segunda-feira, 12 de março de 2012

O Fim do Mundo

"Grandes e admiráveis são tuas obras, ó Senhor".
Apocalipse, 15,3.
Os Maias estavam errados. O fim do mundo chegou em janeiro pra mim.
O Fim do Mundo pode chegar antes de dezembro de 2012 para você também. É só você pegar um avião até Buenos Aires e, de lá, um vôo da empresa LAN ou Aerolíneas Argentinas para Ushuaia (pronuncia-se ussuaia), cidade de uns 20.000 habitantes a 600 km do pólo sul, na Patagônia Argentina. Em qualquer época do ano que você for, vá muito bem agasalhado. Nem caia na burrice de pensar “Dezembro é verão. Estará frio, mas nem tanto”. Eu estive lá entre os dias 3 e 7 de janeiro de 2012 e até neve eu peguei. Na verdade, águanieve, como eles dizem, pois é um floco muito fino que, antes de chegar ao solo, já derreteu. Só não faz frio dentro das casas e comércios, pois todo lugar possui calefação. A temperatura média de Ushuaia no verão é de oito graus, mas o vento dá uma sensação térmica bem abaixo disso. Paradoxalmente, use sempre o filtro solar, pois o buraco da camada de ozônio está exatamente ali. Use-o mesmo de noite, porque no verão o sol se põe às 23h, horário local.
Taí a prova de que frio é psicológico
Chegue a Ushuaia já com alguns pesos argentinos, pois o aeroporto é mais simples do que o de BUA. Você pode seguir a dica que eu dei na postagem de janeiro de 2012: se, durante a sua escala em BUA, você desembarcar no aeroporto de Ezeiza, não vá a nenhuma casa de câmbio. As tarifas de troca mais favoráveis para nós estão no Banco de La Nación, que tem uma agência no aeroporto. Se sua grana acabar antes do previsto, é possível fazer saques em pesos argentinos de alguma agência bancária. Olhe se seu cartão de conta bancária possui um símbolo de três triângulos com a palavra Plus. Caso tenha, você conseguirá sacar de QUALQUER caixa eletrônico que tenha o mesmo símbolo, mesmo se for em uma agência diferente da sua. Quando eu estava em Buenos Aires, usei meu cartão de débito do Bradesco (que não era um cartão internacional), para fazer um saque num caixa do Itaú e outro num caixa do HSBC. É melhor sacar uma grande quantidade de uma vez, pois, por cada saque, é cobrado uma taxa de $17,00. Eu não fiz saques em Ushuaia, então não saberei te dizer sobre os Caxias eletrônicos de lá. Se você ainda não tem cartão internacional, o mais econômico é o Visa Travel Money. Digite isso no Google e veja como funciona. Só que, em Ushuaia, muitos lugares não aceitam cartão. Em alguns comércios, eles aceitam reais também, e costuma ser numa cotação mais favorável ainda pra gente. Por exemplo, em Ushuaia troquei meus reais numa casa de câmbio onde cada real valia $2,25 (pesos argentinos), mas também comprei cartões postais numa loja onde cada real valia $2,50.
Glaciar Martial em detalhe
O passeio mais legal que Carmen e eu fizemos em Ushuaia, na minha opinião, foi o Glaciar Martial, a 7km da cidade. De onde você estiver, pegue um táxi até lá. Poupe sua energia agora de início, pois há trilhas belíssimas para você fazer lá e táxi na argentina é um transporte muito barato, ainda mais se tiver alguém para dividir a corrida com você. É melhor deixar para caminhar na volta, pois o caminho de volta permite que você veja melhor a cidade, sem contar que você estará descendo e não subindo. Para ir ao Glaciar não é preciso pagar nada, mas vale a pena dar $50,00 para subir um pedacinho no teleférico e admirar ainda mais a vista. O paradoxo de um sol lindo e brilhante iluminando os montes com os cumes cobertos de neve é algo fantástico.
Tem certeza de que são pinguins?
O auge do frio foi o passeio de catamarã que nós fizemos no dia que chegamos. Esse foi também o auge do caro, $150,00 por pessoa. Comecei o passeio com uma jaqueta, logo depois coloquei outra, depois outra, depois mais uma calça, um cachecol, luvas e touca, até ficar quase imobilizado. Pelo menos a embarcação é coberto e a empresa nos deu um chá de brinde, porque, com o vento do canal de Beagle em um catamarã a não sei quantos quilômetros por hora, não dá pra ficar na parte de fora por mais de dois minutos. Só quando ele para, todos saímos e nos calamos para observar os pingüins, lobos marinhos, cormoranes (uma ave que todo mundo acha que é pingüim).
Só um cobertor de orelha pra espantar o frio.
Você pode até olhar a previsão do tempo antes de ir a Ushuaia ou de decidir qual ponto turístico visitar, mas esteja preparado para imprevistos, porque o clima lá pode mudar de uma hora pra outra. No nosso terceiro dia, pegamos vento, frio, calor, chuva e a tal da aguanieve. Tínhamos nos programado para visitar o Parque Nacional Tierra Del Fuego, mas ainda bem que percebemos que San Pedro tinha acordado de ovo virado naquele dia. Então ficamos na cidade, visitamos os museus e lojas, e tomamos o incrível sorvete de calafate, fruta típica da região. Dá pra rodar tudo a pé. E também estávamos preocupados com outra situação: a máquina de cartão do albergue tinha dado problema, então precisaríamos ter dinheiro para pagarmos a hospedagem, que se encerrava no dia seguinte. Um conselho que dou é que, quanto mais formas de gastar dinheiro você tiver, melhor para você mesmo, porque poderá aproveitar a viagem sem se preocupar.Ficamos no Cormoranes, conveniado à rede de albergues da juventude. Então, se você tiver a carteira de alberguista, tem desconto nas diárias, mas mesmo que não tenha poderá contar com a ajuda de Ana, Lina e Mônica, sempre bem dispostas em nos orientar. Também economizamos cozinhando nosso próprio jantar, sempre coisas práticas que comprávamos no supermercado. Esse também era um ótimo momento de confraternizar com pessoas do mundo todo.
Árvore da fruta calafate em detalhe.
No Museo Del Fin Del Mundo, a entrada custa $50,00 para estrangeiros, com direito a visitar também a Antiga Casa de Governo. O preço diferenciado para turistas nacionais e internacionais é uma prática comum na Argentina. Costuma haver também distinção de preço para turistas de países do Mercosul. E o investimento de uma visita a um museu é fundamental, na minha opinião, porque, quando conheço a história do lugar que visito, me sinto mais envolvido, naquele presente momento, tanto com o lugar quanto com as pessoas. O Museu do Presídio era o que eu mais queria conhecer, mas não deu, por falta de tempo. Há muitos anos, Ushuaia só servia de depósito para mal-feitores.
Último dia de férias, vista (quase) perfeita no Parque Nacional Tierra del Fuego.
Último dia, última parada: Parque Nacional Tierra Del Fuego. Para estrangeiros do Mercosul, a entrada é $60,00. Se você for bem fominha e quiser conhecer o parque todo, reserve pelo menos três dias. A principal atração do parque é El Tren Del Fin Del Mundo, que faz o mesmo caminho que os presos faziam há mais de 100 anos, mas, dois dias antes, encontramos um brasileiro (isso não é nenhuma surpresa; brasileiros são uma praga que se espalharam por Ushuaia assim como os castores) que nos disse uma coisa interessante: “O passeio de trem vale a pena se for inverno, porque a visão das montanhas cobertas de neve é bem bonito; mas, assim, no verão, lembra passeio de trem por Minas Gerais”. Que bom que ele nos disse isso, porque foi um ótimo argumento para não gastarmos mais $150,00 cada. As trilhas também têm imagens fascinantes e coelhos que podem cruzar o seu caminho rapidamente. Pode reservar um bom espaço no cartão de memória da sua câmera, principalmente se fizer a trilha de número dois, de 8km. Há trilhas de todos os níveis de dificuldade. Então tanto os sedentários quanto os que têm pique total podem aproveitar o lugar. A trilha número três não é mais bonita que a dois, mas nós a fizemos apenas por uma curiosidade: ela vai até a fronteira com o Chile. Então agora eu posso dizer que conheci dois países nessa viagem.
Agora, sim, clicando vistas perfeitas.


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