terça-feira, 5 de abril de 2011

Sabor da Paixão

“Feliz o homem que come comida, que bebe bebida, e, por isso, tem alegria”
Fernando Pessoa

Museu do Vinho - Forqueta - Caxias do Sul

Ainda falando sobre os roteiros turísticos de Caxias do Sul, recomendo o Vale Trentino, com visitação a vinícolas, degustação de sucos e vinhos (leia-se: oportunidade de encher a cara de graça) e museus. No ano passado, quando visitei o Museu do Vinho, já pude degustar vários tipos de vinhos – só os suaves; vinho seco, nessa época, pra mim, só descia misturado com Coca-cola – e chopp-vinho, bem diferente dos que já tinha tomado em Minas – no daqui do sul sente-se mais gosto de vinho do que de cerveja. Sentindo-me mais leve e relaxado, segui para a vinícola da família Silvestri, negócio que a família tem há três gerações. Numa conversa bem agradável, o atual dono me contou sobre os processos pelos quais a uva passa. A colheita dura pouquíssimos meses; então, eles trabalham intensamente durante certa época do ano para colher e beneficiar a uva e acelerar a produção o máximo possível, pois aquela safra vai trazer o sustento durante todos os meses em que as parreiras não produzem. Porém isso não significa que eles entram de férias, mas usam o tempo para engarrafar, rotular, cuidar das parreiras, etc. O atual dono estudou Enologia (ciência de estudo de todos os aspectos relativos ao vinho) em Bento Gonçalves, na única faculdade que oferece essa graduação no Brasil.

Igreja de São Bento - Bento Gonçalves
Já neste ano, continuei o meu passeio do vinho por Bento Gonçalves, mas as chuvas de verão atrapalharam muito e o Museu do Imigrante estava fechado para reforma. Também não encontrei as igrejas de Cristo Rei e São Bento abertas. Essa última tem um formato bem interessante, é um barril de vinho. Mas o mais legal estava aberto, que eram as vinícolas. Dali segui para a cidade de Garibaldi, fazer o mesmo tipo de turismo. Não pense você que eu só penso em bebedeira, pois não sou desse tipo. Eu não fiz nada além da vontade do Senhor. Em Eclesiates 3:13 está escrito: “É um dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar os frutos de seu trabalho.”

Vinícola Peterlongo - Garibaldi
A melhor forma de se conhecer as vinícolas de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi é de carro, porque muitas delas estão na zona rural, à beira da estrada. Mas em Bento e Garibaldi é possível visitar algumas a pé, as que estão na parte urbana das cidades. Em Caxias não há vinícolas no Centro, mas há ônibus do serviço de transporte público que levam até os distritos onde estão algumas delas. Como eu não tenho carro ainda, essa foi a minha forma de visitar esses lugares. No caso de ir de uma cidade para outra, você não gastará nem R$10,00 porque a distância entre elas é pequena. Na vinícola Aurora, em Bento, a entrada é gratuita. Um guia nos explica todo o processo, desde a colheita até o engarrafamento. Em seguida degustamos alguns produtos e somos convidados a conhecer a loja. Essa é praticamente a mesma rotina de todas as vinícolas. Envolver o visitante afetivamente para aumentar as chances de ele gastar dinheiro ali. E foi ali que eu descobri uma coisa nova. Os grandes barris onde se armazenam o vinho são limpos a cada seis ou dez meses, freqüência que varia de vinícola para vinícola, porque nas paredes dos barris acumula-se uma “borra” de bitartarato de potássio. Ela é retirada e usada na fabricação de fermento de pão, talco, sabonete, creme dental, entre outras coisas. Já na Epopeia Italiana a entrada é R$15,00, mas um ator com sotaque italiano de novela da Globo nos conta a história da imigração italiana para o sul, enquanto caminhamos por vários cenários, italianos e brasileiros, e assistimos a vídeos sobre o mesmo tema. Ao fim, degustamos vinhos, sucos e biscoitos, e conhecemos um acervo de objetos antigos. 
Em Garibaldi, com pouca caminhada você consegue conhecer três vinícolas num só dia e não pagar na Garibaldi nem na Chandon. Na Peterlongo são R$15,00 revertidos em consumação na loja. Essa última é toda metida porque produz o único espumante brasileiro que pode ser chamado de champanha e seu prédio é a maior construção de basalto da América Latina. E é a mais interessante, porque o passeio dentro da vinícola passa por vários ambientes e dura uma hora (veja o vídeo acima).
Rua do Parreiral - Flores da Cunha

Embora Bento Gonçalves seja a maior produtora de uvas do Brasil, Flores da Cunha é a maior produtora de vinhos. Meu sábado de Carnaval deste ano eu passei lá, na Festa da Vindima. Para se chegar ao pavilhão da festa, é só seguir o parreiral que está no meio da rua, e já no caminho ir fazendo um lanchinho. Com R$5,00 de entrada, experimentei uvas de todas as qualidades e fiz um curso básico de degustação de vinhos, que me ajudou a perder o preconceito com relação aos vinhos baratos. Para degustar é só usar todos os sentidos, com exceção da audição, logicamente. O professor disse que já viu garrafas de vinho que custam R$500.000,00, mas que a maior parte desse valor a pessoa paga apenas pelo nome da marca. (A mesma opinião eu tenho sobre quem usa roupas da Lacoste ou Dolce Gabana). O curso também educou meu paladar para os vinhos secos, que, até então, eu detestava. Depois disso, ainda visitei os estandes de vários produtores de derivados da uva, que lá estavam para mostrar seus produtos – e eu estava lá para comê-los – como a saborosa geleia de mirtilo (blueberry).
Curso de degustação em Flores da Cunha

Bonecos de legumes e frutas - Festa da Vindima em Flores da Cunha
E depois dessa overdose de uva, ainda fui assistir ao desfile de carros alegóricos (não eram de Carnaval, mas de uva). Durante o desfile, os figurantes distribuíam uvas, grapa (cachaça de uva, a grosso modo – bebida produzida a partir da destilação da semente e do bagaço da uva), biscoitos, mel, pipoca. Eu já estava pra lá de satisfeito, não agüentava ver uva na minha frente, mas empurrava tudo pra dentro assim mesmo.
Distribuição de uvas aos que assistem ao desfile de carros alegóricos
Se você quiser fazer um passeio desses, não precisa vir até o Rio Grande do Sul. Há diversas áreas vitivinícolas no Brasil: o Planalto Catarinense; o Vale do São Francisco, em Bahia e Pernambuco; e também em São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
“O vinho alegra o coração dos homens.” Salmo 105:15

AMÉM!

2 comentários:

  1. Oi Átila, bom ver seu gosto pelos museus! E legal tb saber que vc tem acompanhado o www.repensandomuseus.blogspot.com
    Quando for falar de Caxias do Sul novamente, não esqueça de visitar o Instituto Bruno Segalla - um museus simples mas interessante!
    Bjs e sucesso, Bel

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    1. oi, isabel! novidade: conheci o hermitage, em são petersburgo, acho q deve ser o museu dos sonhos de qualquer pessoa. mas ainda não escrevi sobre essa viagem. qualquer dia, haverá o relato aqui. bj.

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