quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Bicho do Mato

"Eu nunca nem acessei um blog. Sou um homem trabalhador e não consigo entender essas pessoas que chegam em casa e ainda escrevem num blog." Murilo Benício, ator.
Ora, Murilo, pra subir na vida. Levei isso ao pé-da-letra em Cambará do Sul.
Calmaria: assim é Cambará do Sul
Para esta viagem não planejei nada. Depois da viagem ao nordeste, em que meus amigos e eu não planejávamos muita coisa, fiquei acostumado a só fazer o roteiro de passeios quando chego às cidades, pois uma conversa com moradores e os mapas turísticos encontrados no local ajudam demais na escolha do que fazer. Só o que faço antes é olhar o site da prefeitura dessas cidades. Dessa forma eu já tenho ideia do que encontrar e evito surpresas desagradáveis. Por exemplo: em Cambará os únicos bancos são Sicred e Banrisul. Não há caixa 24 horas e praticamente nenhum estabelecimento aceita cartão. Há serviço do Bradesco, mas só pelos Correios, logo, só de segunda a sexta. Ainda bem que eu fui sabendo disso – era sábado – caso contrário não poderia ter dormido lá. A cidade é bem pequena, com menos de uma hora já deu pra percorrer todas as ruas a pé, tanto que olhei o preço de sete pousadas antes de me decidir e optei pela mais barata, a Pousada Santos, com diária de R$35,00 em baixa temporada, com café da manhã e quarto com banheiro e TV. Fica bem perto da Casa de informações turísticas. E pode reparar uma coisa: toda opção de hospedagem mostrada por sites de prefeituras é cara. Então eu prefiro procurar pouso depois que chego. Os principais atrativos de Cambará são os cânions e as cachoeiras. No meu primeiro dia, decidi ir logo ao mais longe, o cânion Fortaleza, cujas paredes têm até 900m de altura, entrada gratuita, a 22 km da cidade, em estrada de terra. Se você não estiver de carro, pode contratar o serviço de uma agência para te levar até lá e te trazer de volta por R$120,00. Se você quiser que um guia vá junto, desembolse R$180,00. “É porque a estrada é muuuito ruim”, eles justificam. Mas se você quiser economizar, faça como eu e levante o polegar na estrada. Quando estava na Casa do Turista, fui atendido por uma funcionária que é casada com um cara de uma dessas agências. Ela dizia que eu não tinha outra opção para chegar aos cânions e que seria difícil conseguir carona naquele dia porque o movimento estava fraco. Ainda bem que, ouvindo essa história, estava uma turista de Porto Alegre, Daiana, que tinha ido a outro cânion de carona no dia anterior. Juntei-me a ela e fomos para o Fortaleza a pé, pedindo carona a todos os veículos que passavam por nós. Primeiro foi um caminhão que nos levou por cinco quilômetros. Andamos mais seis quilômetros por aquela estrada pedregosa, sob um sol quente, amaldiçoando os carros que passavam por nós e nos ignoravam. “Quanto egoísmo”, dissemos quando um casal num carro preto passou por nós lentamente e com os vidros fechados. Como queríamos um ar condicionado naquela hora... Conseguimos outra carona, que nos deixou a nove quilômetros do cânion. Mal descemos do carro e já fomos resgatados por Eduardo e Elaine, um casal bem divertido que nos levou até lá, e, como eles eram veteranos por ali, nos guiaram por vários locais e ainda nos levaram de volta à cidade ao fim do passeio. Em dias abertos, é possível enxergar dele a praia de Torres (ver postagem de agosto). Visitá-lo no inverno é uma ótima opção, porque os ventos levam toda viração embora, só que aí você precisa encarar 8 graus negativos. Se achar melhor ir durante outra estação, vá pela manhã, porque, depois do meio-dia, o tempo começa a fechar e, aí, olha o que você vai ver lá de cima:
Ponto mais alto do cânion Fortaleza
Nem adianta olhar a previsão do tempo pra visitar um lugar desses porque o tempo é totalmente imprevisível. Pode fechar e abrir com a mesma rapidez com que Silvio Santos muda a programação do SBT de horário. Você dependerá de sorte também. E foi pensando nela que fomos pra outro ponto do cânion tentar ver alguma coisa e conseguimos. Pena que nas fotos não se reproduz a surpresa que tive na hora. Ao chegarmos a este local o tempo estava aberto. Daí, foi fechando. Eduardo me chamou para dizer que ele e a mulher iriam nadar, eu me virei para dizer que tudo bem, que depois nos encontrávamos e, quando me virei para a paisagem de novo, já era possível ver tudo claro. Foi uma mudança MUITO rápida. As três fotos abaixo foram tiradas em um intervalo de tempo de, no máximo, cinco minutos:
 
Esse lugar bonito e misterioso serviu de cenários para várias produções da Rede Globo. A casa das sete mulheres, Chocolate com pimenta, Esplendor e O Profeta tiveram o cânion Fortaleza como parte de suas locações. Dizem que o mirante do cânion Fortaleza é o ponto mais alto do Rio Grande do Sul, mas é mentira. O Pico do Monte Negro, em São José dos Ausentes, é o mais alto.
Eduardo, Elaine, Daina e eu
Para a noite, o programa mais badalado de Cambará é um jantar em algum restaurante. A cidade não tem agito, o que também é uma maravilha. Dormi cedo e, no domingo, antes das 8h, já estava mergulhando nas águas da Cachoeira do Tio França (entrada R$5,00), a 3 km da cidade. As águas são escuras e refrescantes; o poço tem 8m de profundidade, porém é um lugar tranqüilo. Mesmo assim eu não recomendo ninguém entrar em cachoeira se estiver sozinho. Sempre se ouve histórias de acidentes fatais ocorridos nelas. Eu fui porque sou doido. Como é um lugar perto da cidade, vá a pé para se distrair com as paisagens e os bichos que encontrará pelo caminho:
 

Depois do mergulho, dedão na estrada de novo, para conhecer o cânion Itaimbezinho, a 18 km da cidade, também em estrada de terra. Consegui uma carona de uns seis ou sete quilômetros, andei um pouquinho e um casal num carro preto parou, me levou até lá, e, enquanto conversávamos pelas trilhas do cânion, cujas paredes têm 720m de profundidade, descobri que eles eram o mesmo casal que, no dia anterior, tinha ignorado Daiana e eu na estrada. Mudei de opinião com relação a eles, Gustavo e Marina, e decidi que não eram mais egoístas. Até me levaram de volta à cidade também. O Itaimbezinho é um parque mais estruturado turisticamente. Há bebedouro, banheiro, e as trilhas por onde é proibido caminhar estão sinalizadas. No Fortaleza não vá esperando encontrar nada disso.  Justamente por ter essa estrutura deve-se pagar R$6,00 de entrada + estacionamento.
Meus motoristas Gustavo e Marina no Itaimbezinho
Hospitalidade do Ibama no cânion Itaimbezinho. Não ultrapasse as cercas das trilhas.
 
Cambará do Sul fica a não tem nem 7 mil habitantes, que vivem principalmente do turismo e da fabricação de celulose. Fica a 193km de Porto Alegre. A cidade mais próxima está a 70km (70 km... mais próxima...!), e é São Francisco de Paula, onde eu passei meu domingo de Carnaval neste ano.
Cascata da Mão Apelada, Parque das Cachoeiras,

Depois da minha tradicional ida à praça e à igreja matriz, coisa que faço em todas as cidades, fui ao Parque das Cachoeiras, conhecer adivinha o quê? A entrada custa R$8,00 e as trilhas são para todos os níveis de dificuldade, para desde os mais aventureiros até o pessoal da terceira idade. De cara, fui logo para a trilha mais difícil e mais longa, em direção à Cachoeira das Gêmeas Gigantes, mas depois de duas horas de caminhada sobe-desce, tendo de passar por dentro de rio, desisti quando cheguei à Cachoeira da Mão Apelada. Eu sempre prefiro fazer o mais difícil primeiro, porque depois, quando já se está cansado, as outras não parecem tão difícil assim. Não bastasse minhas pernas estarem bambas por causa da caminhada, bambearam mais ainda depois de uma cobra cruzar o meu caminho. Dei um grito de susto meio Tarzan meio Janet Leigh no chuveiro de Psicose e ela saiu ligeira mata adentro. Dois marmotas, um com medo do outro. Só que, no susto, eu nem percebi para onde a cobra foi, e fiquei plantado no mesmo lugar vários minutos pensando em que caminho seguir para sair dali. Corri alguns metros e fiz alguns trechos de trilha cantando alto para assustar quaisquer bichos que pudessem aparecer por ali. Na volta, passei por mais três cachoeiras, cujas fotos eu também não consegui colocar na posição correta.
Cascata O Quatrilho

Cascata dos Pilões

Cascata da Ravina
Um dia inteiro e eu só conheci metade do parque. É um lugar que é preciso dois dias, se quiser conhecer tudo. Há outros parques na cidade também, mas esse é o mais próximo do centro, a 4 km, então dá pra ir a pé. E como a lanchonete é só na portaria, é sempre importante ter consigo uma bolsa com comida, água, protetor solar. Para não pesar a mochila, eu gosto de levar comigo pedaços daquelas barras de chocolate de 1 kg, porque dão bastante energia e não ocupam espaço. E se você está de regime, esta é uma boa maneira de comer chocolate sem se sentir culpado depois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário