quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Bandeira 2

"Nunca a imaginação pode dizer: é só isso. Sempre há mais que isso”.
Gaston Bachelard, filósofo e poeta francês.

Loja de artesanatos no Caminito - Buenos Aires - Argentina
No primeiro texto que publiquei sobre Buenos Aires (BUA), em janeiro de 2012, eu ajudei a aumentar a má fama que têm os taxistas da cidade. Contei sobre o prejuízo de dez pesos argentinos (o que não é lá grande coisa) que tive ao pegar um táxi. Eu tinha pressa para pegar a balsa para Montevidéu e não conferi as notas quando o taxista me deu o troco da corrida. Descobri o golpe na casa de câmbio, ao tentar trocar o dinheiro por pesos uruguaios. Mas isso foi no ano passado. 
Pra tirar uma foto com o Maradona, precisa comprar alguma coisa na loja.
Dessa última vez, quer dizer, dessas últimas oito vezes que estive em BUA no verão deste ano, fui acompanhado dos meus colegas de trabalho do Costa Fascinosa. É que, como fiquei trabalhando no navio por dois meses e meio, fui oito vezes à cidade, e ficava por lá dois dias em cada ida. De volta à capital federal argentina, fiquei com os dois pés atrás e de olho em cada mínimo movimento do taxista a cada vez que eu entrava num carro, mas não adiantou, dei bandeira pela segunda vez.
Quer comprar? Dá pra transformar num táxi.
Descobrimos uma outra falcatrua, que não chega a ser um golpe descarado. Na verdade, o freguês é que acaba sendo um pouco culpado por pensar que está levando vantagem. Das vezes em que meus amigos e eu fomos ao Caminito e a Porto Madero tendo como ponto de partida o porto dos navios de cruzeiro, os taxistas combinaram conosco o valor da corrida antes de entrarmos no coche. Como conseguíamos encher um carro, e cada real valia três pesos argentinos (isso no mercado negro), a gente acabava achando barato o valor proposto por eles e íamos, bem faceiros.
Parada pro lanche.
O Caminito fica no bairro La Boca, onde também está o estádio de futebol do time Boca Juniors, também chamado de La Bombonera. Um dia, voltando de lá, pegamos um taxista honesto (será?), que ligou o taxímetro e nos explicou que um motorista só combinaria o valor da corrida sabendo que daria um valor mais alto do que o do reloj, lógico, senão ele ficaria no prejuízo. Ao pagarmos por essa corrida, vimos que era verdade. O valor da ida, preço combinado antes, deu quase o dobro do valor da volta, com o taxímetro ligado. Nem acreditei que um lugar daquele pudesse ter originado uma novela com um cara tão honrado quanto “Antônio Alves Taxista”.
Crianças jogam futebol na frente do estádio Boca Juniors.
Mesmo com todos esses riscos, o táxi ainda continua sendo o modo mais vantajoso pra se andar em BUA, quando se tem pelo menos uma pessoa com quem dividir a conta. Como diria Angélica, “Vou de táxi, mas só com você”. É mais barato do que no Brasil e agiliza a vida do turista que quer ver a cidade inteira. Os ônibus são complicados, dessa vez eu nem tentei entender a lógica deles. Usei o metrô ($3,50 - pesos argentinos), que tem um aspecto sujo, ao mesmo tempo que é charmoso e tem sempre algum músico pra te distrair durante a viagem.


Além de bater perna de dia, queríamos aproveitar a noite, lógico. Éramos loucos, realmente. Terminávamos de trabalhar às 2h da manhã, trocávamos de roupa, tomávamos um táxi em busca de alguma balada. E o taxista ajudava a aumentar ainda mais a nossa pilha colocando o som alto e acendendo todo o aparato de luz interna, como se estivéssemos num club ambulante. O povo só falava da tal boate Amérika, que tinha entrada + bebida liberada por 100 pesos, o que era MUITO barato. Eu não fui. Conhecemos o La Bruja ($25,00 entrada) e a Kika ($50,00 entrada com direito a uma bebida), ambas no bairro Palermo. Nem parecia que estávamos em outro país. Tinha brasileiro por tudo quanto é canto e o DJ tocava muito Luan Santana, Michel Teló e coisas do gênero. Muito engraçado.

Alguns dos lugares de que falei aqui, na verdade, eu estava REconhecendo, pois já os tinha visitado no ano passado, mas, como meus amigos ainda não conheciam, era divertido ver a empolgação deles diante da novidade e era bom reparar em detalhes que eu não tinha visto na primeira vez. Tá, chega uma hora que cansa ver aquele povo batendo foto de umas coisas que você já viu uma dúzia de vezes, mas não me incomoda fazer um roteiro turístico de novo, porque acaba não sendo igual, nunca. Alguma coisa sempre está diferente – o lugar, a companhia, ou a gente mesmo.
Nosso time era o melhor.

O passeio ficou muito bem registrado.