o início, o cachorro é a referência de líder que eles têm, sempre obedecem.
Zoológico de Buenos Aires. Mais um pouco no video abaixo, de um gnu brincando com um pneu.

A cidade de BUA também tem um zoológico, dedicado não só aos animais, mas também à arte. Os monumentos e prédios do zoo chamam a atenção tanto quanto os bichos. $34,00 é o preço da entrada. Até urso polar tem. O bom é que não é só ver os animais e pronto. Tem passeio de barco, show de lobos marinhos, até opção de visita guiada noturna. Ao lado, por $8,00, você visita o Jardim Japonês. Do outro lado, o Jardim Botânico, gratuito. Em um dia, dá pra visitar esses três lugares, mais um ou outro museu que estiver ali perto.
Carmen e eu "causamos" no zoológico de Luján.
Praticamente toda a população argentina é admiradora (alguns até devotos) de Evita Perón. Mas, sinceramente, um item do Museu Evita me fez questionar o quanto existe de obras feitas por Evita e o quanto existe de lavagem cerebral. A foto abaixo foi tirada de um livro infantil usado nas escolas públicas.
"Ela foi toda amor e sacrifício para seu povo"
Como lido na postagem anterior, disse que saí de BUA de barco para Montevidéu. Ainda bem que reservei apenas um dia para visitar o Uruguai. Fiquei decepcionado com a capital. Quis visitar o Museu Egípcio e o Museu do Futebol, mas ambos estavam fechados. Só me restou o zoológico (sim, mais um), baratíssimo (menos de R$2,00), mas meio mal cuidado e sem graça. Um real vale aproximadamente nove pesos uruguaios. Mas, assim como na Argentina, não vá pensando que a desvalorização da moeda deles fará com que você compre tudo que vê na reta por uma pechincha. A inflação também é altíssima. Comprei um café por 39 pesos uruguaios, ou seja, uns R$5,00. Levei um susto quando saquei dinheiro no banco e o caixa cuspiu uma nota de 500. Há quanto tempo a gente não vê essas notas de valor alto no Brasil, que já chegou a ter até nota de 1.000.000...
Pra acabar, zoológico de Montevidéu
A narração dos meus dez dias em BUA termina aqui. Mesmo depois de tantos dias lá, gostaria de voltar, porque, nos últimos dias, já não me sentia tão turista. E eu penso que o ato de releitura, seja de um livro, uma cidade, ou uma novela, é uma oportunidade de perceber coisas que não percebemos num primeiro momento. O tempo nos deixa mais maduro, e, como consequência, muda nossa percepção. Uma segunda visita jamais é como a primeira. Discordo totalmente de Jorge Luiz Borges.