sábado, 13 de agosto de 2011

Torre de Babel

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine." I Coríntios, 13:1.
Homenagens a Senhora Aparecida - Morro do Farol
O Rio Grande do Sul também pode ser uma boa opção para uma praia. O meu último fim de semana de férias de janeiro deste ano foi em Torres, cidade litorânea que fica na divisa com Santa Catarina e não deixa nada a desejar mesmo para as praias nordestinas. Como eu ainda não conhecia as praias gaúchas tinha de ir logo enquanto ainda era verão porque depois o frio não daria trégua e seria impossível. Fiquei no Hotel São Paulo, conveniado a rede de albergues da juventude, onde dividi quarto com mais quatro argentinos. Do mesmo jeito que os mineiros vão a Guarapari-ES, os argentinos vão a Torres. Ao conversar com alguma pessoa na rua não estranhe se ela te responder em espanhol. “No hablo português”, mas conseguimos nos entender con ellos, é só fazer uma forcinha, assim como fazemos pra entender algumas coisas do jeito gaúcho de falar (o esforço é recíproco; eles também não me entendem, às vezes). Aqui, quando eles chamam alguém de gringo querem dizer que a pessoa é de descendência italiana. Quando te pedirem para pegar algum objeto não dirão “Pegue essa coisa aí pra mim”, mas “Me alcança essa coisa”. Galão de água é bombona d’água. Puto não é garoto de programa, mas gay. Ficar irritado não é ficar puto da vida, mas puto da cara. E se você tiver achado isso engraçado, você não rachou de rir; você se finou rindo ou deu altas gaitadas. Não é só mineiro que come o final das palavras. Gaúchos também, mas de maneira diferente. Professor vira profe (mas alguns alunos me chamam de "sor"), diretora vira dire, prostituta vira prosti, e meus amigos daqui são Lê, Nico, Lu, Cris, Ale, Tarci, Nati, Gi, Fê. Algumas pessoas chegaram ao cúmulo de me chamar de A. Até a TV do hotel onde fiquei em Torres tinha sua própria maneira de se comunicar, tipo um “sotaque visual”. Tinha a imagem invertida, como se a estivéssemos vendo por um espelho.

O tempo estava fechado no meu primeiro dia em Torres e a água, congelante (isso no fim de janeiro, hein). Andei pela Praia Grande, onde estão as torres (ou morros) que servem de inspiração para o nome da cidade. Do Morro do Farol (no alto esquerdo da foto abaixo), as pessoas saltam de paraglider; do Morro da Guarita (onde estou na foto), observa-se a vista e pode descer até perto do mar, por várias escadarias bem íngremes. Mas não tome banho ali, pois as ondas vão com muita força contra as pedras.
Ao fundo, Morro do Farol. Em primeiro plano, Morro da Guarita
A tal guarita
Siga caminhando pelo Morro da Guarita e você chegará à Praia da Guarita, onde está o principal cartão postal da cidade:
Praia da Guarita
No segundo dia, o sol brilhou o tempo inteiro. Saí sem minha câmera para aproveitar melhor a praia sem me preocupar em vigiar nada. O contraste do sol super quente e água gelada era uma delícia. Não era um gelado de bater queixo, mas um gelado refrescante. Fiquei na praia o dia inteiro, e nem procurei os passeios de barco oferecidos na cidade. Em um deles, você sai do Rio Mampituba, passa pela Praia Grande até chegar à Praia da Guarita e para perto de uma ilha onde moram alguns lobos e leões-marinhos. Paga-se algo em torno de R$30,00, por um passeio de uma hora e meia. Se for de junho a outubro, pode ter a sorte de ver alguma baleia distante a 100m da praia. Se cansar da água salgada, ande de pedalinho ou caiaque na Lagoa do Violão. Para os saltos de paraglider, R$80,00. Se quiser que alguma agência te leve aos cânions de Cambará do Sul (falarei sobre eles mais adiante), pague entre R$100,00 a R$120,00. Caro? Então pasme com o preço da água de côco – R$5,00, podendo chegar a R$6,00.
Rio Mampituba. Aqui, Rio Grande do Sul; lá, Santa Catarina
A vida inteira eu achava que Fernando de Noronha tivesse as maiores ondas brasileiras, mas uma plaquinha em Torres anunciava que ali estava a maior onda do Brasil. Pensei: “Truco! Seis, ladrão”, mas achei melhor não discutir. De norte a sul do Brasil, toda cidade quer ser a maior em alguma coisa.
Mas um passeio mais divertido do que a praia foi uma ida ao supermercado com cinco argentinos que me deram tereré (chimarrão gelado) e ficavam comparando o preço dos produtos brasileiros com os produtos argentinos. Faziam mentalmente a conversão de reais para pesos e, como a nossa moeda vale mais que a deles, queriam morrer quando se davam conta de quanto iriam gastar ali. Identifiquei-me com a situação de imediato porque era assim mesmo que eu fazia e me sentia quando visitei os Estados Unidos em 2008. Pratiquei bastante meu espanhol (mais pra portunhol) de três meses de curso básico. Conversamos sobre viagens, coisas que Brasil e Argentina têm em comum (Chiquititas), e do quanto as meninas gostavam de O Clone e das novelas de Manoel Carlos. Fora alguns falsos cognatos que apareciam de vez em quando em nossa conversa, não foi difícil entendê-los. Eu sabia que assistir novela mexicana com som original pelo youtube ajudaria a minha compreensão do espanhol.
Emília, eu, Lisa, Elisa, Laurea e Hernan
Despedi-me e voltei para Caxias, para minha rotina de Bom dia, Boa tarde, Boa noite, tudo em português mesmo.