segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Se7e Pecados


"_ Por que, na Argentina, as vacas vivem olhando pro céu? _ Porque tem boi nos ares."
piada manjada, autor desconhecido
Buenos Aires, ótimo destino pra uma viagem em casal. Na foto, Puerto Madero.
Aproveitar as férias para praticar um pouquinho de espanhol fazendo imersão fora do Brasil. Só uma ilusão se você escolhe Buenos Aires pra isso. Se pede informação na rua, perceberá pelo sotaque de quem responde que a pessoa é brasileira tentando falar espanhol; se cumprimenta seu colega de quarto num albergue, perceberá pelo hola! respondido que ele também é tupiniquim; se entra numa loja e pergunta o preço de algo, corre o risco de o atendente notar que você é brasileiro e responder em português; se liga o rádio, pode estar tocando Ai, se eu te pego, de Michel Teló (ouvi oito vezes em quatro dias, fiz questão de contar). Quando eu escutava alguém falando espanhol, até estranhava. Às vezes nem parecia que eu estava fora do meu país, mas mesmo com tudo isso, posso garantir que imersão é a melhor maneira de se aprender uma língua, claro, quando já se tem uma base gramatical levemente sólida. Depois de onze dias em Buenos Aires, como não voltar com o Espanhol melhor? Tá, deixarei de ser cara-de-pau e repetirei a pergunta: “Como não voltar com o Portunhol melhor?”. Por causa da semelhança entre as duas línguas eu sempre ficava em dúvida se realmente estava falando português ou la lengua de los chicos. Mas deixa esse assunto pra lá, porque meu nome não é José Carlos Paes de Almeida Filho. Ainda bem que o Portunhol está aí, para unir pelés e maradonas, eternos amigos e rivais.
O Telmotango, assim como a maioria dos albergues, é localizado em prédio histórico.
Pra passar onze dias em Buenos Aires, começando no dia 30 de dezembro de 2011, já é bom começar economizando pelo que normalmente encarece qualquer viagem, que é a hospedagem, e, nesses casos, uma letra S faz toda diferença. Carmen e eu nem cogitamos ficar em hotel, então escolhemos o Hostel Telmotango, no bairro de San Telmo. Ficamos em quarto de casal com banheiro pelo preço de $240 (pesos argentinos), ou seja, R$120,00 por dia, R$60,00 pra cada um. Ótimo, pensando que estamos em alta temporada em um bairro cheio de atrativos e bem localizado em Buenos Aires (só meio sujinho). A partir de agora, ao falar o preço de alguma coisa, falarei em pesos. Divida o valor pela metade para saber mais ou menos o quanto gastamos em reais. Na época dessa viagem, entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012, R$1,00 valia praticamente $2,00. Ficar em albergue também permite com que o viajante economize com o jantar, já que o uso da cozinha é liberado e fica mais barato comprar a comida em supermercado e você mesmo prepará-la. Não foi o que fizemos nessa viagem, já que a cidade tem muito pra se fazer à noite, como comer no Café Tortoni, bar mais antigo de BUA, onde também acontecem shows de Tango. Se não for pra assistir ao espetáculo, não é bom ir no horário de pico, entre 19h e 21h, senão poderá ficar até uma hora na fila esperando uma mesa ser liberada, como foi o nosso caso. O passeio vale a pena não pelo preço, mas pela beleza do lugar e por saber que você está comendo no bar mais antigo da cidade, que foi frequentado por Carlos Gardel, argentino que imortalizou o tango.

Sendo atendido por Carlos Gardel no Café Tortoni.
Toda vez que pagávamos a conta de alguma coisa, pensávamos em reais, e não em peso, e percebíamos que, mesmo com a moeda desvalorizada, não podemos afirmar que BUA é um lugar barato. É um destino que vale a pena porque você vivenciará outra língua e estará no exterior, podendo esnobar pros amigos que saiu do país, fazendo todo mundo sentir inveja de você, por um preço mais baixo do que se tivesse ido pra outro lugar do Brasil. Pra comer, é sempre mais barato na rua, com os vendedores ambulantes. Um bom choripan, que vale por uma refeição, pode sair a $7,00; um Pancho, a $4,50. Pancho é como um cachorro quente sem graça, só tem a salsicha seca sem molho, e, de vez em quando, uma batata palha. Choripan é pão com vinagrete e chorizo, que não é o mesmo chouriço que conhecemos no Brasil; lá é uma linguiça normal. Não se preocupe em adquirir os pesos argentinos no Brasil. Caso você desembarque no aeroporto de Ezeiza, não vá a nenhuma casa de câmbio. As tarifas de troca mais favoráveis para nós estão no Banco de La Nación, que tem uma agência no aeroporto. Se sua grana acabar antes do previsto, também não há razão pra desespero, porque é possível fazer saques em pesos argentinos de várias agências bancárias. Há milhares de Itaú, HSBC e Santander em BUA. Olhe se seu cartão de conta bancária possui um símbolo de três triângulos com a palavra Plus. Caso tenha, você conseguirá sacar de QUALQUER caixa eletrônico que tenha o mesmo símbolo, mesmo se for em uma agência diferente da sua. Com meu cartão de débito do Bradesco (que não era um cartão internacional), eu consegui fazer um saque num caixa do Itaú e outro num caixa do HSBC. É melhor sacar uma grande quantidade de uma vez, pois, por cada saque, é cobrada uma taxa de $17,00. Os caixas eletrônicos funcionam 24 horas. Cartão de crédito também é uma opção segura, mas em BUA as pessoas usam mais dinheiro mesmo. Se você ainda não tem cartão internacional, o mais econômico é o Visa Travel Money. Digite isso no Google e veja como funciona. Mas o mais comum em BUA é você ter de pagar em dinheiro mesmo.

Marcelo, Érika, Carmen, eu, Nicole e Marcelo na virada do ano em Puerto Madero
No primeiro dia é sempre bom fazer um programa mais leve, para ir entrando no clima da cidade, respirando o novo ar, dando passos preguiçosos, ouvindo das pessoas os lugares imperdíveis de se visitar. Antes do Café Tortoni, fomos a Puerto Madero, onde é muito bonito de ver o sol se pôr, e onde voltamos para passar a virada do ano, ouvindo Ai, se eu te pego, acompanhados de duas grandes amizades que fizemos no albergue, Érica e Marcelo, de São Paulo, mais duas outras que eu já tinha, os gaúchos Marcelo e Nicole, que eu já conhecia de Caxias do Sul. Esse encontro foi combinado, mas não se assuste se encontrar ao acaso com algum amigo, como aconteceu comigo, que encontrei um ex-colega de república de Belo Horizonte, por coincidência, enquanto caminhava por Puerto Madero no início da tarde. Acredito que esse é o melhor lugar da cidade para se estar na virada de ano, pois há queima de fogos na beira do rio e música (Nossa, nossa, assim você me mata...) . Só sentimos falta de vendedores ambulantes vendendo cerveja de latão e de um banheiro. O segundo problema resolvemos fácil, entrando de penetra em uma festa fechada. Só não deu pra beliscar nada, porque uma garçonete reparou que não usávamos pulseirinha e veio falar com a gente, mas o fato de sermos estrangeiros e de “não” compreendermos a língua contou a nosso favor: fizemos uma cara de Luciana Gimenes (Como assim? Tô Confusa...) e saímos de fininho. Já o ambulante com a cerveja só foi aparecer lá pelas duas da manhã, depois de já termos comprado cerveja cara. Nessa hora também começou a esfriar um pouco. BUA é um forno no Centro, mas venta muito no porto, então, para a madrugada, é bom ter uma manguinha comprida. Em Puerto Madero há uma ponte chamada Puente de La Mujer, cuja forma foi pensada para lembrar um casal dançando tango. Se você não conseguir enxergar isso ao olhar para ponte de todos os ângulos possíveis, não fique se sentindo idiota (ou boludo, como eles dizem), porque nem mesmo os argentinos conseguem enxergar isso no monumento, eu mesmo perguntei a alguns.
Apresentação de dança nos restaurantes do Caminito.
Ir de um lugar para outro na capital argentina é bem fácil e qualquer meio de transporte que você escolha é mais barato do que no Brasil e tem outras vantagens também. Carmen e eu fomos a pé de San Telmo até o Boca, no nosso segundo dia. No caminho é claro que se encontra muita coisa interessante, um museu, uma praça, uma igreja, uma mercearia com frutas frescas. O lugar mais famoso do bairro para os turistas é o Caminito, com suas ruas de casas coloridas e restaurantes com bailarinos e cantores de Tango e outras músicas típicas. Fomos no dia 31 de dezembro, e às 16h todos começavam a fechar, não sei se porque era ano-novo ou se é assim normalmente. Por via das dúvidas, quando visitá-lo, vá no horário de almoço para pegar todos os bares e restaurantes abertos. Perto dali, está o estádio do Boca Juniores, que tem um museu anexo. A entrada custou $36,00 e deu pra ver tudo em meia-hora. Mas eu não gosto de futebol, então não gastei muito tempo. Se você gosta, talvez gaste umas duas horas lá. Uma placa entre a arquibancada e o gramado me deixou contente em saber que eu não era o único ali tentando me esforçar para falar a língua do país vizinho.
E viva o Portunhol!
O segundo meio de transporte que usamos é o táxi. Vale a pena quando se está de duas pessoas ou mais e tem pouco tempo ou preguiça. Quando Carmen, Érica, Marcelo e eu fomos aos outlets da Avenida Córdoba fazer compras, voltamos de táxi, atravessamos quatro bairros, de Palermo a San Telmo, por $10,00 para cada um. A Avenida Córdoba é um bom lugar para se fazer compras. Se quiser comprar camisas Lacoste, por exemplo, encontrará barato, se levar em consideração o preço da Lacoste no Brasil. Mas se levar em consideração que está pagando mais de $200,00 numa camisa, eu, pelo menos, acho bem caro e não pago de jeito nenhum. A única coisa que comprei na cidade foi um chaveirinho de $5,00. Se era pra dar uma de Carolina Ferraz (Eu sou riicaaaaa!), preferi deixar pra gastar num jantar/show de Tango. Nós quatro escolhemos a esquina Carlos Gardel, que custou $665,00 para cada, inclusos aí o transporte ida e volta, o jantar com entrada, prato principal e sobremesa, o espetáculo, e a bebida liberada. Fui por recomendação de uma amiga, mas não voltaria, mesmo se a comida também fosse liberada. Quando os pratos chegam, você até se assusta com o tamaninho da porção e tem certeza de que sairá dali com fome. Mas, acredite, a comida encheu até o meu estômago. Saímos satisfeitos.
Jantar na esquina Carlos Gardel.
No La Viruta, pague barato por uma aula de tango.
Carmen e eu vivenciamos melhor o Tango no La Viruta (lembre-se de que o V soa como B no espanhol argentino, então diga Labiruta). Na mesma noite, fizemos duas aulas de tango e uma de rock com ótimos professores, assistimos aos professores dançarem, e pudemos praticar o que vimos na aula no próprio salão do lugar, já que a pista é liberada após cada aula. Isso tudo por $30,00, uma opção 2000% mais barata do que a esquina Carlos Gardel. A comida e a bebida não estão inclusas na entrada, mas é barata também. Duas pessoas comem uma refeição de $43,00. Se você estiver totalmente duro, também dá pra aprender tango no meio da rua, grátis. A calçada estampada com o passo básico te dá vontade de chamar alguém na rua e começar o baile. Se uma dessas aulinhas de tango te renderem algo a mais para a noite e você não estiver preparado para tal acontecimento, não se preocupe: nos banheiros de quase todos os bares e cafeterias há máquina de preservativo que funciona com moedas, igual a essas máquinas de café ou refrigerante que a gente vê por aí.
Não sabe dançar tango? Seus problemas acabaram!
Saiu despreparado para uma noite mais caliente? Seus problemas acabaram!
Outro passeio caro que vale a pena é uma visita guiada ao Teatro Colón, mais soberano do que o Municipal de São Paulo, dizem. Por $110,00 você se intera da história dessa casa, que tem mais de três mil lugares, foi recém-restaurada totalmente, mas que não tinha nenhuma apresentação em janeiro. Mesmo depois que os feriados de fim de ano passam, muita coisa da cidade entra em férias, inclusive o que não deveria entrar, na minha opinião, como os museus. Os maiores, como o Nacional de Bellas Artes e o Malba, não. Mas eu dei com a cara na porta de vários outros, ou porque só abririam de tarde ou porque ficariam fechados durante o verão. Dá pra ficar puto da cara com isso. Não consegui visitar o Congresso Nacional, nem a Casa Rosada, que possui visitas guiadas todas as tardes (exceto no verão). Visitei apenas o Museu Anexo da Casa Rosada, gratuito. Passe uma tarde lá e entenda os últimos cem anos da história argentina. Visite também o Museu da Evita, $25,00, e fique chocado como eu fiquei quando descobri que o corpo dela foi roubado durante a ditadura argentina e ficou desaparecido por mais de 15 anos, até ser levado ao Cemitério da Recoleta, onde permanece. Faça uma visita guiada gratuita nesse cemitério e saiba da história toda. Você vai se surpreender mais do que se estivesse vendo Amor e Revolução.
O Teatro Colón está em restauração constante.
Mausoléu da Família Muniz no Cemitério da Recoleta
O metrô serve de transporte e também de atrativo turístico, pois alguns trens da linha A são bem antigos e em algumas estações há mosaicos nas paredes. É também uma oportunidade para pagar mico de turista, que não pode deixar de ter. No metrô de BUA, a liberação da entrada do passageiro não é como nos metrôs de São Paulo, por exemplo. Na capital argentina, você introduz o bilhete magnético na catraca e ele logo é expulso. Você deve retirar o bilhete para depois passar na roleta, do contrário ela não é liberada, mesmo que você fique se debatendo contra ela, como eu fiquei. Custa $2,50, ou de graça, se você tiver a sorte que eu tive um dia de a cancela estar aberta devido a uma manifestação dos funcionários do metrô, que não concordavam com o aumento da tarifa. Você vai reparar que os argentinos protestam por tudo, bem ao contrário dos brasileiros, que só se manifestam no facebook. Anos após o fim da ditadura, até hoje as mães e viúvas dos desaparecidos e mortos comparecem à Plaza de Mayo toda quinta-feira para se manifestarem. Compareça no fim da tarde e repare nas mulheres que usam lenço branco na cabeça. Aproveite que está na praça, e vá ao Museu do Cabildo e à Catedral Metropolitana, ambos grátis, mas o que mais me impressionou foram os detalhes no chão da catedral, que é todo de mosaicos.
Não é só nas novelas do SBT que as mães buscam seus filhos desaparecidos durante a ditadura.
Outro lugar super normal de turista pagar mico é no ônibus, pois o sistema é bem diferente do brasileiro. Não há trocador e só é possível pagar a passagem com moedas, que são depositadas numa máquina atrás do motorista. A máquina te devolve o troco, se houver, e imprime o bilhete, que custa $1,25, talvez $1,80, dependendo da linha. Mas dessa vez eu não dei vexame, porque já estava avisado disso. Ande também de balsa, só que aí você terá de sair da cidade, até do país. A Buquebus é uma empresa de transporte aquático para Colônia do Sacramento ou Montevidéu, ambas no Uruguai. Programe-se como se fosse viajar de avião: compre sua passagem pela internet e chegue uma hora antes para fazer check-in, despachar a bagagem e embarcar. Saí de BUA de noite, às 23h15, para economizar com um dia de hospedagem. Cheguei no Uruguai às 7h15, mas em BUA não tem horário de verão, e no Uruguai, sim. Logo, a viagem não levou oito horas, como você deve estar pensando, mas sete. O que demora mesmo é o processo de desembarque da balsa para pegar o ônibus, que é muito desorganizado. Assim como o meu Portunhol, que não tem constância de regras, nem termos.
BUA ficando pra trás. Rumo a Montevidéu, via fluvial.

Um comentário:

  1. Atila,
    Complementando...
    Hoje Cambuquira já tem um posto bancário e um caixa eletrônico do Bradesco que para não perder os clientes do banco postal abriu na cidade esse serviço. Por outro lado, a cidade também ganhou o Banco do Brasil, através do novo contrato com os Correios. Então temos várias opções que se somam ao Bancoob (credvar), Itaú e CEF.

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